Eleição de Bolsonaro deu respaldo popular para ampliar porte de armas, diz AGU
Em parecer enviado ao STF no âmbito de ação que contesta decreto sobre porte de armas, AGU diz que legislação previa "restrições exacerbadas"
Por Agência O Globo |
Em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Advocacia-Geral da União (AGU) voltou a defender o decreto do presidente Jair Bolsonaro que ampliou o porte de armas. Um dos argumentos usados agora foi o de que a eleição do ano passado, que levou Bolsonaro ao poder, juntamente com o referendo de 2005 contrário à proibição do comércio de armas, mostra que há respaldo popular para a medida.
O decreto 5.123 de 2004, que regulamentava o Estatuto do Desarmamento, era muito mais restritivo. No começo do mês passado, Bolsonaro editou o decreto 9.785 , que revogou o de 2004 e ampliou a lista de pessoas com direito a ter o porte de armas . Partidos de oposição, como Rede, PSOL e PSB, questionaram a medida no STF . Depois disso, o próprio presidente editou novo decreto , que reduziu o alcance do anterior, mas ainda assim continuou ampliando o rol pessoas que podem carregar armamentos.
"A vontade popular manifestada tanto nas eleições presidenciais de 2018, como no referendo mencionado (de 2005) exigia, portanto, a superação da disciplina instituída pelo Decreto nº 5.123/2004, que, ao tratar das autorizações relativas à posse e ao porte de arma de fogo, contemplava restrições exacerbadas, especialmente para pessoas residentes em áreas de alto risco. Com o transcurso do tempo, esse decreto mostrou-se ineficaz e incompatível com os anseios da população brasileira", diz trecho do parecer.
Sobre o referendo de 14 anos atrás, a AGU argumento: "A esse respeito, saliente-se que, de acordo com o resultado do referendo realizado em 23 de outubro de 2005, mais de 63% (sessenta e três por cento) dos eleitores rejeitaram a proibição da comercialização de armas de fogo e munições em território nacional, o que demonstra que a maioria dos brasileiros é contrária à imposição de restrições excessivas à aquisição de tais materiais."
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A AGU voltou a listar alguns argumentos que já havia apresentado antes defendendo a extinção das ações no STF . Um deles é que Bolsonaro editou um segundo decreto alterando o primeiro. Assim, os pedidos iniciais da oposição não têm mais razão de ser, uma vez que questionam um texto já bastante modificado.
Os críticos de Bolsonaro reclamam que, ao liberar o porte para várias categorias profissionais, o presidente extrapolou os limites do que lhe é permitido fazer. Isso porque um decreto presidencial não pode ir além das balizas estabelecidas pela lei que instituiu o Estatuto do Desarmamento. Mas, na avaliação da AGU, Bolsonaro não ultrapassou esses limites.
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O parecer destaca ainda que as ações têm como pano de fundo o que está disposto no Estatuto do Desarmamento, e não na Constituição. Para que uma ação transcorra no STF, é preciso que princípios constitucionais estejam em jogo, o que não seria o caso.
O texto da AGU é assinado pelo ministro da pasta, André Mendonça, pela secretária-geral de Contencioso, Izabel Vinchon Nogueira de Andrade, e pela advogada da União Letícia de Campos Aspesi Santos.