População de Barão de Cocais vive tensão com rompimento iminente de barragem

Famílias foram removidas de suas casas e passaram por treinamento de emergência em função do risco de rompimento da barragem Sul Superior

Por risco de rompimento em barragem da Vale em Barão de Cocais, 500 pessoas foram evacuadas da cidade
Foto: Divulgação/Vale
Por risco de rompimento em barragem da Vale em Barão de Cocais, 500 pessoas foram evacuadas da cidade

A Vale elevou para o nível máximo o risco de rompimento da barragem de rejeitos Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, Minas Gerais. Segundo as previsões da mineradora, a Sul Superior poderia se romper entre os dias 19 e 25 de maio.

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Desde o rompimento da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano, diversas barragens em Minas Gerais estão passando por vistorias constantes. A Sul Superior de Barão de Cocais está entre as barragens que já foram desativadas, mas demonstrou movimentação em sua estrutura.

No dia 8 de fevereiro, moradores da cidade mineira já tiveram de deixar suas casas devido ao risco de rompimento. As comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras foram completamente evacuadas segundo determinação da Agência Nacional de Mineração. Na ocasião, o risco de rompimento da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco estava no nível 2.

No dia 22 de março, a mesma barragem já havia entrado em alerta máximo, com o nível de segurança indo de 2 para 3. Como em fevereiro, novamente as sirenes foram acionadas e os moradores tiveram que deixar suas casas.

Como prevenção, a Defesa Civil de Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros do estado realizaram um treinamento de saída de emergência para o caso de rompimento, que contou com a participação de cerca de 3,6 mil pessoas, o equivalente a 60% do público-alvo.

Os órgãos fizeram neste sábado (18) um novo treinamento, com o objetivo de instruir a população que não participou da primeira vez, já que a barragem entrou novamente em alerta máximo para risco de rompimento na última quinta-feira (16). No entanto, mesmo com o risco iminente, apenas 30% do público esperado compareceu .

Enquanto isso, a cidade vive assolada pela incerteza. O prefeito de Barão de Cocais, em Minas Gerais, Décio Geraldo dos Santos (PV), afirmou nesta sexta-feira (17) que a “cidade morreu”.

“O que estamos vivendo aqui é muito difícil. Temos 32 mil pessoas vivendo em situações de incerteza. A cidade morreu. A gente não consegue negociar um imóvel na cidade. A própria Vale , tem que dar uma ajuda. Porque, realmente, o que a gente está vivendo é muito pesado. As pessoas estão adoecendo no município, é estresse, tive pessoas que tentaram suicídio no município já”, afirmou Santos em entrevista ao jornal O Tempo .

Mesmo com a elevação do nível de alerta, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) avalia que o  risco envolvido no possível rompimento da estrutura pode ser maior do que o informado anteriormente pela mineradora. O MP recomendou à Vale que informe a população os verdadeiros riscos a que estão sujeitos.

Impacto na natureza

Além das perdas humanas e materiais, se se concretizar, o rompimento da barragem trará também enorme impacto ecológico. Assim como em Mariana, a lama de rejeitos deve atingir o Rio Doce, que já está contaminado desde a tragédia de 2015.

A população de Governador Valadares, cidade no oeste de Minas Gerais que fica às margens do Rio Doce, teme ficar sem água caso ele seja atingido. A prefeitura está se preparando para o problema e alguns moradores já começam a estocar água.

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O rio Piracicaba e outros córregos também devem ser afetados. Além disso, cerca de 383 hectares de Mata Atlântica podem ser destruídos pela enxurrada. Equipes de proteção à fauna, do Instituto Estadual de Florestas (IEF) avaliam o potencial impacto na biodiversidade da região de Barão de Cocais e arredores.