Ministro do STJ manda transferir travesti para cela especial ou feminina

Rogério Schietti diz que 'em nenhuma hipótese' ela pode ficar na ala masculina; decisão ainda deve ser votada na Sexta Turma do tribunal

Pedido da travesti havia sido negado duas vezes pela justiça gaúcha, mas foi revertida pelo ministro do STJ
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Pedido da travesti havia sido negado duas vezes pela justiça gaúcha, mas foi revertida pelo ministro do STJ

O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogério Schietti determinou nesta quarta-feira (13) a transferência de uma detenta travesti para a ala feminina de um presídio no Rio Grande do Sul, condizente com sua identidade de gênero. A decisão é inédita no tribunal superior.

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O pedido da travesti havia sido negado duas vezes pela justiça gaúcha, mas foi revertida pelo ministro do STJ após a defesa alegar tratar-se de “indivíduo extremamente vulnerável, o qual está sendo submetido, ao ser mantido junto ao alojamento masculino, a evidente violência psíquica, moral, física e, quiçá, sexual”.

“A paciente está submetida, por falta de espaço próprio, a permanecer no período noturno em alojamento ocupado por presos do sexo masculino, em ambiente, portanto, notória e absolutamente impróprio para quem se identifica e se comporta como transexual feminina”, concordou Schietti.

O ministro reconheceu não haver espaço específico para abrigar a presa, identificada como Dagmar , em ambiente compatível com sua identidade de gênero, mas ponderou ser preferível que ela seja colocada na ala feminina e “em nenhuma hipótese” na masculina, por ser ambiente “notória e absolutamente impróprio para quem se identifica e se comporta como transexual feminina”.

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Ele acrescentou serem evidentes os riscos aos quais a presa trans está exposta, “dada a característica ainda patriarcal e preconceituosa de boa parte de nossa sociedade, agravada pela promiscuidade que caracteriza ambientes carcerários masculinos”.

Rogério Schietti citou o recente voto do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), em que ele se manifestou a favor da criminalização do comportamento homofóbico.

O ministro do STJ também suscitou uma resolução conjunta, de 2014, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, segundo a qual devem ser oferecidos espaços de vivência específicos às travestis e aos gays privados de liberdade. A decisão ainda deve ser votada na 6ª Turma do tribunal.

No mês passado, o ministro Luís Roberto Barroso concedeu pedido semelhante feito por outras duas travesti , determinando que fossem transferidas para uma unidade prisional compatível com o gênero com o qual se identificam.