Intervenção no Rio gasta R$ 1,2 bilhão com poucos resultados, diz estudo

Observatório da Intervenção aponta que operações tiveram proporções grandiosas, mas números da segurança pública tiveram quedas tímidas

Intervenção federal aconteceu no Rio de Janeiro entre fevereiro e dezembro de 2018
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil - 27.2.18
Intervenção federal aconteceu no Rio de Janeiro entre fevereiro e dezembro de 2018

Relatório do Observatório da Intervenção mostra que R$ 1,2 bilhão foram aplicados nos dez meses de atuação dos agentes no Rio de Janeiro. Segundo o estudo, a intervenção federal pouco avançou no combate ao crime organizado.

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“Durante os dez meses que a gente acompanhou toda a intervenção federal , a gente teve olhar específico para operações que desde o começo se mostraram grandiosas com mais de mil, três mil, quatro mil homens, com resultados pouco expressivos”, disse à Agência Brasil o coordenador de Pesquisa do Observatório da Intervenção, Pablo Nunes.

O Observatório da Intervenção está vinculado ao Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/Ucam), e foi criado logo após o início da Intervenção Federal para acompanhar as ações das forças de segurança no Rio de Janeiro.

De acordo com Pablo Nunes, quanto maior for o número de operações e de agentes, maior será o total de tiroteios, mortes pela polícia e balas perdidas. “As escolas fecham, as pessoas não conseguem ir trabalhar, acaba a luz. Há transtornos que são violências cotidianas também causadas por esses confrontos e disparos.”

Segundo o relatório, os tiroteios e disparos de armas de fogo cresceram 56,6% durante a intervenção federal na segurança pública, contra diminuição de 8,2% na apreensão de armas longas.

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O monitoramento do Observatório destaca também o elevado nível de mortes de policiais, que subiu de 3, em fevereiro, para 5 em dezembro, com total de 99 entre o início e o fim da intervenção federal no Rio.

Além disso, apesar de a quantidade total de homicídios ter caído 8,2%, em comparação com o mesmo período de 2017, o relatório aponta que houve migração da criminalidade. Enquanto foram registradas reduções de 9,4% e 6,5% nas mortes violentas na capital e na Baixada Fluminense, respectivamente, no interior esse tipo de crime cresceu 15,8%.

A entrada de generais no comando da segurança pública do estado foi recebida com esperança por boa parte da população fluminense. A coordenadora do Observatório da Intervenção, Silvia Ramos advertiu, no entanto, que “o uso reiterado de tropas do Exército Brasileiro em crises de segurança produz o risco de desgastar a imagem das Forças Armadas ”. Para Silvia, o modelo militar intervencionista foi pouco efetivo diante de instituições policiais do estado que “necessitam de reformas estruturais, combate à corrupção e choque de eficiência em inteligência”.

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Nos dez meses da   intervenção federal na segurança pública no estado, o observatório do CESeC/UCAM monitorou o Diário Oficial, jornais impressos e na internet, perfis e páginas de redes sociais, bases de dados oficiais, como do Instituto de Segurança Pública (ISP).Neste período, foram coletadas informações pelas iniciativas parceiras DefeZap, FogoCruzado e Onde Tem Tiroteio (OTT-RJ), além de rede de ativistas de diferentes favelas da região metropolitana.