Trote de medicina em SP faz calouras jurarem nunca negar "tentativa de coito"

Após repercussão, a OAB enviou o material ao Ministério Público, que abriu inquérito sobre esse caso; a universidade envolvida também se manifestou

A Universidade de Franca (Unifran) afirmou em nota que vai punir os estudantes envolvidos no trote do curso de Medicina
Foto: Reprodução/Twitter
A Universidade de Franca (Unifran) afirmou em nota que vai punir os estudantes envolvidos no trote do curso de Medicina

Os alunos do curso de medicina da Universidade de Franca (Unifran), a 400 km de São Paulo, fizeram as calouras dizerem, por meio de um "juramento",  que nunca recusariam "tentativa de coito" e que iriam se submeter "a vontade dos veteranos". O Ministério Público instaurou um inquérito nessa terça-feira (5) para investigar o caso. 

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No vídeo que circula nas redes sociais, ajoelhadas, as calouras fazem um juramento no trote , repetindo frases lidas em voz alta por um veterano. "Juro solenemente nunca recusar tentativa de coito de um veterano". dizem as alunas. "Me reservo totalmente a vontade dos meus veteranos e prometo sempre atender aos seus desejos sexuais", gritam em outro trecho.


Em outro vídeo, os homens também tiveram que fazer um juramento, em que prometeram "usar, manipular e abusar de todas as dentistas e facefianas que tiverem oportunidade, sem nunca ligar no dia seguinte". 

Após a repercussão, a Comissão de Combate à Violência contra a Mulher da OAB encaminhou o material ao Ministério Público. O promotor Paulo César Correa Borges afirmou que convocará representantes da reitoria da Unifran para explicar quais medidas serão adotadas em relação ao caso e como a instituição tem aplicado a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.

A Unifran informou, em nota, que repudia quaisquer atos que incitem preconceito, homofobia, machismo, discriminação e constrangimento e afirmou que os estudantes estão sendo identificados e serão penalizados.

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A Atlética de Medicina da universidade também se manifestou a respeito do ocorrido. "Todos nós já estamos tomando providências sobre um assunto que realmente necessita atenção e atitudes imediatas. Junto ao grupo de apoio às mulheres e à comunidade LGBTQ+ do nosso curso, nos propomos a reformular o juramento feito durante o trote de forma que não venha ferir nenhuma pessoa em qualquer aspecto", diz o comunicado. 

Foto: Reprodução
Por meio de nota, a atlética da Unifran se manifestou sobre o polêmico trote promovido por alguns dos veteranos


O caso gerou revolta nas redes sociais e motivou protestos de grupos feministas e outros cursos da instituição. As associações atléticas de Direito, Arquitetura e Odontologia da Unifran também publicaram notas de repúdio ao ato.

Em nota, o Conselho da Condição Feminina de Franca afirmou que a “cultura machista” não pode ser considerada brincadeira e destacou que é inaceitável que um trote faça meninas dizerem coisas humilhantes e que sejam colocadas como objeto sexual. 

“Esse grupo de estudantes envergonha nossa cidade e, claramente, essa Universidade de tanto prestígio. Se aproveitam do fato de que jovens universitários, em momento de festa e descontração, se sujeitem a situações deploráveis como essa”, diz o documento. 

Em sua conta do Facebook, a aluna de medicina Elisa Anawate afirma que, em 2015, quando entrou na Unifran, as calouras também tiveram que fazer o mesmo juramento e que era "rabiscada todos os dias" com caneta pois não obedecia as ordens dos veteranos. 

Para ela, o que aconteceu este ano não é novidade e acontece em muitos outros cursos, mas "felizmente, a nossa sociedade vem evoluindo, expondo e criticando esse tipo de costume retrógrado". 

"O mais irônico é que não foi um vídeo que vazou de algo que era secreto, as próprias pessoas que deram o trote postaram em suas redes sociais, não vendo como algo de errado. É completamente naturalizado", disse a aluna. 

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A Atlética da Uni-Facep, citada no juramento do trote , também publicou uma nota nas redes sociais dizendo repudiar “todo e qualquer ato de caráter opressor, racista, machista, misógino e homofóbico”.