O prefeito de Brumadinho, em Minas Gerais, Avimar de Melo (PV), conhecido como Nenen da Asa, criticou nesta sexta-feira (1ª) a aplicação do plano de emergência feito pela Vale para a barragem da Mina do Córrego do Feijão, que rompeu no último dia 25 . Segundo o prefeito, o documento exigido pela Agência Nacional de Mineração foi apresentado de forma reduzida para a prefeitura.
Para Melo, os treinamentos oferecidos pela empresa não foram suficientes para que a população pudesse se preparar para uma situação de emergência. "A empresa deveria ter feito um plano de escoamento, colocado cartilha para população vizinha, ter feito treinamento, o que não foi feito", justificou o prefeito de Brumadinho.
Ele disse ainda que a administração municipal só dá anuência para as licenças, mas não tem conhecimento sobre o que é exigido nos planos de contingência. “Quem define critérios e faz fiscalização é a Agência Nacional de Mineração. A Agência exige também que a Vale apresente plano [de segurança]. Nós não temos autonomia de fazer", explicou. Melo garantiu também que agora quer estar junto ao Estado antes que qualquer autorização seja liberada.
“Nós jamais esperávamos que eles deixassem acontecer isso aqui. Sabe quando a pessoa morre num acidente e você acha que não vai acontecer com você? Não esperávamos que o que aconteceu com Mariana acontecesse aqui”, afirmou.
Segundo o prefeito, o que não foi feito pela Vale foi “ter a responsabilidade” de evitar que a tragédia acontecesse. Melo também culpou o antigo governo do Estado de Minas Gerais, comandado por Fernando Pimentel (PT), pela demora em autorizar o descomissionamento da barragem em Brumadinh o.
“Houve uma falha, o Estado pelo fato dele ser moroso, o Pimentel deveria ter liberado o alvará para fazer o descomissionamento da barragem, mas demorou três anos para autorizar, só em dezembro [do ano passado] saiu a autorização”, reclamou.
Melo reforçou ainda que a cidade depende da mineração e que a interrupção dos trabalhos da Vale afeta a arrecadação. “Conversamos com o governo federal e o estado para eles não nos deixarem a ver navios”, disse o prefeito. Ele explicou que o valor de R$ 80 milhões, que seria repassados para prefeitura pela Vale, seja pago dentro de dois anos por meio do Cfem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais).
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De acordo com o prefeito o pagamento do Cfem seria acordado com a Vale, que pagaria o imposto independente de ter a operação ativa. Sobre as doações anunciadas pela empresa às vítimas da tragédia, o político afirmou que tudo está sendo negociado com a prefeitura que cobrou ajuda até que as indenizações, por meio da Justiça, sejam pagas.
O prefeito explicou que além do R$ 100 mil aos familiares que perderam parentes na tragédia e os R$ 50 mil para quem teve as casas danificadas, a administração municipal também pediu para que a Vale não demita nenhum empregado e pague todos os funcionários da empresa que vão ficar em casa até a retomada dos trabalhos.
“A Vale é a segunda maior empregadora da cidade, se os funcionários não receberem, o comércio de Brumadinho vai falir”, afirmou Melo que disse que a Vale está estudando o pedido.
Além das reparações às vítimas, o político cobrou a recuperação ambiental do município. “Minha cidade hoje está praticamente acabada, tem que voltar a ser com era antes”, disse. Ele informou ainda que Brumadinho “está toda interrompida” e “cortada em três partes” devido ao bloqueio em algumas vias. De acordo com o prefeito, as interdições afetam principalmente os moradores da zona rural do município, que correspondem a cerca de 40% da população.
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“A gente precisa iniciar as aulas, tem que desobstruir essas vias”, afirmou Melo que prometeu que as aulas devem reiniciar no máximo até o próximo dia 11. Questionado por jornalistas acerca de reclamações no fornecimento de água, o prefeito de Brumadinho disse que há água mineral e potável “de sobra”, e que as equipes de assistência contam com quatro carretas de água para atender às demandas dos cidadãos.