Risco de deslizamentos em comunidade de Niterói era conhecido desde 2009

Relatório realizado pela Universidade Federal Fluminense indicava 'risco médio' para tragédia em Boa Esperança, onde 15 morreram no fim de semana

Deslizamento em Niterói destruiu nove casas e pizzaria; Defesa Civil aponta 'ruptura de um maciço'
Foto: Reprodução/TV Globo
Deslizamento em Niterói destruiu nove casas e pizzaria; Defesa Civil aponta 'ruptura de um maciço'

Sabia-se, desde 2009, que havia "risco médio" para deslizamentos no Morro Boa Esperança, em Niterói (RJ), e que era necessário acompanhamento do poder público para essa situação. A comunidade foi palco de tragédia nesse fim de semana, quando 15 pessoas morreram após uma enorme pedra se desprender do morro e atingir oito casas e uma pizzaria.

Relatório produzido por levantamento do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) recomendava o monitoramento constante da área devido à possibilidade de deslizamento e das construções irregulares naquela região de Niterói.

O responsável pelo estudo, professor Elson Antonio do Nascimento, disse ao site G1 que a ocupação irregular provavelmente piorou o quadro detectado há nove anos ao alterar a forma de drenagem da água da chuva, o que pode ter causado infiltrações.

Em entrevista concedida nesse domingo, o prefeito Rodrigo Neves (PDT) disse que  nenhum órgão oficial havia detectado riscos na região onde ocorreu a tragédia e que o acidente era tido como "muito imprevisível". "Os técnicos dizem que era uma situação realmente muito imprevisível porque não havia ali encosta a ser feita contenção. Tínhamos um maciço [pedra] bem distante, coberto por vegetação. Nenhum órgão das três esferas de governo havia identificado essa comunidade como uma área de alto risco", afirmou

Nesta segunda-feira (12), o Departamento Estadual de Recursos Minerais do Rio de Janeiro divulgou nota informando que a ocorrência de deslizamentos em Boa Esperança era "difícil de ser prevista" e acrescentou que a área segue sob risco.

No ano passado, a Defesa Civil municipal chegou a interditar casas naquela comunidade, mas nenhum endereço da região foi incluído no último levantamento oficial de áreas de risco na cidade, datado de 2012.

O prefeito Rodrigo Neves informou que pedirá novo estudo sobre riscos em comunidades da cidade e prometeu entregar, até o fim do ano, moradias aàs 22 famílias afetadas pela tragédia desse fim de semana. O político acrescentou ainda que pedirá ajuda do futuro governador do estado, Wilson Witzel (PSC).

"A prefeitura se dispõe a manter esse sistema, mas eu vou pedir ao governador eleito que implante essas sirenes para que a gente possa tê-lo nas três comunidades da região oceânica de Niterói, inclusive em Boa Esperança.", afirmou.

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No passado, outro estudo realizado pela UFF também não surtiu efeitos práticos em Niterói e acabou se tornando espécie de 'previsão' da tragédia na comunidade Morro do Bumba, onde 46 morreram em 2010. À época, o grupo de pesquisa Hidrouff da universidade foi contratado pela prefeitura do município para fazer o estudo da drenagem do local, mas os governantes municipais não aplicaram o projeto.

“Ficamos excluídos de todas as iniciativas dessa área pela prefeitura. Talvez o estudo não impedisse que o deslizamento acontecesse, mas, pelo menos, teria essa possibilidade”, afirmou o professor Elson Antonio do Nascimento ao site da universidade.