Um mês após assassinato de Marielle e Anderson, pouco se sabe sobre caso
Entidades e parlamentares cobram respostas das autoridades, que justificam serem sigilosas as informações das investigações; até o momento, ninguém foi apontado como possível autor ou mandante do crime contra a vereadora
Por iG São Paulo | * |
Mesmo um mês depois, ninguém foi apontado como responsável pelo a ssassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes . Até o momento, poucas informações foram divulgadas sobre o caso e, segundo as autoridades, as investigações continuam.
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De acordo com o ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, as investigações sobre o caso de Marielle estão avançando, “mas essas informações estão todas restritas à polícia que está fazendo a investigação”.
Por enquanto, o que se tem notícia é que imagens das câmeras de segurança espalhadas pelo trajeto percorrido por Marielle e Anderson foram recolhidas , porém, no local do crime há um “ponto cego” dos equipamentos, o que impede a gravação do momento do assassinato.
A polícia chegou a apreender um carro em Ubá, em Minas Gerais, que poderia ter sido usado no crime, mas depois foi descartado.
Outro vestígio deixado pelos assassinos são as balas recolhidas no local, que foram analisadas e identificadas como carregamento da Polícia Federal. Segundo ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, as munições teriam sido roubadas de um carregamento há alguns anos.
Até agora, não foi divulgado o resultado da análise dos projéteis. Contudo, integrante do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e da organização Justiça Global, Sandra Carvalho, afirma que há indícios de que as balas do mesmo lote já teriam sido utilizadas em chacinas e outras situações criminosas anteriores ao caso de Marielle.
“Isso requer uma situação muito rigorosa também, porque pode ser um elemento muito importante para desvendar esse crime e vincular com outros, podendo até levar a uma teia criminosa que possa estar articulada”, disse.
Sandra Carvalho, que integra comissão criada pelo CNDH para acompanhar o caso, critica que a falta de controle de armamentos contrasta com o fato de o Rio de Janeiro ser “uma cidade com um armamento absurdo”. “A gente tem uma polícia muito armada e também há forças criminosas muito bem equipadas, o que é fruto de corrupção, de entrada de armas clandestinamente no país, mas isso é raramente investigado”.
Testemunha
Na última quinta-feira (12), o vereador Tarcísio Motta (PSOL) se apresentou como testemunha e prestou depoimento. Após conversar com os investigadores, o político disse foi questionado sobre as atividades de Marielle, a relação dela com outros vereadores, a trajetória da parlamentar no partido e como foi o desempenho dela durante os trabalhos da CPI das Milícias, em 2008, quando assessorava o deputado estadual Marcelo Freixo, também do PSOL.
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Além disso, Motta foi perguntado sobre as críticas que Marielle fez, antes de morrer, ao uso de violência por policiais do 41º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Acari, na zona norte do Rio. Antes de ser assassinada, a vereadora havia denunciado, em uma rede social, violência policial de membros do batalhão contra moradores de favelas.
Em busca de resposta
Sem resposta, a Anistia Internacional voltou a cobrar nesta sexta-feira (13) uma manifestação sobre o caso . “O Estado deve garantir que o caso seja devidamente investigado e que tanto aqueles que efetuaram os disparos quanto aqueles que foram os autores intelectuais deste homicídio sejam identificados. Caso contrário envia uma mensagem de que defensores de direitos humanos podem ser mortos e que esses crimes ficam impunes”, destacou a organização.
O coordenador da comissão de deputados federais formada para acompanhar as investigações, deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ressalta que o crime não pode cair no esquecimento. “A gente quer respostas. As autoridades terão que dar respostas para esse crime, porque não há nenhum crime que não possa ser solucionado, a não ser quando há interesse do próprio Estado em acobertar esse crime”, afirmou.
Para o deputado, a morte de sua companheira de partido está relacionada à sua atuação política. “Não há a menor dúvida de que se trata de um crime político. É um crime motivado pela atuação dela. Não sabemos ainda qual a motivação específica, se está ligado à atuação das redes criminosas e das milícias.
Os ministérios da Segurança e da Defesa, o Gabinete de Segurança Institucional, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Civil do Rio de Janeiro não quiseram se pronunciar sobre o caso, argumentando que as investigações correm em segredo de Justiça.
Já o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo do Vale Rocha, disse que está acompanhando o caso. “Evidentemente que a maior parte dessa apuração é sigilosa, mas a gente vem atuando juntamente ao Gabinete de Intervenção e o Ministério de Segurança Pública para não só demonstrar que estamos acompanhando como também estamos cobrando os resultados dessas investigações. E as informações que nos são repassadas é que essas investigações estão bem avançadas”.
Protestos
Os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes levaram centenas de pessoas às ruas do Brasil e do mundo. Nos protestos, participantes lembraram as bandeiras da vereadora, a garantia de direitos de mulheres e LGBTs, o respeito e valorização dos moradores de favelas e o fim da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, além de pedidos por responsabilização dos culpados.
A morte provocou imediatamente fortes reações institucionais. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) disse que o Estado tem a obrigação de investigar o assassinato “de maneira séria, rápida, exaustiva, independente e imparcial, e punir os responsáveis intelectuais e materiais”. O assassinato será tema de uma reunião, que deverá ocorrer em maio.
O Sistema das Nações Unidas no Brasil (ONU Brasil) emitiu nota em que espera “rigor na investigação do caso e breve elucidação dos fatos pelas autoridades, aguardando a responsabilização da autoria do crime”, posicionamento seguido por outras organizações nacionais e internacionais de direitos humanos.
No dia 20 de março, um documento assinado por mais de 100 organizações de direitos humanos foi lido durante sessão ordinária do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. No Parlamento europeu, deputados prestaram um tributo a Marielle no dia seguinte à sua morte e pediram a suspensão das negociações comerciais para um acordo de livre comércio entre a Europa e o Mercosul.
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