Comissão Nacional da Verdade reuniu fotos de pessoas desaparecidas durante o período da ditadura militar
Jack Garland
Comissão Nacional da Verdade reuniu fotos de pessoas desaparecidas durante o período da ditadura militar

Foi identificado o primeiro desaparecido político desde a retomada dos trabalhos de análise das 1.049 ossadas retiradas do Cemitério de Perus , na zona norte paulistana, que estavam parados desde 2014. A partir de exames de DNA realizados pela Comissão Internacional de Pessoas de Desaparecidas em laboratório na Bósnia, foi atribuída a identidade de Dimas Antonio Casemiro aos restos mortais encontrados no ossário.

Dimas foi dado como desaparecido em 1971, quando tinha 25 anos de idade. Ele era militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares e do Movimento Revolucionário Tiradentes e foi torturado e assassinado por agentes da repressão da ditadura militar (1964-1985). Sua morte foi acobertada, segundo a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, com um relato de tiroteio supostamente ocorrido no bairro do Ipiranga, em São Paulo, em 19 de abril de 1971 – o que agora, com a descoberta sobre a ossada , mostrou-se falso.

De acordo com o Núcleo Memória, Dimas nasceu em Votuporanga, no interior paulista, onde atuou em movimentos estudantis e trabalhou como corretor de seguros, vendedor de carros e tipógrafo. Ele mudou-se para São Paulo e tornou-se dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes.

A análise genética foi confirmada por estudos antropológicos, informações odontológicas e de altura, idade e causa da morte do militante, quando causada por arma de fogo. Os resultados dos exames de DNA foram obtidos no último dia 16, após comparação do material encontrado na vala com amostras de sangue de familiares do ativista.

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Retomada dos trabalhos de identificação das ossadas

O processo de investigação sobre os restos mortais encontrados em Perus tem um histórico de quase 30 anos. A vala clandestina foi aberta em setembro de 1990 durante a gestão da então prefeita Luiza Erundina. No local, foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e presos políticos. Na época, a prefeitura determinou a apuração dos fatos e fez um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a identificação das ossadas. Até hoje, apenas três pessoas tiveram as identidades confirmadas. Entre elas, o irmão de Dimas, Dênis Casemiro.

O trabalho foi interrompido e, em 2002, as ossadas foram levadas para o Cemitério do Araçá, na capital paulista, sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Em 2014, por meio de cooperação da antiga Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) do governo federal (atual Ministério dos Direitos Humanos), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o trabalho de identificação dos restos mortais resgatados da vala clandestina do cemitério de Perus foi retomado.

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*Com informações e reportagem da Agência Brasil

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