Dia da Consciência Negra: “Não queremos ser tolerados, queremos o respeito”

Secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, fala sobre o preconceito que negros ainda sofrem por viver em país como o Brasil

No dia que se comemora Dia da Consciência Negra no Brasil, o secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, chamou atenção para o fato das religiões de matriz africana ainda serem demonizadas no País. Em programa transmitido pela TV NBR nesta segunda-feira (20), Araújo afirmou que "precisamos cada vez mais de políticas públicas e da responsabilização dos gestores”.

Secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, em entrevista no Dia da Consciência Negra
Foto: José Cruz/Agência Brasil 20.11.2017
Secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo, em entrevista no Dia da Consciência Negra

“Hoje, temos a Lei Nº 10.639, que determina que as escolas lecionem história da África e a história afro-brasileira, o que não vem sendo cumprido. Os professores defendem outra fé, se negam a cumprir a lei. Além disso, existe demonização das religiões de matriz africana. Não queremos ser tolerados, queremos o respeito da população!”, disse o secretário.

Araújo acredita que a palavra “miscigenação” é usada para falar da democracia, mas que, por outro lado, ela não existe de fato no Brasil. “A igualdade de oportunidades não existe entre negros e brancos no nosso país. Somos separados pela cor da nossa pele.”

Para se ter uma ideia, de acordo com números do Atlas da Violência de 2017, de cada 100 pessoas assassinadas no país, 70 são negras. Em relação à população carceraria, 61,6% é constituída por pessoas de pele escura. Já se pegarmos o número de desempregados, 63,7% são negros e pardos. Para a classe alta, 1% da população rica do Brasil, apenas 2 em cada 10 tem a pele negra. 

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil 20.11.2017
Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, grupo faz homenagens junto ao Monumento a Zumbi dos Palmares no RJ

Quando separamos as mulheres, as diferenças continuam. As negras são vítimas em 58,8% dos casos de violência doméstica. Além disso, o analfabetismo é o dobro em comparação com as mulheres brancas. Apenas 27% tiveram acompanhamento durante o parto, estimativa sobe para 46,2% quando se trata das mulheres de pele clara, segundo o Ministério da Saúde. No mercado de trabalho, o cenário não é diferente. Segundo o Programa Nacional de Pesquisas Contínuas (PNAD), diante de mulheres brancas com a mesma instrução, na média salarial, as negras recebem 27% a menos.

Além de tudo isso, para o secretário, a política de cotas vem sendo atacada com descriminação. “A política de cotas raciais no Brasil é muito importante. Hoje, temos muito mais negros no ensino superior. Mas as universidades federais devem criar mecanismos de verificação para coibir a tentativa de fraudes com relação a pessoas que se dizem negras, mas que de fato não são.”

Presidente Temer

No Dia da Consciência Negra, o presidente Michel Temer usou sua conta no Twitter para destacar a importância do respeito à diversidade e do combate ao preconceito.

“Aproveito a celebração do #DiaDaConsciênciaNegra para convocar todos os brasileiros para a construção de um Brasil harmônico, baseado no respeito à diversidade. Queremos um País sem ódio, sem preconceitos. Hoje é dia de desejar que todos tenham paz em seu coração”, escreveu o presidente.

*Com informações da Agência Brasil