"Não negociamos com criminosos", diz Pezão ao rebater críticas de ministro

Chefe da Justiça, Torquato Jardim disse que governo do Rio não controla PM do estado e que há acerto entre deputados, comando da corporação e o crime organizado; PM condena "irresponsabilidade inadmissível" do ministro

Governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) desmentiu alegação de ministro sobre conversas a respeito da morte de coronel
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil - 30.3.2017
Governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) desmentiu alegação de ministro sobre conversas a respeito da morte de coronel

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), rebateu as declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre supostos acertos entre deputados estaduais, o Comando da Polícia Militar e o crime organizado no estado. Em entrevista ao portal Uol , Jardim disse que Pezão e o secretário estadual de Segurança, Roberto  Sá, não controlam a Polícia do Rio, uma vez que os "comandantes de batalhão são sócios do crime organizado”.

Leia também: Crivella cobra retorno das Forças Armadas à Rocinha após novos tiroteios

"O governo do estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminoso", garantiu Pezão em nota divulgada nesta terça-feira (31) pelo Palácio Guanabara. "As escolhas de comandos de batalhões e delegacias fluminenses são decisões técnicas e Pezão jamais recebeu pedidos de deputados para tais cargos", completa o texto.

Na entrevista divulgada nesta manhã, Torquato diz que a milícia constituída por policiais contraventores está "tomando conta do narcotráfico" e os comandantes de batalhões da PM se aproveitam dessa alegada falta de comando para se tornarem "sócios do crime organizado".

O ministro também comentou o assassinato do coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do 3° Batalhão da PM , que foi executado com 17 tiros na semana passada na zona norte do Rio. "Ninguém me convence que não foi acerto de contas", disse Jardim, acrescentando que teria "cobrado" o secretário Roberto Sá e o governador Pezão sobre o assunto.

A informação, no entanto, foi rebatida pelo chefe do Executivo fluminense. "O ministro da Justiça, Torquato Jardim, nunca procurou o governador para tratar do assunto abordado pelo ministro na entrevista", diz a nota divulgada no início desta tarde.

O texto também reafirma a confiança do governador no comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias, tratado como um "profissional íntegro".

"Irresponsabilidade inadmissível"

A Polícia Militar do Rio também divulgou nota condenando a entrevista do ministro da Justiça e afirmando que suas declarações "são de uma irresponsabilidade inadmissível". "Ao generalizar acusações sem qualquer base comprobatória contra uma instituição bicentenária, as declarações do ministro Jardim revelam, no mínimo, desrespeito e desprezo ao esforço descomunal empreendido por milhares de policiais militares que, não obstante a dificuldades de toda ordem, não têm medido esforços para defender a sociedade do nosso estado", diz o texto.

A PMERJ também garantiu que "não aceita e pune com todo rigor qualquer desvio de conduta em suas fileiras", e ressaltou que a corporação não pode ser responsabilizada pelo "quadro de violência formado por inúmeras variáveis" que, inclusive, já provocou a morte de 113 policiais somente neste ano.

Em entrevista à Globonews , o secretário Roberto Sá classificou os comentários de Torquato Jardim como "injustos" e disse que "acusações e comentários genéricos como esses não contribuem com nada".

Ainda na entrevista concedida ao Uol, o ministro da Justiça disse acreditar que o suporte oferecido pelas tropas das Forças Armadas em operações de segurança no Rio de Janeiro, como a realizada no mês passado na favela da Rocinha, é capaz de atenuar os problemas decorrentes da violência no estado. Nesse trecho de seu depoimento, Torquato Jardim desfere uma crítica mais enfática ao governador Pezão: "A virada da curva ficará para 2019, com outro presidente e outro governador. Com o atual governo do Rio não será possível”, disse.

Leia também: Rio tenta evitar retorno de chefes da milícia e do Comando Vermelho ao estado