Pensão dos heróis de 1932 e assassinato de um PM em 2017 - Entenda

Quem não conhece a sua história está condenado a cometer os mesmos erros. O que motiva alguém a esconder e distorcer fatos históricos?

9 de Julho de 1932

Após meses de negociação com o ditador Getúlio Vargas, os Paulistas atingem o limite da tolerância. Em 1930, ao perder a presidência do Brasil nas urnas, Vargas desferiu um golpe de estado, cassou a Constituição, fechou o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas Estaduais,  Câmaras Municipais e impôs interventores para governar os estados, inclusive São Paulo. Estudantes universitários, fazendeiros, empresários, comerciários e profissionais liberais deflagram a Revolução de 1932.

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Os 12.000 Policiais da Força Pública (atual Polícia Militar) recebem a ajuda de 45.000 voluntários civis e 3.000 homens do Exército com um único objetivo: reestabelecer a ordem democrática, o retorno das eleições livres e a plena vigência da Constituição. São Paulo perdeu a batalha da Revolução de 1932 , mas induziu uma histórica vitória política para o Brasil. O pleno estado de direito que todos brasileiros desfrutam hoje, possui suas raízes no sacrifício de estimados 1.000 Paulistas que deram suas vidas nessa luta.

Veterano da Revolução de 1932 em desfile comemorativo
Foto: Divulgação
Veterano da Revolução de 1932 em desfile comemorativo


9 de Julho de 2017

85 anos mais tarde, um jornalista decide fazer um texto sobre a Revolução de 1932. O título escolhido é: “São Paulo gasta R$ 900 mil por mês com pensão aos veteranos de 1932”. A matéria tenta passar um ar factual, mas é claro o tom ideológico de crítica à pensão média de R$720,00 que os 18 heróis sobreviventes de 1932 e familiares recebem do Estado.

Isso seria patético se não fosse ofensivo. “São Paulo gasta”? Pode ser que na linguagem fria e técnica da contabilidade isso seja um gasto, mas numa sociedade evoluída, que respeita seus cidadãos e não distorce sua história, isso não é um gasto, é uma obrigação. O jornalista que assina este infame e desrespeitoso texto é protagonista de uma grande ironia. Ele ataca justamente os heróis Paulistas que deram a vida para que ele tenha o direito de escrever o que quiser, num ambiente livre e democrático.

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Se o tal jornalista quisesse fazer uma matéria justa e equilibrada, por que não escrever também sobre os R$3,4 bilhões que o governo pagou, apenas entre 2001 e 2014, para os 40.300 brasileiros cadastrados como vítimas da ditadura pela Comissão de Anistia?

Eu não sei o que dizer para uma família que entrega um filho, um pai, um marido ou um irmão para lutar pela sociedade e que o recebe de volta num caixão. Mas seguramente não diria que a pífia pensão que o estado paga é um gasto.

Um PM morto, outro PM preso

Em outros países, Soldados e Policiais veteranos são respeitados, a sociedade os acolhe com programas especiais de saúde, educação, recolocação profissional e de ajuda financeira, pois entendem que estes cidadãos que vestem uniforme, que dão suas vidas para que outros possam viver em segurança, merecem sim um tratamento diferenciado. Este é um valor intrínseco de sociedades evoluídas: reconhecer, acolher e celebrar seus heróis.

Por que no Brasil isso não acontece? Por que atacamos os nossos heróis de ontem e de hoje? Por que o raciocínio padrão de que o Policial é violento e culpado enquanto o criminoso é vitima e inocente?

Há poucos dias um Sargento Policial Militar de 58 anos, fardado, foi assaltado por três criminosos armados em Contagem, Belo Horizonte. O PM reagiu, matou um criminoso e os outros dois fugiram. O que aconteceu com este servidor público? Foi preso. Nesta semana, oito bandidos fortemente armados, assaltaram uma agencia do Banco do Brasil em Santa Margarida Minas Gerais. Um Cabo da Policial Militar de 37, que atendia a ocorrência, foi assassinado pelos marginais com um tiro de fuzil na cabeça. As chocantes e revoltantes cenas do PM sendo baleado e sangrando morto no chão foram filmadas e estão na internet.

Um PM preso, outro PM morto. Esses são os nossos heróis anônimos, que deveríamos proteger, celebrar e honrar. Mas no cenário kafkiano que vivemos, contaminado por ideologias que se recusam a ver e reconhecer os fatos como são, é provável que o tal jornalista, ao escrever sobre o PM morto com um tiro na cabeça, questione a eventual pensão que sua família venha a receber.

Esse é o Brasil que vivemos. Enquanto não tivermos respeito e orgulho pelos nossos heróis do presente e do passado, iremos continuar achando que é mais importante questionar a pensão dos 18 veteranos e familiares da Revolução de 1932, do que externar extrema indignação com a prisão e o assassinato de dois profissionais da lei, durante o desempenho de suas funções.