No dia 31 de dezembro do ano passado, logo após decolar da pista 9L do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, o piloto de um avião da Latam avistou três balões de ar quente de grande porte bem próximos de sua rota. Numa manobra rápida, ele conseguiu desviar e livrou os 200 passageiros a bordo de um risco de acidente de grandes proporções. A Polícia Militar Ambiental alerta para os perigos da prática.
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O caso descrito acima não é isolado. Segundo estatísticas do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), esse tipo de ocorrência aumentou 7,9% nos três aeroportos que servem a capital paulista (Guarulhos, Congonhas e Campo de Marte) de 2015 para 2016. Em apenas um deles, justamente o de Cumbica, entretanto, a alta foi de 40%. A Polícia Militar Ambiental tem atuado para coibir esse tipo de atividade perigosa.
De acordo com dados do Centro, em 2015 foram registradas 88 ocorrências de risco baloeiro nos três terminais. Já no ano passado, 95. Já no Aeroporto de Cumbica foram 47 notificações em 2015 e 66 em 2016. Isso tornou o aeroporto internacional mais movimentado do País no líder neste tipo de ocorrência.
Um balão não tripulado pode voar aproximadamente a 17 mil pés, o equivalente a cinco mil metros de altura, afirmam os especialistas. Nesse nível, as aeronaves operam em velocidades de 270 a 450 quilômetros por hora. De dentro da cabine, o piloto não consegue visualizar a aproximação do balão pelo radar. No caso de haver uma colisão no espaço aéreo com um balão de 10 quilos, a força do impacto pode chegar a 2,6 toneladas. A turbina da aeronave também pode ingerir partes desses artefatos ou acessórios e causar desde o apagamento de motor até um incêndio.
Para o gestor do Programa Baloeiro do Cenipa, tenente-coronel aviador Francisco José Azevedo de Morais, soltar balão expõe aviões a risco de colisão, que pode causar desde danos leves até um acidente de grandes proporções. "A ingestão de materiais pelos motores e sensores da aeronave pode levar à perda de sistemas e ocasionar o acidente. O piloto pode ter que fazer uma manobra arriscada para desviar-se de algum artefato."
Para pilotos, Zona Leste é a mais perigosa de SP
A aproximação dos aeroportos de Guarulhos e Campo de Marte, pela Zona Leste de São Paulo , é a rota mais perigosa para risco baloeiro em todo o Brasil. A análise é dos pilotos Francisco Souza, de 67 anos, e José Luiz Cunha, 52. O primeiro tem 50 anos de experiência e o segundo, 10, em aeroportos grandes e pequenos de todo o Brasil.
"São Paulo é a cidade mais complicada pela densidade populacional e a Zona Leste é a região onde mais verificamos a presença de balões", disse Souza. "O piloto precisa estar atento para desviar porque o risco de uma tragédia é enorme."
Os dois pilotos relataram inúmeras ocorrências em que precisaram desviar suas rotas para não se chocar com balões. "Soltar balão é uma irresponsabilidade que nem sempre as pessoas sabem que estão cometendo", disse José Luiz. "É necessário que se tenha mais informação e ao mesmo tempo leis mais duras para coibir essa prática no Brasil."
Polícia Ambiental intensifica combate
Uma operação da PM (Polícia Militar) Ambiental resultou no fechamento de oito fábricas de balões e na prisão de cinco pessoas no último dia 20 de janeiro. As ações ocorreram simultaneamente nos municípios de Mauá, Mogi das Cruzes, Embu, Suzano, Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, além da capital paulista. Foram apreendidos materiais suficientes para a fabricação de mais de 500 balões, além de 22 artefatos prontos e em diversas etapas de fabricação.
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Equipamentos para fabricação de tochas, para o preparo e manuseio de parafina, e maçaricos também foram apreendidos pelos agentes da corporação. As cinco pessoas presas foram autuadas em R$ 190 mil. Elas depois foram soltas e devem responder em liberdade.
No ano passado, a PM Ambiental apreendeu 156 balões em todo o estado de São Paulo, além de aplicar 52 multas e atender 26 ocorrências do tipo. Além disso, a Polícia Civil investiga, por meio de 11 inquéritos instaurados, entre 2015 e janeiro deste ano, pela Divisão de Investigação sobre Infrações de Maus-Tratos a Animais e Demais Crimes contra o Meio Ambiente, a participação de 22 autores neste tipo de crime.
Participante de uma comunidade que frequenta as redes sociais com o nome "Baloeiros de SP", um jovem que não quis se identificar disse que a motivação para soltar balão está na convicção de que aquilo que fazem é uma arte.
"Isso é uma arte que foi criada há muito tempo e muitos gostam de ver os nossos balões", afirmou. "E a motivação para disputar a localização deles é porque um balão lindo acaba fazendo com que outras equipes corram atrás dele. Isso que é legal e também fazer mais amizades na hora dos resgates."
O jovem admitiu que o risco é grande. "Mas para a aviação eu não concordo porque nunca vi acidente", afirmou. "Somos criticados como bandidos, mas bandidos são aqueles de terno que roubam o País. Os criminosos de colarinho branco. A gente não faz mal para ninguém." O crime de fabricar ou soltar balões está previsto em lei federal com pena de detenção de um a três anos.
Entrevista: Marcos Simonivic, comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar Ambiental
'Temos mapeados os locais com maior incidência de soltura de balões'
O coronel responsável pelo batalhão que abrange a capital, Grande São Paulo, Campinas e Sorocaba, Marcos de Castro Simanovic, alerta que a soltura de balões não é apenas um problema ambiental, mas também de segurança aérea e pode impactar nos pousos e decolagens.
Como está sendo feito o combate aos baloeiros?
Nós já temos mapeados os locais com maior incidência de soltura e manufatura de balões e também grupos de resgate desses balões. Além disso, temos registrados quem já foi autuado por uma dessas práticas ilegais. Também utilizamos as redes sociais, com policiais infiltrados em grupos de baloeiros para saber onde os balões serão soltos.
A população também tem colaborado?
Sim. Temos recebido cada vez mais denúncias anônimas que podem nos levar a baloeiros. Também contamos com ajuda da Polícia Civil. Não é apenas um problema ambiental: é uma questão de segurança aérea. Só no início do ano tivemos diversas ocorrências de balões que caíam próximos aos aeroportos de Cumbica e Congonhas. Ou seja, além de poderem cair sobre telhados de casas e matagais com chance de gerarem grandes incêndios, as empresas aéreas, com medo de alguma ocorrência, podem começar a impor restrições de pousos e decolagens nesses aeroportos, que são os com mais movimento no estado e também do país. E se uma série de restrições começar a ser imposta, o valor das passagens aéreas pode começar a subir.
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Onde são fabricados os balões e onde eles são soltos?
A grande maioria na periferia da capital, sobretudo nas zonas Leste e Sul, e na região metropolitana. Eles são fabricados em garagens ou quintais de residências, ou em galpões, de forma totalmente precária. Em 20 de janeiro, fechamos oito fábricas de balões em Mauá, Mogi das Cruzes, Embu das Artes, Suzano, e Ferraz de Vasconcelos e na capital. Foram apreendidos 22 balões de grande porte e material para fabricação de mais 500 balões. Foram cinco detidos por crime ambiental e infração de soltar e manufaturar balões, com multas totais de R$ 190 mil. Pouco antes, em 14 de janeiro, detivemos três pessoas em Jundiaí (interior), que soltavam um balão de quase 15 metros. Eles foram multados em R$ 30 mil. Muitos já tinham passagem.