Ministro envia apoio federal para enfrentar tensão em presídio de Roraima

Detentos do regime semiaberto da penitenciária de Monte Cristo foram dispensados de voltar à prisão para dormir e passarão as noites em casa

Ministro da Justiça, Alexandre Moraes liberou apoio do governo federal para garantir a ordem no presídio de Roraima
Foto: Elza Fiúza/ ABr
Ministro da Justiça, Alexandre Moraes liberou apoio do governo federal para garantir a ordem no presídio de Roraima

Nesta segunda-feira (9), o governo de Roraima deve protocolar o pedido de envio da Força Nacional para o estado. O pedido acontece em meio a uma crise no sistema carcerário que envolveu o estado após a morte de 33 presos, na última sexta-feira (6), na Penitenciária Agrícola Monte Cristo , na zona rural de Boa Vista. Com capacidade para 750 presos, a unidade abriga mais de 1.400 detentos.

A governadora de Roraima , Suely Campos, informou, por meio de sua página no Facebook, que conversou com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, nesse domingo (8) e ele afirmou que em poucos dias deve enviar o apoio necessário para garantir a ordem pública e enfrentar a grave tensão instalada na Penitenciária de Monte Cristo.

Em nota, a assessoria do ministério diz que “o ministro já determinou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública providencie o imediato apoio ao estado”. Na própria sexta, o presidente Michel Temer ligou para Suely, a fim de oferecer ajuda federal.

Em novembro do ano passado, o governo de Roraima chegou a solicitar a presença da Força Nacional após a morte de 10 detentos na mesma penitenciária, mas o pedido foi negado.

Para a professora Aldenizia Laranjeira, a presença da Força Nacional vai trazer mais segurança porque, “a população, no popular, está cabreira, com medo. Medo de rebeliões, de esses presos saírem das cadeias, saírem matando todo mundo, fazendo reféns. Se a governadora tá pedindo ajuda do ministro da Justiça, ele tem por obrigação ajudar o estado”, afirma.

Trinta e três detentos morreram na penitenciária agrícola na madrugada da última sexta-feira (6), mas dois desses mortos só foram encontrados na tarde de sábado (7), após a denúncia de familiares, como a dona de casa Simone Alves, de 24 anos. “Vocês não sabem o meu sofrimento de saber que o meu marido está enterrado em um buraco dentro da cozinha e ninguém faz nada. A polícia fecha os olhos. O que está faltando, meu Deus, para vocês entrarem e procurarem o meu marido, o que tá faltando?”, desabafou a mulher.

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O trabalho de necropsia foi encerrado nesse domingo (8) e quase todos os corpos já foram entregues aos familiares. As exceções são os corpos de um venezuelano e um rondoniense que ainda não foram entregues por falta de documentação. Ainda há o corpo de um detento, que não foi reclamado pela família.

Prisão domiciliar

A Justiça de Roraima concedeu prisão domiciliar aos detentos do regime semiaberto do Centro de Progressão Penitenciária (CPP). O pedido foi feito pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A medida vale até o fim desta semana. Com isso, desde o último domingo (8), os detentos não precisam se dirigir à unidade para dormir. Eles devem ficar em casa.

O documento é assinado por 23 reeducandos e pelo diretor do CPP, Wlisses Freitas da Silva, e informa “a impossibilidade de garantir a segurança dos presos e dos servidores que trabalham naquela unidade prisional”.

Segundo a OAB, os presos estariam sofrendo “ameaças diárias de morte, inclusive, de facções do crime organizado”. O documento leva em consideração relatos de presos provisórios que afirmam ser alvo da próxima tragédia no sistema carcerário.

O medo não está apenas no CPP. A professora Aldenizia Laranjeira revela a sensação de insegurança vivida na cidade. Segundo a moradora de Boa Vista, “algumas farmácias, alguns comércios fecharam mais cedo, por medo de rebeliões, de esses presos saírem aí das cadeias, saírem matando todo mundo, fazendo reféns, e a sensação de morte, muito triste, nunca tinha acontecido isso aqui em Roraima”, relata.

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O Centro de Progressão Provisória sofre com o baixo efetivo de servidores. São, no máximo, quatro agentes por dia para prestar segurança a 160 presos, além dos que cumprem pena na Casa do Albergado e que assinam frequência no CPP, totalizando um fluxo de quase 500 detentos em Roraima. Os agentes penitenciários reclamam ainda da falta de armamento adequado e suficiente para todos.

* Com informações da Agência Brasil.