Ao vivo: "Médicos devem se responsabilizar pelos receituários", diz Luana Araújo
A médica infectologista falou sobre "tratamento precoce" e a autonomia médica. Luana ficou apenas 10 dias no cargo de secretária extraordinária de combate à Covid-19 no ministério da Saúde
Em seu depoimento à CPI da Covid
, nesta terça-feira, 02, a médica infectologista Luana Araújo, ex-secretária extraordinária de combate à Covid-19 do Ministério da Saúde, afirmou que é contra a restrição da autonomia médica, mas que os profissionais precisam ser responsabilizados pelos receituários.
Luana relatou que "depois de um ano de pandemia e evidências acumuladas, dezenas de revisões, de estudos de qualidade, insistir em algo que não tem valor [cloroquina] pode vulnerabilzar as pessoas." Em seguida, o senador Eduardo Girão questionou se a infectologista era a favor da restrição da autonomia médica. "Não é restrição de autonomia, é responsabilizar". Assista ao vivo:
"Tratamento precoce" e autonomia médica
A medica declarou ser a favor da "autonomia médica", mas aproveitou para explicar o que isso não deve ser argumento para a receita de cloroquina e apoio ao "tratamento precoce".
"Autonomia médica faz parte da nossa prática [de médicos], mas não é licença para experimentação. A autonomia precisa ser defendida, sim, mas com base em alguns pilares: plausabiliade teórica do uso de uma medicação; volume de conhecimento acumulado até aquele momento sobre o assunto; ética e responsabilização. Juntando isso tudo, o médico tem, sim, direito à autonomia e precisa fazer o que é melhor para o paciente", explicou Luana.
A infectologista também comentou sobre o "tratamento precoce". Ela disse nunca ter discutido sobre o tema com o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. E afirmou que a discussão sobre o assunto já é clara ao determinar a falta de resultados.
"Todos somos a favor de um tratamento precoce que exista. Mas ainda não existe. Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente", afirmou Luana.
Antes de ser convidada para o ministério, a médica já havia se posicionado nas redes sociais, chamando de "neocurandeirismo" o uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina para tratamento da Covid-19. Ela também havia destacado o "Brasil na vanguarda da estupidez mundial" ao querer usar esses medicamentos na pandemia.
Para Luana, a discussão sobre o tratamento precoce "é como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular", disse.
Apenas 10 dias no ministério da Saúde
A ex-secretária disse não saber o que "frustou a nomeação" dela
, ao ser questionada pelo relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). "Eu realmente gostaria de saber. Honestamente, não me foi comunicada a razão pela qual a minha nomeação não foi aprovada", revelou Luana.
Como não chegou a ser nomeada oficialmente para o Ministério da Saúde, a médica informou que trabalhou durante 10 dias sem ter recebido nada por isso. Ela também reforçou que pagou todas as passagens e custos de seus deslocamentos à Brasília.
Ameaças
Luana Araújo revelou que sofreu diversas ameaças durante a pandemia da Covid-19, antes, durante e a depois de ser convidada para o cargo no Ministério da Saúde, segundo ela por expressar seu conhecimento científico.
"Desde o começo da pandemia, eu, como diversos infectologistas deste país, sofremos várias ameaças: não saiam de casa; tomara que você e sua mãe morram. Isso é extremamente lamentável, não pela minha segurança propriamente dita ou dos colegas, mas pela perda de oportunidade de educação do nosso povo. Eu recebi várias ameaças. Já tentaram divulgar meu endereço na internet", revelou.
Ciência não tem lado"
A médica deu início ao seu depoimento com uma defesa da ciência, principalmente no atual contexto de pandemia. "Senhoras e senhores, ciência não tem lado. Ciência é bem ou mal feita. Ciência é ferramenta de produção de conhecimento e educação para servir a população, priorizando a vida e a qualidade de vida, sempre, como objetivo maior. A distância entre populações e ciência não existe. A ciência deve ser incentivada, protegida e, sempre, sobreparar quaisquer disputas", declarou a médica antes de ser submetida a perguntas.