O auge dos detetives matrimoniais na Índia

De seu escritório anônimo em um shopping center de Nova Délhi, a detetive de casamentos Bhavna Paliwal investiga possíveis maridos e esposas, um setor próspero em um país onde os casamentos por amor estão ganhando...

Bhavna Paliwal, fundadora da agência de detetives Tejas, ajusta o espelho retrovisor de seu carro enquanto dirige por uma rua em Nova Délhi, Índia, em 10 de dezembro de 2024
Foto: Arun Sankar
Bhavna Paliwal, fundadora da agência de detetives Tejas, ajusta o espelho retrovisor de seu carro enquanto dirige por uma rua em Nova Délhi, Índia, em 10 de dezembro de 2024
Arun SANKAR

De seu escritório anônimo em um shopping center de Nova Délhi, a detetive de casamentos Bhavna Paliwal investiga possíveis maridos e esposas, um setor próspero em um país onde os casamentos por amor estão ganhando terreno em relação às uniões arranjadas pela família.

Na Índia, a tradição de maridos e esposas escolhidos a dedo ainda é muito popular. Mas em um país onde os costumes sociais estão mudando rapidamente, cada vez mais pessoas estão escolhendo seus próprios parceiros.

Para algumas famílias, o primeiro passo quando dois jovens amantes querem se casar não é chamar um padre ou um planejador de casamentos, mas um detetive, como Paliwal, com ferramentas de espionagem de alta tecnologia para investigar o futuro cônjuge.

Sheela, funcionária pública em Nova Délhi, diz que quando sua filha anunciou que queria se casar com seu noivo, ela imediatamente contratou a detetive Paliwal.

“Eu tive um casamento ruim”, conta Sheela, que não informou seu nome verdadeiro, pois sua filha não sabe que seu noivo foi espionado.

“Quando minha filha disse que estava apaixonada, eu quis apoiá-la, mas não sem fazer as devidas verificações”, afirma.

Paliwal, 48 anos, que fundou sua agência de detetives Tejas há mais de duas décadas, diz que os negócios estão melhores do que nunca.

Sua equipe lida com cerca de oito casos por mês.

Em um caso recente, o de uma cliente que queria investigar seu futuro marido, Paliwal descobriu uma discrepância de casas decimais no salário.

“O homem disse que ganhava cerca de US$ 70.700 por ano”, explica Paliwal. “Descobrimos que, na verdade, ele ganhava US$ 7.070.”

A contratação de um detetive pode custar entre US$ 100 e US$ 2.000, um investimento pequeno para famílias que gastam muito mais no próprio casamento.

O escritório de Paliwal tem uma localização discreta em um shopping da cidade, com uma placa para um astrólogo, um serviço ao qual as famílias recorrem com frequência para prever uma data auspiciosa para o casamento.

“Às vezes, meus clientes não querem que as pessoas saibam que estão se encontrando com um detetive”, diz ela.

Não são apenas os pais preocupados que querem investigar seu futuro genro ou nora, mas também os casais que querem saber mais sobre seu futuro cônjuge e até mesmo, depois de casados, confirmar uma suposta infidelidade.

“É um serviço para a sociedade”, diz Sanjay Singh, um detetive de 51 anos, que afirma que sua agência lidou com ‘centenas’ de investigações pré-matrimoniais este ano.

A detetive particular Akriti Khatri explica que cerca de um quarto dos casos de sua agência, a Venus, são pré-matrimoniais.

“Algumas pessoas querem saber se o noivo é gay”, diz ela, citando um exemplo.

Os casamentos arranjados que unem duas famílias inteiras exigem uma cadeia de verificações, mesmo antes de o casal se falar, tais como verificações financeiras e, acima de tudo, seu status na antiga hierarquia de castas da Índia.

As uniões que rompem as rígidas divisões religiosas ou de castas podem ter repercussões mortais, às vezes levando aos chamados assassinatos de “honra”.

No passado, essas verificações pré-matrimoniais eram feitas por membros da família, padres ou casamenteiros profissionais.

Mas a rápida urbanização das megacidades abalou a sociedade, desafiando as formas tradicionais de verificação.

As uniões arranjadas agora também acontecem na Internet, por meio de sites de encontros ou aplicativos de namoro.

“As propostas de casamento também chegam pelo Tinder”, explica o detetive Singh.

AFP