Benoit PEYRUCQ
Dominique Pelicot, o principal acusado do macrojulgamento por estupro na França, elogiou nesta segunda-feira (16) a "coragem" da ex-mulher, Gisèle, a quem ele drogou por uma década para estuprá-la com homens desconhecidos, em suas últimas palavras antes do anúncio da sentença na quinta-feira (19).
"Gostaria de começar por saudar a coragem da minha ex-mulher", afirmou o homem de 72 anos no último dia de audiências no tribunal de Avignon, sul da França, onde também pediu que sua família aceite suas "desculpas".
"Lamento o que fiz, fazer sofrer (minha família) por quatro anos (quando os crimes foram revelados), peço perdão", disse.
Com as últimas palavras dos acusados, o julgamento foi interrompido para aguardar a sentença. Os 51 acusados saberão se serão condenados a partir de quinta-feira às 8H30 GMT (5H30 de Brasília), afirmou o presidente do tribunal, Roger Arata, ao anunciar o início das deliberações dos magistrados.
A vítima Gisèle Pelicot, que se tornou um símbolo mundial da luta contra a agressão sexual contra as mulheres, saiu do tribunal sob aplausos e gritos de "bravo" e "obrigado" do público presente.
Desde o início, em 2 de setembro, o julgamento ganhou manchetes em todo o planeta, em particular devido à recusa de Gisèle de um processo a portas fechadas e seu apoio à divulgação das imagens de estupro, marcadas pela frase: "Que a vergonha mude de lado".
Seu agora ex-marido, contra quem a Promotoria pediu em 25 de novembro a pena máxima possível de 20 anos de prisão por drogá-la para fazer com que fosse estuprada por estranhos entre 2011 e 2020, nunca negou as acusações e nesta segunda-feira insistiu que contou "toda a verdade".
- "Covardia" -
Ele também agradeceu ao tribunal por permitir que ele utilizasse uma cadeira especial durante o julgamento devido ao seu estado de saúde frágil, o que deixou o processo em um cenário de incerteza por alguns momentos, e a sua advogada por ajudá-lo a "não baixar os braços".
"Teria sido uma demonstração de covardia para com a minha família e uma maneira fácil para os acusados provarem que tinham razão. Então, eu permaneci firme", acrescentou Dominique Pelicot, que durante o julgamento contrariou os réus que alegaram que não sabiam que sua agora ex-mulher estava drogada.
O acusado disse que "a privação de não ver (sua) família é pior do que a privação da liberdade".
"Posso dizer a toda a minha família que os amo. Isso é tudo. Eles têm o resto da minha vida em suas mãos", concluiu, dirigindo-se aos cinco juízes profissionais do tribunal.
Apesar da previsão de veredicto para a manhã de quinta-feira, Arata explicou que a data "teórica" pode ser adiada para quinta-feira à tarde ou para a manhã de sexta-feira, dependendo da "duração de nossas deliberações.
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro com agravantes. O Ministério Público pediu entre 10 e 18 anos de prisão para 49 deles e quatro para o único acusado por "tocar" em Gisèle Pelicot.