Philip FONG
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, pediu desculpas neste sábado (7) pela declaração efêmera de uma lei marcial e deixou seu mandato nas mãos de seu partido, que está ameaçado por uma moção de destituição a ser votada no Parlamento esta tarde.
Yoon comoveu o país e a comunidade internacional na terça-feira à noite ao decretar, pela primeira vez desde a instauração da democracia em 1987, uma lei marcial e enviar soldados e tropas ao Parlamento.
Os deputados opositores, majoritários na câmara, conseguiram votar contra o decreto e forçaram Yoon a revogar a ordem na madrugada de quarta-feira, em uma noite de drama e manifestações de rua nesta nação-chave para o tabuleiro geopolítico dos Estados Unidos na Ásia.
Desde então, Yoon não tinha se pronunciado em público apesar da multiplicação dos pedidos de renúncia de manifestantes e oposição, que o acusam de "insurreição", mas também do líder de seu partido, que considera sua saída "inevitável".
"A declaração da lei marcial surgiu de minha urgência como presidente", explicou Yoon em um discurso televisionado na manhã deste sábado.
"Contudo, no processo, provoquei ansiedade e inconveniência à população. Me desculpo sinceramente ante os cidadãos que se sentiram muito angustiados".
Entretanto, o presidente não apresentou sua renúncia. "Deixarei nas mãos do meu partido estabilizar a situação política no futuro, incluído o meu mandato", assegurou.
- Divisão no partido governante -
O futuro do ex-procurador da Coreia do Sul, que se tornou presidente em 2022, será decidido esta tarde no Parlamento, durante a votação do processo de impeachment apresentado pela oposição.
A oposição conta com 192 das 300 cadeiras na câmara e apenas necessita de alguns votos do Partido do Poder Popular (PPP) de Yoon, que tem 108, para alcançar o mínimo de dois terços necessário para sua aprovação.
Contudo, o líder da oposição do Partido Democrata, Lee Jae-myung, disse à AFP que o sucesso da votação não está claro perante as divisões no partido de Yoon.
Na noite de sexta-feira, os deputados do PPP mantinham a posição inicial de se opor à moção de destituição, mas seu líder Han Dong-hoon assegurou neste sábado, após o discurso de Yoon, que "uma renúncia antecipada do presidente é inevitável".
Na sexta, Han assegurou que sua manutenção no cargo "colocaria a República de Coreia e seus cidadãos em grande perigo" e citou "indícios plausíveis" de que o presidente ordenou a prisão de políticos na noite em que decretou a lei marcial.
A polícia prevê que dezenas de milhares de manifestantes contrários a Yoon, cuja popularidade despencou para o mínimo de 13%, segundo uma pesquisa publicada nesta sexta, se reúnam ao redor da Assembleia Nacional.
Se a moção prosperar, Yoon ficaria suspenso de suas funções à espera de uma decisão da Corte Constitucional.
- 'Elementos antiestatais' -
Em seu discurso na noite de terça-feira, Yoon assegurou que a lei marcial serviria para proteger uma Coreia do Sul liberal das "ameaças representadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte" e "pelos elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do povo".
Em minoria no Parlamento desde as eleições de abril deste ano, Yoon mantinha uma dura queda de braço com os deputados opositores, que recentemente fizeram cortes no orçamento governamental para o próximo ano.
Embora a lei marcial proibisse as atividades políticas e as manifestações, deputados e milhares de manifestantes foram até o Parlamento, onde quase 300 soldados tentavam blindar o recinto.
Entretanto, os funcionários do Parlamento bloquearam a entrada dos soldados na câmara com sofás e extintores, enquanto os deputados, alguns dos quais tiveram que escalar as grades para entrar, votavam contra o decreto de Yoon.
O episódio trouxa à tona lembranças do doloroso passado autocrático da Coreia do Sul e surpreendeu seus aliados ocidentais, especialmente os Estados Unidos, que têm quase 30 mil soldados destacados no país diante da ameaça da Coreia do Norte.
Em uma conversa telefônica nesta sexta-feira, o secretário de Estado americano Antony Blinken disse a seu colega sul-coreano Choe Tae-yul que espera que "o processo democrático prevaleça".