O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, se disse disposto, nesta quarta-feira (6), para "trabalhar construtivamente" com o novo governo de Donald Trump, que, em sua administração anterior, não poupou os ataques à organização multilateral, nem aos cortes orçamentários.
"A cooperação entre Estados Unidos e Nações Unidas é um pilar essencial das relações internacionais", disse Guterres ao parabenizar o magnata republicano por sua vitória, com cuja administração está pronto para trabalhar "construtivamente" e "abordar os dramáticos desafios que o nosso mundo enfrenta".
A chegada do português ao Secretariado da ONU coincidiu com a de Trump à Casa Branca, em janeiro de 2017.
À época, Guterres teve que trabalhar a fundo para minimizar a política de Washington destinada a enfraquecer a cooperação multilateral, a razão de existir da ONU.
Trump reduziu as contribuições financeiras a agências-chave da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e ao orçamento das operações de manutenção da paz.
Além disso, retirou os Estados Unidos da Unesco e do Acordo de Paris sobre o Clima, que luta contra o aquecimento global, uma prioridade de Guterres.
Alguns observadores estão agora especialmente preocupados com o financiamento de programas relacionados com os direitos reprodutivos.
- 'Preparando-se há algum tempo' -
"Acho que Guterres e sua equipe vêm se preparando há algum tempo e projetando o retorno de Trump. Esperam que os Estados Unidos reduzam de forma bastante drástica o financiamento em muitos setores da ONU", opina Richard Gowan, analista do International Crisis Group, no momento em que a organização enfrenta uma crise orçamentária.
"O fato de que tiveram diferenças de opinião sobre uma série de temas estava claro para todos", disse nesta quarta Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, que, no entanto, acrescentou que ambos mantêm "relações muito boas".
Em quatro anos, o mundo mudou, sobretudo nos últimos 12 meses, marcados pela escalada de conflitos no Oriente Médio.
O secretário-geral não faz rodeios ao denunciar o "pesadelo" vivido pelos palestinos na Faixa de Gaza, arrasada pelas represálias israelenses após os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023.
As críticas a Israel fizeram com que "muitos membros do partido republicano no Congresso se voltassem violentamente contra a ONU", o que tornará "mais difícil" para Guterres "administrar suas relações com Washington", afirma Gowan.
Com o pano de fundo das críticas de Israel à ONU e a seu líder, o embaixador israelense Danny Danon parabenizou Trump por sua vitória na terça-feira.
"Israel e Estados Unidos compartilham os mesmos valores, o mesmo futuro e os mesmos inimigos", declarou o diplomata em um vídeo publicado no X.
"Confio em que o presidente Trump e sua equipe vão continuar apoiando Israel nas Nações Unidas, contra a hipocrisia e o ódio que enfrentamos neste edifício", acrescentou.
Resta saber quem Trump vai escolher para representar os Estados Unidos na organização.
Durante o seu primeiro mandato, ele nomeou inicialmente Nikki Haley, que se destacava por sua franqueza, antes de ela renunciar. Mais tarde, Haley se tornou sua adversária nas primárias republicanas de 2024.