Anne-Christine POUJOULAT
A lenda do cinema francês, Gérard Depardieu, não compareceu nesta segunda-feira (28) ao julgamento em que é acusado de agredir sexualmente duas mulheres e pedirá o adiamento do processo por motivos de saúde.
O ator, de 75 anos, é a figura de maior destaque a enfrentar acusações de agressão sexual naquela que é considerada a versão francesa do #MeToo, que começou com denúncias contra o produtor americano Harvey Weinstein em 2017.
Depardieu, que atuou em mais de 200 filmes, deveria comparecer ao tribunal, com sede em Paris, às 13h30 (09h30 no horário de Brasília). Mas horas antes do início do julgamento, o advogado Jérémie Assous informou que o seu cliente não poderia estar presente.
"Infelizmente, os seus médicos proibiram-no de comparecer hoje", declarou o advogado, acrescentando que pediria ao tribunal um adiamento de seis meses para que Depardieu pudesse se defender.
Cerca de 100 pessoas, a maioria mulheres, protestaram em frente ao tribunal. "Acreditamos nas vítimas, vemos os estupradores", gritavam.
O ator já foi acusado por cerca de 20 mulheres de violência sexual e enfrenta duas denúncias neste julgamento.
"Nunca abusei de uma mulher", disse o intérprete em uma carta aberta publicada pelo jornal Le Figaro em outubro de 2023.
- "Espero que a justiça seja igual para todos" -
A primeira denúncia foi apresentada em fevereiro de 2024 por uma designer de produção que o acusa de agressão sexual, assédio sexual e insultos sexistas durante as filmagens do filme "Les Volets Verts", de Jean Becker, em 2021.
"Espero que a justiça seja igual para todos e que o senhor Depardieu não receba tratamento especial só porque é um artista", disse à AFP Carine Durrieu-Diebolt, advogada da demandante.
"Minha cliente espera que os tribunais determinem que Gérard Depardieu é um agressor sexual em série", acrescentou.
Depardieu é "objeto de acusações mentirosas", defendeu Jérémie Assous, que acusou a denunciante de 55 anos de buscar uma indenização de 30.000 euros (32.500 dólares ou 186.129 reais na cotação atual).
O ator também enfrenta uma segunda denúncia feita por outra mulher, assistente de direção do mesmo filme e que o acusa de abusos sexuais.
Anouk Grinberg, uma das atrizes do filme, disse à AFP que Depardieu usava "palavras obscenas (...) da manhã até a noite".
"Quando os produtores contratam Depardieu para trabalhar em um filme, sabem que estão contratando um agressor", denunciou.
A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a apresentar uma denúncia. Em agosto, a Promotoria de Paris solicitou que o ator fosse julgado por estupros e agressões sexuais.
Outra investigação também está em andamento em Paris após uma denúncia de uma ex-assistente de cinema que acusa Depardieu de agressão sexual em 2014.
A jornalista e escritora espanhola Ruth Baza também apresentou uma denúncia na Espanha contra o ator por estupro, por fatos que supostamente ocorreram na capital francesa em 1995.