ANDREW CABALLERO-REYNOLDS
Um novo fenômeno na juventude americana pode ser decisivo no dia 5 de novembro nos EUA: as mulheres se inclinam à Kamala Harris, enquanto cada vez mais homens estão inclinados a votar em Donald Trump.
Ainda que a juventude americana seja majoritariamente progressista, o ex-presidente republicano e a vice-presidente democrata perceberam esta nova dinâmica - revelada em pesquisas de opinião - e suas agendas de campanha para esta sexta-feira (25) ilustram isso.
Trump, que se reuniu com diversos influenciadores que vão desde o mundo do kickboxing até as criptomoedas, viajará para o Texas para participar do programa de Joe Rogan, um podcaster com milhões de seguidores e muito popular entre os homens mais jovens.
Em uma eleição extremamente disputada, o ex-presidente republicano aposta inclinar a balança a seu favor graças ao apoio dos jovens masculinos, atraídos por sua política machista, seus negócios imobiliários e sua paixão por falar sobre esportes.
Kamala também estará no Texas para focar nas mulheres jovens. Acompanhada pela rainha do pop Beyoncé, a vice-presidente fará um discurso em defesa ao direito do aborto em um estado onde foram aplicadas algumas das restrições mais rígidas do país.
Em setembro, uma pesquisa da Universidade de Harvard com eleitores de ambos os gêneros, entre 19 e 29 anos, revelou que 70% das mulheres têm a intenção de votar em Kamala e 23% em Trump. Entre os homens, a vice-presidente conta com 53% das intenções de voto e o ex-presidente com 36%.
Outra pesquisa, publicada pela NBC, é mais reveladora: na mesma faixa etária, 59% das mulheres optam pela democrata e 26% pelo republicano. No entanto, entre os homens, os candidatos estão quase empatados, com 42% para Kamala e 40% para Trump.
- Aborto e preços -
"Estou preocupada com os direitos das mulheres e especialmente com os cuidados com a saúde. Já estão tratando de vetar nosso direito ao aborto, o que mais podem nos vetar? Qual será a próxima coisa?", se pergunta Madeline Tena, de 18 anos, e estudante de medicina no Arizona.
Sua conclusão é clara após seguir a campanha pelo TikTok "vou votar em Kamala porque, pelo o que vi nas redes sociais, Kamala parece muito melhor que Trump", que, em sua opinião "é realmente infantil".
Zackree Kline, de 21 nos, já decidiu que votará em Trump porque ele foi bom para a economia do país.
"Eu sei que muita gente é a favor de Trump porque tudo era mais barato quando ele era presidente", disse Kline, que trabalha de segunda a domingo em uma funerária na Pensilvânia para ter uma renda mensal.
A professora de ciências políticas da Universidade de Chatham, Jennie Sweet-Cushman, destaca algo mais profundo: a divisão crescente na juventude americana sobre como eles veem seu futuro.
As mulheres desejam cada vez mais se graduarem na universidade e são menos "suscetíveis" ao campo republicano, ao contrário dos homens, que apoiam cada vez mais o partido.
"Quando pergunto aos meus alunos se pensam em ter filhos, os homens jovens acreditam que terão algum dia. E quase nenhuma mulher" deseja isso, afirma.
- Política e religião -
Vários estudos mostram que um número crescente de mulheres jovens estão abandonando concepções conservadoras sobre a família, relacionamento e sexualidade, e também se distanciam da religião, em um país onde a fé e a política podem estar intimamente ligadas.
Uma pesquisa de abril do "Survey Center on American Life" revelou que depois da Segunda Guerra Mundial, os homens tendiam mais que as mulheres a abandonar a religião em que foram criados.
Na geração Z, que nasceu entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, a tendência é oposta: 54% das mulheres deixaram a sua religião.
É impossível determinar se essa dinâmica de gênero será decisiva no dia 5 de novembro devido às múltiplas variáveis em uma eleição tão acirrada, na qual o voto é indireto e a votação em sete estados é decisiva para o resultado.
No entanto, uma coisa é clara: historicamente, as mulheres votam mais.
"As mulheres têm superado em número e voto os homens nos últimos 40 anos na política americana. E não existe um indicador de que isso seja diferente em 2024", observa Kelly Dittmar, professora de Ciências Políticas na Universidade de Rutgers.