Alexander NEMENOV
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu nesta terça-feira (22) à Rússia, durante uma reunião com o presidente Vladimir Putin, o retorno rápido da paz na Ucrânia, no âmbito da cúpula dos Brics na cidade russa de Kazan.
"Acreditamos que as disputas só devem ser resolvidas pacificamente. Apoiamos totalmente os esforços para restaurar rapidamente a paz e a estabilidade", disse o líder indiano ao presidente russo.
Modi explicou que estava "em contato constante" com Putin, que saudou a "aliança estratégica" com a Índia por ocasião desta cúpula de países emergentes com a qual o presidente russo aspira demonstrar o fracasso da política ocidental de isolamento e sanções contra Moscou.
Modi tenta manter um equilíbrio delicado entre relações historicamente fortes com Moscou e o seu desejo de se aproximar do Ocidente para combater a China, o seu principal rival regional.
Desde 2022, o líder indiano se absteve de condenar a ofensiva russa na Ucrânia, defendendo o diálogo e oferecendo-se inclusive como mediador. A Ucrânia também estará na agenda da cúpula de quinta-feira, com um encontro anunciado pelo Kremlin entre Putin e António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.
No entanto, a ONU não confirmou a reunião, a primeira na Rússia entre os dois desde abril de 2022, após o início do ataque russo à Ucrânia.
Seguindo o primeiro-ministro indiano e alinhado com o seu objetivo de competir com a "hegemonia" ocidental, Putin se reunirá com o presidente chinês, Xi Jinping.
Segundo o Kremlin, a cúpula dos Brics, organização de países emergentes, é "o evento diplomático mais importante já organizado na Rússia".
A Rússia ganha terreno militarmente na Ucrânia e forjou alianças com a China, o Irã e a Coreia do Norte, os maiores adversários dos Estados Unidos.
- Contra a hegemonia do dólar -
Putin iniciou sua maratona diplomática nesta terça-feira com uma entrevista com a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como banco dos Brics.
O presidente russo reiterou o desejo de "um aumento dos pagamentos em moedas nacionais" entre os países dos Brics, o que segundo ele "reduzirá os riscos políticos externos".
A Rússia, sujeita às sanções econômicas ocidentais e com os seus principais bancos excluídos da plataforma internacional de pagamentos Swift, defende a criação de um sistema alternativo à hegemonia do dólar.
O chefe de Estado russo manterá conversações na quarta-feira com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo país, membro da Otan, pediu para aderir aos Brics, e com o presidente iraniano, Masud Pezeshkian.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cancelou sua viagem e participará por videoconferência.
Putin também concederá uma coletiva de imprensa na quinta-feira, no final da reunião.
O presidente russo limitou os seus deslocamentos ao exterior desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra ele em março de 2023 por seu suposto envolvimento na deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia, o que Moscou nega.
Portanto, o Kremlin considera "crucial" demonstrar que "existe uma alternativa às pressões ocidentais (…) e que o mundo multipolar é uma realidade", segundo o analista político russo Konstantin Kalachev.
Apesar da anexação da Crimeia em 2014 e de outras regiões ucranianas que reivindica como suas, a Rússia apresenta a sua ofensiva como um conflito provocado pelas ambições hegemônicas dos Estados Unidos.
No entanto, as potências ocidentais e o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acreditam que o Kremlin deseja dominar os seus vizinhos, que estiveram na esfera de Moscou até o final da Guerra Fria.
O grupo dos Brics foi criado em 2009 com quatro membros (Brasil, China, Índia e Rússia) e em 2010 incorporou a África do Sul. Em 2024, outros quatro países aderiram ao bloco (Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos).