Duas mulheres votam na cidade de Hirbovat, em 20 de outubro de 2024
Daniel MIHAILESCU
Duas mulheres votam na cidade de Hirbovat, em 20 de outubro de 2024
Daniel Mihailescu

Os moldávios aprovaram por margem apertada o objetivo de blindar o processo de adesão à União Europeia (UE) na Constituição, em um referendo acirrado que levou a presidente do país, a europeísta Maia Sandu, a denunciar interferências estrangeiras, em uma referência velada à Rússia.

De modo paralelo ao referendo, a Moldávia também celebrou eleições presidenciais no domingo. Sandu, economista de 52 anos, foi a mais votada no primeiro turno, mas precisará disputar um segundo turno difícil.

Na primeira reação oficial, no domingo à noite, a presidente Sandu denunciou um "ataque sem precedentes contra a democracia".

Nesta segunda-feira, a presidente afirmou que seu campo "venceu justamente em uma disputa injusta", tanto no referendo da UE quanto no primeiro turno das eleições presidenciais.

"Vencemos a primeira batalha em uma luta difícil que determinará o futuro do nosso país. Nós lutamos de forma justa e vencemos de forma justa em uma disputa injusta", afirmou Sandu em um vídeo, no qual convoca as pessoas a votar no segundo turno do próximo mês.

O Kremlin exigiu "evidências" das "graves acusações" e denunciou "anomalias" na contagem dos votos do referendo organizado na ex-república soviética fronteiriça com a Ucrânia.

A Comissão Europeia afirmou que a eleição presidencial e o referendo de domingo na Moldávia aconteceram em meio a uma "interferência sem precedentes" da Rússia.

"Tomamos nota de que esta votação ocorreu sob interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus aliados para desestabilizar o processo político moldávio", disse o porta-voz da Comissão, Peter Stano.

Durante boa parte da apuração, o 'Não' liderou a disputa do referendo, mas os votos da diáspora mudaram o resultado final. Após a contagem de 99% dos votos, o 'Sim' tem uma leve vantagem, com 50,28% dos votos, informou a autoridade eleitoral.

"Grupos criminosos, que atuam em comum acordo com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais, atacaram o nosso país com dezenas de milhões de euros, mentiras e propaganda, para fazer nosso país cair na incerteza e na instabilidade", denunciou Sandu.

A Moldávia, com 2,6 milhões de habitantes, fica entre Romênia e Ucrânia, país invadido por Moscou em fevereiro de 2022. A nação tem uma região separatista pró-Rússia no sudeste de seu território, chamada Transnístria, que abriga uma guarnição de soldados russos.

- Segundo turno difícil -

Sandu, que virou as costas a Moscou após a invasão russa da Ucrânia, apresentou a Bruxelas, sede do Executivo europeu, a candidatura de seu país para integrar a UE. Ela convocou o referendo para validar sua estratégia, mas sua estratégia bateu em um muro.

Sem colocar em dúvida as negociações de adesão com os 27 Estados-membros, a vitória apertada "enfraquece um pouco a imagem pró-europeia da população e a liderança de Maia Sandu", comentou o cientista político francês Florent Parmentier, especialista na região.

A presidente da Moldávia tornou-se em 2020 a primeira mulher a ocupar um dos principais cargos do país. Em apenas quatro anos, a ex-economista do Banco Mundial com fama de incorruptível tornou-se uma importante figura europeia de destaque.

Antes do referendo, a Moldávia deu motivos de esperança a Bruxelas, em um contexto geopolítico complicado, com a Ucrânia em guerra e a Geórgia acusada de autoritarismo pró-Rússia, destacou o cientista político.

Mas após o resultado apertado, a vitória de Sandu no segundo turno da eleição presidencial, em 3 de novembro, não é uma certeza.

Sandu liderou o primeiro turno, com quase 42% dos votos. No segundo turno, ela enfrentará Alexandr Stoianoglo, candidato de 57 anos apoiado pelos socialistas pró-Rússia, que recebeu 26% dos votos.

O candidato pode receber os votos de muitos candidatos pequenos e "a terrível armadilha do 'Todos contra Sandu'" pode prejudicar a atual presidente, aponta o analista.

Durante a campanha, Stoianoglo pediu a "restauração da justiça" diante de um governo que, segundo a oposição, estava disposto a cortar direitos. Ele também defendeu uma política externa "equilibrada", da UE à Rússia.

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