Países da UE devem reconhecer mudança formal da identidade de gênero realizada em outro Estado-membro

Os membros da União Europeia devem reconhecer uma mudança formal de identidade de gênero obtida em outro país do bloco, decidiu nesta sexta-feira (3) a Justiça europeia no caso de um cidadão transgênero romeno que...

Uma imagem da sede do Tribunal de Justiça da União Europeia, em Luxemburgo, tirada em 13 de janeiro de 2020
Foto: John Thys
Uma imagem da sede do Tribunal de Justiça da União Europeia, em Luxemburgo, tirada em 13 de janeiro de 2020
John Thys

Os membros da União Europeia devem reconhecer uma mudança formal de identidade de gênero obtida em outro país do bloco, decidiu nesta sexta-feira (3) a Justiça europeia no caso de um cidadão transgênero romeno que realizou os trâmites no Reino Unido.

A recusa de um país "em reconhecer e registrar na certidão de nascimento de um cidadão a alteração do nome e da identidade de gênero legalmente adquiridos em outro Estado-membro é contrária ao Direito da União", declarou o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).

Tal negativa "dificulta o exercício do direito de livre circulação e residência", afirmou o tribunal.

"A divergência entre identidades (...) cria dificuldades na prova da identidade no cotidiano, além de graves inconvenientes profissionais, administrativos e privados", afirmou.

Segundo este tribunal com sede em Luxemburgo, "o fato de obrigar o interessado a iniciar um novo procedimento de mudança de identidade de gênero" na Romênia não se justifica, "expondo-o ao risco de que isso conduza a um resultado diferente" devido à menor sensibilização no país em relação aos direitos das minorias sexuais.

O caso foi remetido ao TJUE por um tribunal de Bucareste depois de Arian Mirzarafie-Ahi, um homem transgênero com dupla nacionalidade romena e britânica, denunciar autoridades romenas por se recusarem a emitir uma nova certidão de nascimento.

A associação Accept, que defende os direitos das pessoas LGBTQIA+ na Romênia, saudou esta "grande vitória das pessoas transgênero" em uma conferência de imprensa, destacando que se trata da "primeira decisão" deste tipo pelo TJUE.

Segundo o tribunal, o Brexit não influencia o litígio, já que a mudança de gênero foi obtida antes de o Reino Unido sair efetivamente da UE.

- "É uma vitória" -

Mirzarafie-Ahi foi registrado na Romênia como pessoa do sexo feminino antes de se mudar para o Reino Unido em 2008, onde foi reconhecida a sua identidade de gênero masculino em 2020.

Após a mudança, pediu sem sucesso a seu país de origem que emitisse uma nova certidão de nascimento.

"Chorei quando soube da notícia. É uma vitória que esperava há tantos anos. Agora espero ter uma vida mais plena", reagiu o professor de biologia de 32 anos.

A homossexualidade só foi descriminalizada no início dos anos 2000 na Romênia e o país não permite o casamento ou a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, condenou Bucareste no ano passado após a denúncia apresentada por 21 casais homoafetivos para que sua união fosse reconhecida.

A Igreja ortodoxa, muito influente no país, denunciou então "a associação cívica, fonte tóxica responsável pela dissolução da autoridade moral da família".

Nos últimos anos, a Romênia multiplicou as tentativas de restringir os direitos da comunidade LGBTQIA+. Bucareste tentou, entre outros, proibir os estudos de gênero e inscrever a proibição do casamento homoafetivo na Constituição.

AFP