Trump impulsiona o 'medo dos vermelhos' contra Kamala Harris

"Todos sabem que ela é marxista", disse Donald Trump sobre Kamala Harris durante o debate televisivo, utilizando mais uma vez uma retórica recorrente nos Estados...

Donald Trump durante as cerimônias em homenagem aos mortos nos ataques de 11 de setembro, em Nova York, no dia 11 de setembro de 2024
Foto: Adam GRAY
Donald Trump durante as cerimônias em homenagem aos mortos nos ataques de 11 de setembro, em Nova York, no dia 11 de setembro de 2024
Adam GRAY

"Todos sabem que ela é marxista", disse Donald Trump sobre Kamala Harris durante o debate televisivo, utilizando mais uma vez uma retórica recorrente nos Estados Unidos, a do "medo dos vermelhos".

O objetivo do ex-presidente e atual candidato republicano é apresentar sua adversária democrata como uma perigosa extremista de esquerda.

Nas últimas semanas, Trump aumentou suas acusações à vice-presidente, chamando-a de "marxista" e "comunista" ou de "camarada Kamala", embora Harris nunca tenha deixado de defender o capitalismo.

A democrata mantém teses completamente distantes daquela apresentada por Karl Marx no século XIX ou às diversas correntes de esquerda radical que derivaram de seu pensamento no século seguinte.

Kamala "não é marxista, não é comunista", argumenta o professor da American University Thomas Zeitzoff. Mas para o lado republicano, usar tais termos "é uma forma de colocar (seus rivais) no extremo", disse à AFP este especialista em violência política.

Trump recorre assim a uma velha tática da história política americana: a do "red baiting" (isca vermelha, em tradução livre), que consiste em provocar e assustar agitando um pano vermelho.

- Paranoia -

A estratégia consiste em colocar "um rótulo de comunista, socialista ou vermelho" em um opositor político, "não só para difamá-lo, mas para forçá-lo a responder e a revelar traços desagradáveis", explica Barbara Perry, professora de Estudos Presidenciais na Universidade da Virgínia.

Segundo a especialista, termos como "comunista", "socialista" e "vermelho" são "muito conotados neste país", marcado por diversas ondas de "medo dos vermelhos" após as duas guerras mundiais, períodos em que os Estados Unidos tenderam a "voltar a si próprios" diante do medo da expansão da ideologia marxista.

Na década de 1950, em um contexto de rivalidade com a União Soviética, esta prática se difundiu no macarthismo, batizado em homenagem ao senador Joseph McCarthy, o principal "perseguidor de vermelhos e caçador de bruxas" no Congresso americano, explicou Perry.

Este ferrenho conservador alertou sobre a suposta infiltração de comunistas em todas as camadas da sociedade americana, criando um clima geral de paranoia.

"O 'red baiting' tem uma longa história nos Estados Unidos e é interessante ver como ela está voltando hoje", destacou Zeitzoff.

Mas para este pesquisador, a conexão entre McCarthy e Trump é Roy Cohn, um advogado que foi conselheiro do senador e posteriormente serviu como mentor do magnata na década de 1970.

- A metáfora do espaguetes -

Kamala Harris tornou-se candidata do Partido Democrata às eleições presidenciais de novembro há apenas algumas semanas.

Logo, Trump recorreu à "red baiting", por um lado, para difamá-la, e por outro, para alimentar o medo entre os americanos que não a conhecem suficientemente bem.

Para explicar esta escolha, tanto Zeitzoff como Perry recorrem à mesma imagem: à dos "espaguetes atirados contra uma parede para ver quantos colam".

O ex-presidente pretende, de todas as formas, atrair um determinado grupo de eleitores simplesmente "acusando Kamala Harris de ser marxista", sobretudo os hispânicos e latinos, diz Zeitzoff.

Para Barbara Perry, Trump também se dirige a outro setor da população: os mais idosos. "São pessoas que se lembram do auge da Guerra Fria" e que acreditam "ainda hoje que o comunismo é ruim".

Em seu livro "Nasty Politics", Zeitzoff demonstra como este tipo de retórica, que utiliza insultos, teorias conspiratórias e campanhas de intimidação, utilizada por líderes políticos em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos, tem se mostrado ineficaz para convencer os eleitores.

Mas também é verdade que as próximas eleições americanas serão "muito acirradas" e definidas por "margens muito estreitas", acrescentou.

AFP