O Hamas acusou nesta quinta-feira (5) Benjamin Netanyahu de tentar "frustrar" um acordo de trégua em Gaza, depois que o primeiro-ministro israelense afirmou que o grupo islamista palestino "recusou todos" os pontos nas negociações.
A troca de acusações acontece no momento em que Netanyahu enfrenta uma pressão crescente para concretizar um acordo de libertação dos reféns sob poder do Hamas, depois que as autoridades israelenses anunciaram no fim de semana que recuperaram os corpos de seis sequestrados em um túnel em Gaza.
"Estamos tentando encontrar algum espaço para começar as negociações", disse o premiê na quarta-feira. "Eles se negam (...) Dizem que não há nada para conversar".
Netanyahu afirmou que as forças israelenses manterão o controle do corredor Filadélfia, um ponto-chave na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, e prometeu que não cederá "às pressões sobre este tema".
O Hamas exige uma retirada total das tropas israelenses da área e afirmou nesta quinta-feira que a insistência Netanyahu na zona de fronteira "busca frustrar um acordo".
O grupo palestino afirma que um novo acordo é desnecessário porque aceitou, há vários meses, uma proposta de trégua apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
"Não precisamos de novas propostas", afirmou o Hamas no Telegram.
"Fazemos um alerta contra cair na armadilha de Netanyahu e seus erros, que utiliza as negociações para prolongar a agressão contra o nosso povo", acrescentou o Hamas no comunicado.
- "Não em caixões" -
Em vários protestos esta semana em Israel, os críticos de Netanyahu o responsabilizaram pelas mortes dos reféns por se recusar a fazer as concessões que permitiriam alcançar um uma trégua.
"Esperamos que retornem com vida e não em caixões", declarou Anet Kidron, do kibutz Beeri, albo de um ataque do Hamas em 7 de outubro.
Netanyahu afirmou que persistem as dúvidas sobre os prisioneiros palestinos que seriam trocados por reféns israelenses.
Mas o Catar, que atua como mediador nas negociações, alertou na terça-feira que a posição israelense "é baseada em uma tentativa de falsificar os fatos e enganar a opinião pública mundial com a repetição de mentiras".
O Ministério das Relações Exteriores do Catar acrescentou que isto "levará ao fim dos esforços de paz".
O conflito foi desencadeado em 7 de outubro, quando um ataque de combatentes do Hamas em Israel provocou a morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais israelenses.
Além disso, os combatentes islamistas sequestraram 251 pessoas: 97 continuam retidas em Gaza e 33 morreram, de acordo com o Exército israelense.
Em resposta ao ataque, Israel lançou uma vasta retaliação que já deixou 40.861 mortos no território palestino, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.
A maioria dos mortos são mulheres e crianças, segundo a ONU.
- Mortes na Cisjordânia -
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que o Exército deve usar "toda sua força" contra os combatentes palestinos na Cisjordânia ocupada.
Ele disse que as organizações com nomes diferentes e com bases em várias cidades da Cisjordânia "devem ser eliminadas".
O Exército de Israel anunciou nesta quinta-feira que um avião "efetuou três ataques seletivos contra terroristas armados" na área de Tubas, na Cisjordânia, que inclui o campo de refugiados de Faraa.
A Sociedade do Crescente Vermelho palestina afirmou em um comunicado que o ataque deixou cinco mortos e uma pessoa gravemente ferida.
Testemunhas relataram que vários soldados israelenses entraram no campo de Faraa, onde foram ouvidas explosões.
Israel iniciou em 28 de agosto uma grande ofensiva no norte da Cisjordânia, onde enfrentou combatentes palestinos e provocou uma grande destruição.
As tropas israelenses mataram mais de 30 palestinos na ofensiva, incluindo crianças e combatentes, afirmou o Ministério da Saúde do território.
Um soldado israelense morreu em Jenin, cidade que registrou o maior número de vítimas palestinas.
"O pânico se propagou quando o Exército explodiu tudo ao redor sem considerar que havia crianças", disse à AFP Hanan Natour, morador do campo de refugiados de Jenin.
- Campanha de vacinação -
As doenças se propagaram por Gaza, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes se viu obrigada a fugir de suas casas, seguindo para campos lotados e insalubres.
Além disso, o Exército israelense arrasou bairros para ampliar a 'zona tampão' entre Israel e Gaza.
A Anistia Internacional pediu que estas ações sejam investigadas "como crimes de guerra de destruição gratuita e punição coletiva".
A crise humanitária em Gaza provocou o primeiro caso de pólio no território em 25 anos, o que gerou uma grande campanha de vacinação que começou no domingo graças a "pausas humanitárias" localizadas nos combates.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 200 mil crianças no centro de Gaza receberam a primeira dose da vacina contra a pólio. As autoridades esperam alcançar a marca de mais 640 mil crianças em todo o território nas próximas quatro semanas.