Torre Grenfell, dia do incêndio que causou 72 vítimas, 14 de junho de 2017
Natalie OXFORD
Torre Grenfell, dia do incêndio que causou 72 vítimas, 14 de junho de 2017
Natalie OXFORD

O incêndio na Torre Grenfell, em Londres, que matou 72 pessoas em 2017, incluindo muitos migrantes, foi o resultado de "décadas de falhas" por parte do governo e de órgãos do setor da construção, segundo uma investigação publicada nesta quarta-feira (4).

Sete anos após o pior incêndio residencial no Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial, a investigação independente concluiu que as chamas que surgiram na madrugada de 14 de junho de 2017 se espalharam rapidamente pelo bloco de habitação social de 24 andares no oeste de Londres, devido ao revestimento altamente inflamável fixado no exterior do edifício.

Nessa tragédia, um congelador defeituoso no quarto andar iniciou um incêndio, que se propagou em alta velocidade pelo edifício, habitado majoritariamente por migrantes, apesar de estar localizado no bairro nobre londrino de North Kensington, devido ao revestimento da sua fachada, feito de chapas de alumínio e polietileno.

A investigação independente, liderada pelo juiz aposentado Martin Moore-Bick, critica o governo e outros órgãos influentes sobre a reforma de Grenfell que levou à instalação de revestimentos e outros materiais perigosos.

O incêndio foi "o resultado de décadas de falhas do governo central e de outras organizações que ocupam cargos de responsabilidade no setor da construção", concluíram os autores da investigação, em um relatório que destaca também a "desonestidade sistemática" por parte das empresas de materiais do setor imobiliário.

"Eles se envolveram em estratégias deliberadas e sustentadas para manipular processos de testes, deturpar dados de testes e enganar o mercado", afirma a investigação.

Estas mortes "poderiam ter sido todas evitadas", disse o juiz Martin Moore-Bick.

"As pessoas que viviam na torre foram gravemente negligenciadas durante vários anos pelos responsáveis por garantir a segurança do edifício e dos seus ocupantes", acusou este ex-juiz.

O governo trabalhista afirma que isto "nunca mais acontecerá", prometeu o primeiro-ministro, Keir Starmer, em um comunicado após a publicação do relatório.

- Críticas ao Corpo de Bombeiros -

O Corpo de Bombeiros de Londres (LFB) também é alvo de fortes críticas e seus oficiais superiores foram descritos como "complacentes".

O serviço não aprendeu as lições de um incêndio anterior em 2009, que "deveria ter alertado o LFB para deficiências na sua capacidade de combater incêndios em edifícios altos".

Os moradores que ligaram para os serviços de emergência foram orientados a permanecer em seus apartamentos e esperar por ajuda. Amplamente criticada, esta instrução foi modificada desde então.

Os familiares e sobreviventes continuam esperançosos de que este relatório permitirá que os responsáveis sejam punidos com penas de prisão.

"Eles tomaram decisões colocando os lucros antes da segurança das pessoas. Para mim, não há justiça sem que as pessoas sejam presas", disse a colombiana Sandra Ruiz, cuja sobrinha, Jessica Urbano Ramírez, de apenas 12 anos, morreu na tragédia.

Jéssica era filha de Ramiro Urbano e Adriana Ramírez, casal colombiano que morava em um dos apartamentos do prédio de 24 andares.

O casal conseguiu escapar antes que as chamas os alcançassem, mas a filha ficou presa no 20º andar do prédio.

- Boletim policial em 2025 -

Famílias inteiras ficaram presas nas chamas. Abdulaziz El Wahabi, de 52 anos, morreu junto com sua esposa Faouzia, de 41, e seus três filhos, o mais novo, Mehdi, de oito.

A vítima mais jovem foi um bebê de seis meses, Leena Belkadi. A última vítima foi a espanhola María Pilar Burton, de 74 anos, que morreu em consequência dos ferimentos em janeiro de 2018, sete meses após a tragédia.

De acordo com o comissário dos Bombeiros de Londres, Andy Roe, há cerca de 1.300 edifícios na cidade que ainda necessitam de obras urgentes de "renovação".

A Polícia Metropolitana de Londres avisou que não poderá apresentar o seu relatório antes do final de 2025. Os promotores precisarão então de um ano para decidir sobre possíveis acusações criminais.

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