Agentes da polícia e dos serviços de emergência ajudam os migrantes que chegam ao porto da Restinga, na ilha de El Hierro, em 18 de agosto de 2024, nas Ilhas Canárias
Antonio Sempere
Agentes da polícia e dos serviços de emergência ajudam os migrantes que chegam ao porto da Restinga, na ilha de El Hierro, em 18 de agosto de 2024, nas Ilhas Canárias
Antonio Sempere

O governo do socialista Pedro Sánchez enfrenta uma alta expressiva da chegada de imigrantes irregulares à Espanha, principalmente às Ilhas Canárias, que se sentem abandonadas por Madri e pela Europa.

Os guardas costeiros não passam um dia sequer sem relatarem a chegada de pelo menos uma embarcação precária transportando dezenas de imigrantes africanos ao arquipélago canário, situado frente à costa noroeste do continente africano.

Diante dessa situação, Sánchez realiza uma viagem de terça (27) a quinta-feira por três países de onde partem muitos dos imigrantes: Mauritânia, Gâmbia e Senegal.

A Mauritânia tornou-se o principal ponto de saída de imigrantes. Segundo uma fonte da presidência do governo espanhol, o país abriga cerca de 200.000 refugiados vítimas da instabilidade no Sahel, entre eles muitos malineses, potenciais candidatos a seguir para as Canárias.

Espera-se que Sánchez ofereça ajuda a esses países — em particular à Mauritânia, que ele já visitou em fevereiro — para incentivá-los a fazer todo o possível para impedir as saídas.

O presidente regional das Canárias, Fernando Clavijo, pediu à União Europeia que assuma suas responsabilidades, para que a região "não tenha que suportar sozinha toda a pressão migratória da Europa", pois esses imigrantes "chegam à Europa, chegam à Espanha, não chegam apenas às Canárias".

As Canárias, e em geral a Espanha, são frequentemente apenas uma escala no caminho para outros países europeus.

- Recorde pode ser superado -

22.304 imigrantes chegaram às Canárias entre 1º de janeiro e 15 de agosto deste ano, em comparação com os 9.864 do mesmo período do ano passado, um aumento de 126%. Para o conjunto da Espanha, o aumento é de 66,2% (de 18.745 para 31.155), segundo cifras oficiais.

Previsivelmente, a tendência de alta aumentará até o final do ano, devido à melhoria das condições de navegação nesta área do Atlântico.

O recorde de 39.910 chegadas registrado no ano passado pode ser superado, o que confirma que a rota para as Canárias se tornou a principal de imigrantes para a Espanha, apesar de sua extrema periculosidade, que provoca a morte de milhares deles a cada ano.

Mas as Canárias não são a única região do sul da Espanha afetada pelo fenômeno. Ceuta, um enclave espanhol na costa norte de Marrocos, também registrou um forte aumento de chegadas nas últimas semanas.

Ceuta e Melilla, o outro enclave espanhol, são as duas únicas fronteiras terrestres da UE com o continente africano.

Nessas áreas, o problema mais urgente é o dos menores imigrantes que chegam desacompanhados, cuja situação tem importantes implicações para a política interna.

- "À beira do colapso" -

Na Espanha, os imigrantes irregulares adultos estão sob a jurisdição financeira do Estado central, mas os menores de 18 anos são responsabilidade exclusiva das regiões.

Por isso, as regiões espanholas situadas na linha de frente estão sobrecarregadas com a explosão do número de menores imigrantes que precisam ser atendidos.

Nas Canárias, o governo regional acolhe 5.100 menores estrangeiros, enquanto a capacidade de seus centros é de apenas 2.000 pessoas. A situação é semelhante em Ceuta.

As Canárias estão "à beira do colapso", afirmou Clavijo em uma entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal El Mundo, alertando para "uma hecatombe" se a situação piorar.

Para resolver o problema, o governo de Sánchez tentou que o Parlamento votasse em julho uma emenda à lei de imigração, com o objetivo de conceder ao governo central o direito de distribuir menores estrangeiros entre todas as regiões do país.

Mas a oposição de direita e extrema direita, assim como o partido do independentista catalão Carles Puigdemont, evitaram que a proposta legislativa fosse discutida.

Clavijo obteve de Sánchez na sexta-feira apenas a renovação, para este ano, de uma ajuda estatal de 50 milhões de euros (R$ 309 milhões), mesmo valor recebdo em 2022 e 2023, mas distante dos 150 milhões de euros (R$ 926 milhões) que ele diz ter dedicado desde o início do ano à situação dos imigrantes.

    AFP

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