A esperança dos familiares dos reféns israelenses após a retomada das negociações

Após nove meses de espera e decepções, os familiares dos reféns israelenses mantidos em cativeiro em Gaza estão cautelosos com o anúncio de novas negociações com o movimento islamista palestino Hamas, as quais poderiam...

Cadeiras vazias diante de uma frase em hebraico que diz “agora”, em referência aos reféns capturados pelo Hamas e mantidos em Gaza, em 5 de julho de 2024, na Praça HaBima em Tel Aviv, Israel
Foto: Jack Guez
Cadeiras vazias diante de uma frase em hebraico que diz “agora”, em referência aos reféns capturados pelo Hamas e mantidos em Gaza, em 5 de julho de 2024, na Praça HaBima em Tel Aviv, Israel
Jack Guez

Após nove meses de espera e decepções, os familiares dos reféns israelenses mantidos em cativeiro em Gaza estão cautelosos com o anúncio de novas negociações com o movimento islamista palestino Hamas, as quais poderiam resultar na libertação de seus entes queridos.

Israel e o Hamas deram a entender que retomaram as negociações indiretas para um cessar-fogo, apesar das múltiplas discordâncias persistentes entre os dois lados.

"Estamos mais perto do que nunca de um acordo", declarou nesta semana o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, aos familiares dos reféns.

"Tenho muita esperança de que possamos alcançar um acordo", disse Shay Dickmann, uma estudante de medicina de 29 anos, à AFP.

Sua prima, Carmel Gat, é uma das 251 reféns capturadas pelo Hamas durante o ataque ao sul de Israel em 7 de outubro, que desencadeou o conflito.

Dickmann se esforça para ser otimista, apesar de suas esperanças já terem sido frustradas.

Em novembro, ela preparou um jantar em homenagem à prima, que deveria ser libertada no oitavo dia de um cessar-fogo de uma semana.

A pausa nos combates, que resultou na libertação de 105 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinos, terminou no sétimo dia.

"Nosso governo precisa perceber que trazer os reféns para casa agora é o mais importante", insistiu Dickmann.

Das 251 pessoas capturadas em 7 de outubro, 116 ainda estão cativas no território palestino, incluindo 42 que teriam morrido, segundo o Exército israelense.

- Prioridades -

O porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu informou na sexta-feira (5) que Israel enviará uma delegação para continuar as negociações no Catar na próxima semana.

David Barnea, chefe do Mossad - os serviços de inteligência israelenses - realizou na sexta-feira uma primeira rodada de conversas em Doha.

O conflito eclodiu após o ataque de 7 de outubro em Israel, quando milicianos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já deixou 38.098 mortos, também em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza.

Netanyahu, que prometeu "aniquilar" o Hamas, afirma que a libertação dos reféns é uma de suas prioridades. No entanto, ao mesmo tempo, o premiê rejeita um acordo que, segundo ele, permitiria ao grupo islamista sobreviver.

Algumas famílias de reféns perderam a paciência e dizem estar cansadas de ter que repetir que as vidas de seus entes queridos valem mais do que uma vitória militar.

"Precisamos de um cessar-fogo agora e de um acordo com o Hamas depois", afirmou Elon Dalal, cujo filho, Guy Gilboa Dalal, foi capturado no festival de música Nova.

- "Não está aqui" -

Após nove meses de guerra, os incessantes bombardeios israelenses não conseguiram erradicar o Hamas em Gaza.

"Quanto mais a guerra continuar com a mesma intensidade, mais provável será que os reféns israelenses sejam mortos", disse Andreas Krieg, especialista em Oriente Médio no King's College de Londres.

O movimento islamista, que governa Gaza desde 2007, afirma que vários reféns morreram devido aos bombardeios israelenses.

As famílias dos reféns mantêm a pressão sobre as autoridades com manifestações semanais e cartazes com a imagens de seus entes queridos por toda parte.

Mas Netanyahu está encurralado por seus aliados de extrema direita, que ameaçam abandonar a coalizão de governo se a guerra for interrompida.

"Eles são contra um acordo, dizem que nossos filhos são o preço da guerra", denunciou Elon Dalal, cujo filho completou 23 anos em cativeiro no mês passado.

"Tudo o que quero é que meu filho volte, mas ele não está aqui, então pode ser que o governo não tenha feito o suficiente ou não tenha feito o que deveria", contou este pai de família, que deixou seu emprego de programador para se concentrar na libertação de Guy.

AFP