MENAHEM KAHANA
Na sala do deputado árabe-israelense Ahmad Tibi, há fotos dele ao lado de Bill Clinton, Yasser Arafat e Recep Tayyip Erdogan, além de um cartaz que diz: "Ainda não vivemos nossos dias mais bonitos".
Segundo o parlamentar, essa é uma mensagem esperançosa para seu povo, que tem estado sob vigilância intensa desde o ataque sem precedentes de milicianos do Hamas a Israel em 7 de outubro e o início da guerra em Gaza.
"Após 7 de outubro, centenas de cidadãos árabes foram assediados pela polícia israelense por expressar solidariedade com as crianças de Gaza ou se posicionarem contra a guerra", afirmou Tibi, de 65 anos, líder do partido Ta'al, em entrevista à AFP, em seu escritório na Knesset (parlamento israelense) em Jerusalém.
"Foram e continuam sendo dias difíceis para os cidadãos palestinos de Israel", acrescentou.
Os árabes israelenses, como são conhecidos em Israel, representam 20% da população e a grande maioria se identifica como palestinos. São descendentes da população árabe do Mandato Britânico da Palestina que ficaram dentro das fronteiras do novo Estado de Israel em 1948 e frequentemente relatam discriminação por parte da maioria judaica do país.
Entre 7 de outubro e 27 de março, a polícia israelense deteve 401 pessoas, a maioria árabes, por supostos crimes de "incitação ao terrorismo", de acordo com dados oficiais coletados pela organização de direitos humanos Adalah.
"Temos denunciado a repressão à liberdade de expressão, criando uma situação na qual os cidadãos palestinos não podem protestar ou expressar livremente suas opiniões", denunciou Adalah em novembro.
- Desigualdades -
Tibi não apoia a incursão de milicianos do Hamas em 7 de outubro ao sul de Israel que resultou na morte de 1.195 pessoas, em sua maioria civis, e no sequestro de 251, conforme uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra Gaza, resultando até o momento em 37.765 mortes, em sua maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas no território palestino.
"Há mais de 15.000 crianças mortas em Gaza", destacou Tibi, médico de formação, que perdeu 13 familiares devido a bombardeios israelenses no território palestino.
O legislador critica o pequeno número de detenções daqueles que, "do lado judaico, pedem a expulsão dos cidadãos árabes, a matança de todos e a destruição de Gaza".
As autoridades israelenses destacam a integração social e laboral dos membros da minoria árabe. No entanto, uma lei que define Israel como "o Estado-nação do povo judeu" em 2018 concedeu exclusivamente aos judeus o direito à autodeterminação e retirou o árabe de sua condição de língua oficial ao lado do hebraico, causando indignação entre a minoria árabe.
Tibi acredita que a desigualdade aumentou desde 7 de outubro e fala de uma "etnocracia, apenas para os judeus".
- Ameaças -
"Recebi centenas de ameaças de cidadãos israelenses comuns. Durante uma guerra, todo mundo é considerado um alvo legítimo", afirma o deputado, em exercício desde 1999, tornando-se o parlamentar árabe mais antigo da Knesset.
Tibi é há muito tempo alvo de críticas de seus adversários políticos. Em 2019, o Likud (direita) de Benjamin Netanyahu, apelidado de "Bibi", fez campanha com o slogan "Bibi ou Tibi".
O ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, membro da extrema direita nacionalista religiosa - condenado em 2007 por apoiar um grupo terrorista e incitar o racismo - acusa Tibi de ser um terrorista e pede sua expulsão do parlamento por suas declarações pró-palestinos.
"Segundo a definição da lei israelense, o terrorista é ele", afirma Tibi.
"A atmosfera geral em Israel é quase fascista", assegura o deputado, que ainda acredita na possibilidade de construir pontes.
"A democracia é o único caminho", junto com a criação de um Estado palestino, afirma. "É um direito natural para os palestinos", argumenta.
"Fomos alvo de tentativas de intimidação. Resistimos no passado e resistiremos a essa onda de fascismo e racismo", declara. "Estávamos aqui e continuaremos aqui", garantiu.