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O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu neste domingo (12) um cessar-fogo "imediato" na Faixa de Gaza, território que o Exército israelense continua bombardeando após sete meses de guerra que, segundo o Hamas, deixaram mais de 35.000 mortos.
Equipes da AFP e testemunhas relataram novos bombardeios israelenses em vários pontos de Gaza, incluindo Rafah, no extremo sul, onde as tropas de Israel preparam uma grande ofensiva terrestre.
Um hospital informou que recebeu 18 corpos nas últimas 24 horas. Além disso, dois médicos, pai e filho, morreram em bombardeios israelenses em Deir al Balah (centro), segundo os serviços de segurança civil do Hamas.
"Reitero o meu apelo, o apelo de todo o mundo para um cessar-fogo humanitário imediato, para a libertação incondicional de todos os reféns e para um aumento imediato da ajuda humanitária", declarou Guterres em discurso em vídeo em uma conferência internacional de doadores no Kuwait.
"Mas um cessar-fogo será só o começo. Será um longo caminho para se recuperar da devastação e do trauma desta guerra", acrescentou.
A ONU alertou que a ajuda humanitária está bloqueada desde que as tropas israelenses entraram no leste de Rafah na segunda-feira e tomaram a passagem da fronteira com o Egito, fechando uma entrada vital a este território ameaçado pela fome.
Segundo o porta-voz da autoridade dos postos fronteiriços de Gaza, Hicham Adwan, "os veículos militares israelenses avançaram desde a fronteira (...) e entraram cerca de 2,5 quilômetros".
- "Não sabemos para onde ir" -
Israel insiste na necessidade de lançar uma operação em Rafah, onde estão concentrados 1,4 milhão de pessoas, a maioria deslocadas pela guerra, considerando que a região abriga os últimos redutos do grupo islamista.
No sábado, o Exército israelense afirmou que cerca de 300.000 palestinos deixaram os bairros no leste de Rafah desde segunda-feira, após uma ordem de retirada. Acrescentou ainda que estes locais eram "cenário de atividades terroristas do Hamas".
o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, estimou que uma ofensiva israelense de grande escala em Rafah violaria o "direito humanitário internacional".
Já os Estados Unidos advertiram nesta semana que deixarão de fornecer algumas armas caso Israel lance uma ofensiva de grande escala em Rafah.
"A situação é cada vez mais perigosa e os bombardeios estão cada vez mais próximos. Não sabemos para onde ir. Não há nenhum lugar seguro", disse à AFP o morador de Gaza Farid Abou Eid.
As forças israelenses também emitiram ordens de retirada para Jabaliya e Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, onde dizem que o Hamas está "tentando se reconstruir", e relataram uma "grande operação no distrito de Zeitun", na Cidade de Gaza.
A guerra eclodiu em 7 de outubro com um ataque de milicianos islamistas que deixou 1.170 mortos, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos durante uma trégua de uma semana em novembro, as autoridades israelenses estimam que 128 permanecem em Gaza, embora acreditem que 36 morreram.
A ofensiva de Israel em resposta deixou até o momento 35.034 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que governa o território desde 2007.
- Hamas informa a morte de um refém -
No sábado, o braço armado do movimento islamista anunciou no Telegram a morte de um refém, pouco depois de ter publicado um vídeo do mesmo afirmando que estava vivo.
As Brigadas Ezzedine Al Qassam afirmaram que ele morreu devido a "ferimentos causados por aviões de combate sionistas [israelenses] que bombardearam o local onde estava detido, há mais de um mês".
O refém foi identificado pelo Fórum de Famílias dos Reféns como Nadav Popplewell, um homem israelense-britânico de 51 anos.
Contactado pela AFP, o Exército israelense não quis comentar a informação.
Os esforços de mediação para um acordo de trégua parecem estagnados após as negociações indiretas no Cairo nesta semana terminarem sem resultados concretos.
"Haveria um cessar-fogo amanhã se o Hamas libertasse os reféns", declarou o presidente americano, Joe Biden, no sábado.