Israel bombardeia Rafah em meio a negociações de trégua 'decisivas'

Retomada das negociações acontece com a presença de representantes israelenses e do Hamas, assim como de mediadores do Catar, dos Estados Unidos e do Egito

Várias pessoas inspecionam os restos de um edifício bombardeado por Israel em Rafah, sul da Faixa de Gaza, em 8 de maio de 2024
Foto: AFP
Várias pessoas inspecionam os restos de um edifício bombardeado por Israel em Rafah, sul da Faixa de Gaza, em 8 de maio de 2024

O Exército israelense bombardeou Rafah, no sul da Faixa de Gaza, nesta quarta-feira (8), à espera de uma possível grande incursão terrestre, e em plena negociação no Cairo para uma trégua que, segundo o Hamas, é "decisiva" após sete meses de guerra .

A retomada das negociações na capital egípcia acontece com a presença de representantes israelenses e do movimento islamista palestino, assim como de mediadores do Catar, dos Estados Unidos e do Egito, informou um veículo de comunicação próximo às autoridades egípcias.

Apesar das advertências internacionais, os tanques israelenses assumiram na véspera o controle do lado palestino da passagem fronteiriça entre o Egito e a cidade de Rafah , principal ponto de entrada de ajuda humanitária ao enclave palestino.

Sob pressão de Washington, seu principal aliado, Israel anunciou nesta quarta-feira a reabertura de outra passagem de fronteira, a de Kerem Shalom, também no sul, fechado após um ataque com foguetes no domingo que matou quatro soldados.

"Caminhões procedentes do Egito chegam à passagem com ajuda humanitária, incluindo alimentos, água, materiais de abrigo, medicamentos e equipamentos médicos fornecidos pela comunidade internacional", afirma um comunicado do Exército.

Os suprimentos entrarão no enclave após passarem por inspeção, acrescentou. Mas Juliette Touma, porta-voz da UNRWA, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, disse à AFP que esta passagem "ainda não estava aberta" durante a manhã.

Outra passagem fronteiriça de Israel, Erez, mais ao norte, também está aberta à chegada de ajuda, acrescentou o Exército.

Suspensão do envio de armas

O governo dos Estados Unidos considerou o fechamento destas passagens de fronteira "inaceitável".

Pressionado por protestos pró-Palestina nos campi universitários americanos, o governo de Joe Biden interrompeu na semana passada os envios de certas bombas para Israel devido a "preocupações" sobre uma ofensiva contra Rafah.

"Existem 1.800 bombas de 907 quilos e 1.700 bombas de 226 quilos", disse um alto funcionário do governo sob condição de anonimato.

Estados Unidos, ONU e União Europeia instaram Israel a não entrar em Rafah – onde estão aglomerados 1,4 milhão de palestinos, principalmente pessoas deslocadas, segundo a ONU -, por medo de um banho de sangue e de um agravamento da crise humanitária na Faixa. O Catar apelou nesta quarta-feira à comunidade internacional que aja para evitar um "genocídio".

Após a retirada de dezenas de milhares de palestinos das áreas a leste de Rafah na segunda-feira e o fechamento da passagem de fronteira com o Egito, as forças israelenses continuam bombardeando a cidade.

Também foram registrados bombardeios na Cidade de Gaza, no norte, onde um hospital anunciou a morte de sete membros de uma família.

"Rodada decisiva"

O destino de Rafah e dos reféns israelenses sequestrados pelo Hamas está em jogo nas negociações na capital egípcia, mas tanto Israel como o grupo islamista são inflexíveis nas suas posições. Um alto funcionário do Hamas disse à AFP nesta quarta-feira que o seu movimento "insiste nas exigências legítimas do seu povo" e garantiu que esta é uma "rodada decisiva".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu à sua delegação que se "mantenha firme nas condições necessárias para a libertação" dos reféns.

Estas negociações representam "a última oportunidade para Netanyahu e para as famílias" dos reféns "de verem os seus filhos retornar", advertiu outro líder islamista no dia anterior.

Até agora, apenas uma trégua de uma semana em novembro conseguiu travar o conflito que eclodiu em 7 de outubro devido ao ataque do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Comandos islamistas infiltraram-se no sul de Israel naquele dia, matando 1.170 pessoas e sequestrando cerca de 250, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses.

Israel calcula que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos naquela trégua de novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais acredita-se que 36 morreram.

Israel iniciou uma ofensiva de retaliação que já deixou 34.844 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.

O grupo islamista aceitou a última proposta apresentada pelos mediadores, mas o gabinete de Netanyahu garantiu que estava "muito longe" das suas exigências e decidiu continuar "a operação em Rafah para exercer pressão militar sobre o Hamas".

Segundo Khalil al Hayya, alto dirigente do movimento islamista, a atual proposta contempla três fases de 42 dias cada.

A proposta inclui a retirada total de Israel da Faixa de Gaza, o retorno das pessoas deslocadas e a troca de reféns por prisioneiros palestinos, com o objetivo de um "cessar-fogo permanente".

Mas Israel opõe-se a uma retirada completa de Gaza e a um cessar-fogo permanente sem primeiro derrotar o Hamas, que, segundo o seu Exército, mantém os seus últimos batalhões em Rafah.

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