Vaticano defende 'dignidade humana' em texto que denuncia aborto e ideologia de gênero

O Vaticano publicou, nesta segunda-feira (8), um novo texto dedicado ao respeito à "dignidade humana", no qual denuncia o aborto e a ideologia de gênero e defende os direitos dos...

Papa Francisco fala durante uma audiência a voluntários da Cruz Vermelha Italiana, em 6 de abril de 2024 no Vaticano
Foto: ALBERTO PIZZOLI
Papa Francisco fala durante uma audiência a voluntários da Cruz Vermelha Italiana, em 6 de abril de 2024 no Vaticano
Alberto Pizzoli

O Vaticano publicou, nesta segunda-feira (8), um novo texto dedicado ao respeito à "dignidade humana", no qual denuncia o aborto e a ideologia de gênero e defende os direitos dos migrantes e das pessoas LGBTQIAP+.

O documento, denominado "Dignitas infinita" ("Uma dignidade infinita"), tem quase 20 páginas e foi aprovado pelo papa Francisco. Pode ser considerado como uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após o escândalo em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos, especialmente entre os mais conservadores.

O documento aborda os temas-chave do pontificado de Jorge Bergoglio, como a guerra, os direitos dos migrantes, a pobreza, a ecologia e a justiça social, além de outras questões bioéticas ou relacionadas à violência na Internet.

O texto, resultado de cinco anos de trabalho, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão da Santa Sé encarregado do dogma que lista casos de "violações concretas e graves" da dignidade.

Segundo a publicação, a gestação por barriga de aluguel entra "em total contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano" e "a aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei" reflete "uma crise de moralidade muito perigosa".

- "Colonização ideológica muito perigosa" -

Pela primeira vez de forma tão específica, o Vaticano denuncia veementemente a "ideologia de gênero", que Francisco chama de "colonização ideológica muito perigosa".

"Qualquer intervenção de mudança de sexo corre o risco, de forma geral, de ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção", afirma o documento.

Ao mesmo tempo, a Igreja recorda que as pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas e denuncia que "em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual".

"Pouco se fala sobre esta violação dos direitos humanos (…) E é doloroso que alguns católicos defendam estas leis injustas", lamentou em coletiva de imprensa o prefeito do Dicastério, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, próximo do papa e signatário do texto.

Uma parte também é dedicada à violência de gênero, afirmando que "nunca será suficientemente condenada".

Sobre o fim da vida, a Igreja reitera sua firme oposição à eutanásia e ao suicídio assistido.

Questionado sobre a doutrina da Igreja, que considera sempre os atos homossexuais como "intrinsecamente desordenados", considerou que "poderiam encontrar outras palavras mais adequadas", ao mesmo tempo em que se considerou a favor da descriminalização da homossexualidade.

Desde a sua eleição em 2013, o papa Francisco tem insistido na importância de uma Igreja aberta a todos, incluindo os fiéis LGBTQIAP+, mas seus esforços encontraram forte resistência.

Perante a imprensa, o monsenhor Fernández respondeu aos crescentes ataques que o acusam de trair a doutrina católica.

Ele disse esperar que este novo texto tenha o mesmo sucesso de "Fiducia Supplicans" (Confiança Suplicante), consultado, segundo ele, 7 bilhões de vezes on-line.

Várias associações católicas LGBTQIAP+ na Itália e no exterior se mostraram decepcionadas com o novo texto, por considerarem que afeta a imagem e os direitos das pessoas trans.

AFP