Gerardo MENOSCAL
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, criticou nesta terça-feira (9) a postura de Estados Unidos e Canadá frente à crise diplomática com o Equador, considerando que não houve um repúdio contundente ao ataque à sua embaixada em Quito.
López Obrador disse que, em sua primeira reação, os Estados Unidos não condenaram a operação policial para prender o asilado vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que retornou à prisão nesta terça depois de ter sido hospitalizado ontem em Guayaquil (sudoeste) por se recusar a comer na prisão, segundo as autoridades equatorianas.
Estados Unidos e Canadá são parceiros comerciais de México no T-MEC.
Houve "declarações muito ambíguas dos Estados Unidos e do Canadá sobre este incidente. Somos parceiros econômicos e comerciais, somos vizinhos e sua posição está muito indefinida até agora", disse o presidente em sua habitual coletiva de imprensa, na qual, pela primeira vez, apresentou imagens da agressão de policiais ao diplomata Roberto Canseco dentro da embaixada na noite da última sexta-feira.
Devido a esta intervenção, o México rompeu relações com o Equador e denunciará o país à Corte Internacional de Justiça (CIJ).
López Obrador destacou a ausência de uma declaração do próprio presidente americano, Joe Biden, como fizeram "outros líderes (que) se expressaram abertamente".
No caso de Washington, foi uma "nota" do Departamento de Estado "não condenando a interferência, o ataque, a invasão da nossa embaixada", mas "falando em buscar a reconciliação, sem se manifestar contra este ato autoritário", lamentou o presidente de esquerda.
O Canadá "chegou ao ponto de dizer que foi uma suposta violação do direito internacional. Usou a palavra 'aparente'. Não permitimos isso, não aceitamos", acrescentou.
- "Tememos por sua vida" -
López Obrador instou ambos os governos a "se pronunciarem abertamente", mas descartou que esta situação possa afetar as relações.
O presidente alertou que se esta "violação" não for denunciada e se os tratados de direito internacionais não forem "respeitados", "o respeito pela soberania desaparece, já é a lei do mais forte".
Na segunda-feira, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, condenou "qualquer violação" da Convenção de Viena sobre a inviolabilidade das embaixadas e pediu a México e Equador que resolvessem as suas diferenças "em conjunto".
A incursão policial foi condenada por trinta países e sete organizações mundiais e regionais, como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde o tema será discutido nesta terça-feira a pedido do Equador, que considera ilegal o asilo político de Glas porque ele é acusado de um crime comum.
Quito também justifica a agressão pelo "risco iminente" de fuga do ex-dignatário, que horas antes havia recebido asilo.
Glas, de 54 anos, voltou à prisão nesta terça-feira depois de ter sido hospitalizado na véspera.
"Tememos pela vida dele", disse nesta terça-feira o eurodeputado espanhol Manu Pineda, em uma coletiva de imprensa no Parlamento Europeu, junto com o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, de quem Glas foi vice-presidente.
O ex-presidente (2007-2017), também condenado por corrupção e exilado na Bélgica, pediu uma "resposta forte" da comunidade internacional, propondo inclusive a retirada dos embaixadores da União Europeia do Equador.
- Imagens inéditas -
Antes das críticas contra os Estados Unidos e o Canadá, López Obrador apresentou imagens inéditas da invasão à embaixada.
No vídeo, os policiais são vistos entrando abruptamente – um deles após escalar um muro – com armas longas e escudos. Outro agente aponta a arma para Canseco na biblioteca.
Depois, o diplomata é visto lutando com os agentes que o arrastam pelo pescoço. Canseco se levanta e continua resistindo aos policiais quando eles saem da sede diplomática, fora da qual os confronta novamente até ser colocado de joelhos.