
Uma brasileira afirma que ao menos 50 jovens do Brasil teriam sido levadas à mansão de Jeffrey Epstein, em Nova York, e abusadas sexualmente pelo bilionário.
O relato foi dado à BBC e surge após a divulgação de documentos oficiais dos Estados Unidos que mencionam um “grande grupo brasileiro” ligado ao caso.
Os documentos, tornados públicos na última semana pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, têm trechos tarjados que impedem a identificação das vítimas.
Ainda assim, o material mostra a existência de conexões do esquema de Epstein com brasileiras que viviam no país como imigrantes.
Marina Lacerda é natural de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e afirma que se mudou ainda criança para os Estados Unidos, onde passou a viver em Astoria, bairro do distrito de Queens, em Nova York, conhecido pela presença de brasileiros.
Segundo ela, na adolescência trabalhava em empregos informais, mas não conseguia se sustentar.
Ela relata que frequentava um grupo de jovens ligado a uma igreja da região quando recebeu, de uma conhecida, um convite para fazer massagens em Manhattan.
A proposta incluía pagamento em dinheiro e foi apresentada como uma oportunidade pontual.
Primeira visita ocorreu aos 14 anos
Marina diz que tinha 14 anos quando foi levada pela primeira vez à residência.
Segundo o relato, ao chegar ao local, foi conduzida por funcionários até um quarto com janelas vedadas. Ela afirma que Epstein fez perguntas sobre idade, origem e rotina escolar.
De acordo com Marina, a situação se tornou diferente do que havia sido descrito inicialmente, com contato físico que ela diz não ter autorizado. Após o episódio, recebeu US$ 300 e deixou o local.
Marina relata que tentou não voltar, mas que foi convencida pela mesma conhecida, que destacou a quantia recebida em pouco tempo.
Segundo ela, a condição de imigrante, a falta de apoio familiar e a necessidade de dinheiro pesaram na decisão.
Ela afirma que retornou outras vezes à casa e que, com o tempo, Epstein passou a pedir que ela levasse outras jovens.
Segundo Marina, as meninas convidadas tinham perfil semelhante: imigrantes, sem documentos, com dificuldades financeiras e pouca rede de apoio.
Ela afirma que, ao longo do tempo, foram levadas dezenas de jovens, incluindo brasileiras, latinas e mulheres de outras nacionalidades.
“Levamos várias brasileiras, infelizmente”, disse à BBC. Ela estima que cerca de 50 jovens do Brasil tenham passado pela mansão.
A BBC revelou que documentos divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos fazem referência a um “large Brazilian group”.
Os nomes e detalhes aparecem cobertos por tarjas, o que impede a confirmação independente dos relatos individuais.
Jeffrey Epstein morreu em agosto de 2019, em uma cela de prisão em Nova York, enquanto aguardava julgamento por acusações federais de tráfico sexual. Ele estava preso sem direito a fiança.
Depoimentos ao FBI
Marina afirma que foi procurada pelo FBI em 2008 para prestar informações sobre Epstein, mas que não conseguiu relatar tudo por medo.
Segundo ela, um advogado ligado ao empresário entrou em contato na época, o que a levou a interromper qualquer comunicação.
Em 2019, após a prisão de Epstein, o FBI voltou a procurá-la. Desta vez, ela decidiu prestar um depoimento mais detalhado, embora diga que o trauma dificultou a lembrança precisa de nomes e datas.
Em setembro deste ano, Marina decidiu tornar sua história pública em entrevistas à imprensa americana e em atos realizados em Washington, em frente ao Congresso dos Estados Unidos. Desde então, afirma que passou a receber ataques nas redes sociais.
Segundo ela, as críticas e questionamentos públicos ajudam a explicar por que outras mulheres não se dispõem a falar.
Marina diz receber mensagens frequentes de outras latinas que relatam situações semelhantes, mas que preferem não se identificar.