
O último dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval 2025 na Marquês de Sapucaí , nesta terça-feira (4), foi marcado por enredos potentes, celebrações à diversidade e um adeus emocionante.
Entre holofotes, críticas sociais e reverências culturais, quatro escolas levaram à avenida narrativas que ecoaram além do samba , com destaques para a despedida da rainha de bateria Paolla Oliveira na Grande Rio e a participação histórica da deputada Erika Hilton na Paraíso do Tuiuti .
Mocidade Independente: um alerta sobre o futuro
A noite começou com a Mocidade Independente de Padre Miguel , que às 22h mergulhou o público em uma reflexão tecnológica e cósmica com o enredo "Voltando para o Futuro – Não Há Limites pra Sonhar".
A escola da Zona Oeste do Rio questionou o excesso de conectividade e lembrou que "somos feitos do mesmo material das estrelas".

Com carros alegóricos futuristas e um samba de alerta sobre os riscos da desconexão humana, a agremiação apostou em um visual metálico e coreografias que simbolizaram a tensão entre avanço e humanidade.
Paraíso do Tuiuti: Xica Manicongo, a travesti ancestral que virou símbolo de resistência
A Paraíso do Tuiuti elevou o tom político do Carnaval ao contar a história de Xica Manicongo , considerada a primeira travesti documentada do Brasil.
Escravizada no Congo e trazida à Bahia no século XVI, Xica foi obrigada a abandonar sua identidade, mas resistiu, tornando-se ícone da luta LGBTQIAPN+ .
A escola, comandada pelo carnavalesco Jack Vasconcelos , encheu a avenida de simbolismos: alas representaram a transcestralidade, a Jurema Sagrada e a aliança com os povos originários Tupinambás .
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), primeira mulher trans eleita para o Congresso Nacional, desfilou em uma ala dedicada à resistência trans, carregando um estandarte com o rosto de Xica .
A emoção tomou conta da comissão de frente, que dramatizou a perseguição e a força de Xica , encerrando com um gesto coletivo de libertação.
Grande Rio: Paolla Oliveira se despede da bateria entre águas e encantarias
A Acadêmicos do Grande Rio transformou a avenida em um rio de magia amazônica com o enredo "Pororocas Parawaras: as Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós".
A escola navegou pelas lendas do Norte do Brasil , contando a saga de três princesas turcas que, fugindo de guerras, naufragaram e atravessaram um portal místico, tornando-se seres encantados da floresta.
No fundo dos rios, elas encontraram o Boto , a Cobra Grande e a Mãe d’Água , sob a proteção de Verequete , o Senhor das Ondas . Transformadas em uma arara cantadeira (Mariana), uma jiboia vigilante (Jarina) e uma onça destemida (Herondina), as princesas uniram-se aos pajés para aprender os segredos da Jurema Sagrada .
A narrativa ganhou vida com alas que dançaram carimbó sob projeções de rios e matas, enquanto carros grandiosos, como o Reino da Encantaria , brilharam com referências à cultura afro-indígena e à fé em Nossa Senhora de Nazaré .
O momento mais emocionante foi o último desfile de Paolla Oliveira como rainha de bateria da escola. Vestindo um traje prateado que remetia às águas dos rios, ela liderou a bateria emocionada.
Portela: o canto atemporal de Milton Nascimento
Fechando o desfile, a Portela transformou a Sapucaí em um tributo a Milton Nascimento , com o enredo "Cantar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol".
A Verde e Branco de Padre Miguel desfilou com o tema "Voltando para o futuro, não há limites para sonhar". O enredo ainda homenageou Márcia Lage. A relação homem e máquina também foi uma das temáticas discutidas.
Novo formato e expectativa para o resultado
Pela primeira vez, o Grupo Especial desfilou em três dias, formato que permitiu maior destaque a cada escola. Os resultados serão divulgados nesta quarta-feira (05), com a apuração das notas . A campeã e as seis melhores se reapresentarão no sábado (08), no Desfile das Campeãs, enquanto a última colocada cairá para a Série Ouro.
Enquanto a Sapucaí se despede do Carnaval 2025 , ficam as imagens de Paolla Oliveira abraçando a bateria pela última vez, Erika Hilton erguendo o nome de Xica Manicongo e o recado das escolas: a arte do samba segue sendo potência para contar histórias silenciadas e celebrar a resistência.