Rachadinha: Em áudio, Janones pede dinheiro para assessores; ouça

Deputado pediu parte do salário dos assessores para pagar despesas pessoais

André Janones
Foto: redacao@odia.com.br (Estadão Conteúdo)
André Janones

Em áudio atribuído ao deputado federal André Janones  (Avante-MG), o parlamentar pede para os assessores lotados no seu gabinete na Câmara repassarem parte do salário para pagamento de despesas pessoais.

O esquema é conhecido como "rachadinha" e configura enriquecimento ilícito, dano ao patrimônio público e é passível de inelegibilidade segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo os denunciantes, a prática ilegal foi praticada durante todo o período do primeiro mandato do deputado (2019 a 2022).

O áudio, divulgado pelo colunista Paulo Capelli, do Metrópoles, foi gravado sem que Janones soubesse, na sala de reuniões do Avante na Câmara dos Deputados. É possível ouvir o deputado pedindo dinheiro para pagar "casa, carro, poupança e previdência". 

Ouça:


O deputado de esquerda recebeu 238 mil votos e foi o segundo parlamentar mais votado de Minas Gerais em 2022, atrás de Nikolas Ferreira. Janones também teve uma participação importante na campanha de Lula para presidente, coordenando as redes sociais do então candidato.

“Algumas pessoas aqui, que eu ainda vou conversar em particular depois, vão receber um pouco de salário a mais. E elas vão me ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito.

Porque eu perdi R$ 675 mil na campanha. ‘Ah isso é devolver salário e você tá chamando de outro nome’. Não é. Porque eu devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser”, tentou convencer Janones.

O deputado continuou: “O meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 (mil). Eu acho justo que essas pessoas também participem comigo da reconstrução disso. Então, não considero isso uma corrupção”, afirmou.

Janones tentou convencer os assessores que eles não mereciam 100% dos salários. “Por exemplo, o Mário vai ganhar R$ 10 mil [por mês]. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou [sic] de 2016. Não é justo, entendeu?”.

A gravação foi feita pelo jornalista Cefas Luiz, ex-assessor de Janones, em fevereiro de 2019, após o parlamentar se eleger pela primeira vez.  Ele afirma que levará a gravação à Polícia Federal juntamente com outras provas de supostas irregularidades que teriam ocorrido no gabinete do deputado.  “Sei de muita coisa que acontecia por lá”, disse Cefas Luiz ao Metrópoles.

Janones foi candidato a prefeito de Ituiutaba, ficando em segundo lugar, com 13 mil votos. A atual prefeita de lá, Leandra Guedes, é ex-assessora de Janones e também teria se valido da "rachadinha", levando parte dos asse4ssores do parlamentar para compor sua equipe na prefeitura.

Em sua conta no X (antigo Twitter), Janones afirmou que a esquerda “quase cometeu o mesmo erro de quando acusou o presidente Lula no caso triplex.  “Quando vamos aprender a não julgar e condenar antes do contraditório e a ampla defesa? Pensei que a Lava-Jato tinha deixado lições.” 

Ele alegou ainda que "usaram uma gravação clandestina e criminosa, um áudio retirado de contexto e para tentar me imputar um crime que eu jamais cometi", e solicitou que o conteúdo "criminosamente gravado seja disponibilizado na integra e não edições manipuladas, postada quase simultaneamente por todas as lideranças de extrema-direita". 

"Essas denuncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialiade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados. No mais, repito eu nunca recebi um único real de assessor, não comprei mansões, nem enriqueci e isso por uma simples razão, eu nunca fiz rachadinha", prosseguiu.

Já a prefeita Leandra Guedes emitiu uma nota alegando que "não tem conhecimento do conteúdo divulgado nesta segunda-feira (27) e jamais presenciou ou participou de qualquer conduta ilegal".

A Polícia Federal se recusou a comentar o caso. Devido à prerrogativa de foro privilegiado de que Janones goza por ser deputado, a ação que o acusa está tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF).