Protestos na China: manifestantes pedem renúncia de Xi Jinping

Mortes de ao menos 12 pessoas devido a bloqueios de contenção contra a Covid-19 geraram a ire de manifestantes contra o governo do Partido Comunista Chinês

Foto: Reprodução/Twitter
Manifestantes entram em confronto com a polícia contra bloqueios em cidades chinesas

Na China, manifestantes irritados com medidas severas contra o vírus da Covid-19 pediram a renúncia do presidente Xi Jinping  (a frente do país desde 2013), enquanto autoridades de ao menos oito cidades tentavam reprimir as manifestações que ocorreram na madrugada deste domingo (27).

Em Xangai, a polícia usou spray de pimenta para afastar os manifestantes que pediam a renúncia do presidente chinês e pelo fim do regime de partido único no país, comandado pelo Partido Comunista. Os manifestantes voltaram a se reunir no mesmo local horas depois, mas, de acordo com informações da AP, os manifestantes foram presos e levados em um ônibus.

Os protestos começaram na sexta-feira (25) e se espalharam por várias cidades e campus de universidades. Mesmo na capital, Pequim, há grandes demonstrações de oposição ao partido que governa o país há décadas.

Entre as várias demonstrações de protesto, como folhas de papel em branco, um símbolo de desafio contra a censura generalizada do Partido Comunista Chinês (PCC), os manifestantes ecoaram cantos contra o presidente: “Xi Jinping! Renuncie! PCC! Renuncie!”.

As manifestações se devem às medidas de “Covid Zero” usadas pelo governo chinês para combater a transmissão do vírus. A estratégia suspendeu o acesso aos bairros durante semanas. Algumas cidades têm realizado milhões de testes PCR em seus moradores diariamente.

Apesar de manter os níveis de infecção mais baixos, em comparações a outros países grandes, como os Estados Unidos, a aceitação popular diminuiu. Muitas pessoas que estão confinadas em suas casas afirmam que falta comida e medicamentos. A ira da população se intensificou após a morte de duas crianças cujos pais disseram que as medidas de controle impediram que recebessem ajuda médica.

Outro acontecimento que fez com que os manifestantes fossem para as ruas foi um incêndio ocorrido em um prédio residencial na última quinta-feira (24), na cidade de Urumqi, que matou 10 pessoas, que estavam trancadas em suas casas há cerca de quatro meses.

No sábado (26), cerca de 300 pessoas se reuniram em Xangai, em uma rua chamada Urumqi. Um grupo levou flores, velas e cartazes em homenagem aos mortos no incêndio. Outro grupo, de acordo com um manifestante à AP, gritava palavras de ordem e cantava o hino nacional chinês.

Alguns manifestantes, que não quiseram ser identificados por medo de retaliações, afirmaram temer que Xi Jinping tente permanecer no poder por toda a vida. “A atmosfera do protesto encorajou as pessoas a falar sobre tópicos considerados tabus, incluindo a repressão de 1989 aos protestos pró-democracia da Praça da Paz Celestial”, disse o manifestante que pediu anonimato.

Um membro do grupo étnico Uyghur de Xinjiang compartilhou suas experiências de discriminação e violência policial. “Todo mundo pensa que os chineses têm medo de sair e protestar, que não têm coragem”, disse o manifestante. “Na verdade, no meu coração, eu também pensava assim. Mas quando fui lá, descobri que todos eram muito corajosos”.

Um manifestante identificado como Zhao contou que um de seus amigos foi espancado pela polícia e outros dois receberam spray de pimenta. Ele disse que os manifestantes ecoavam gritos de guerra contra os testes: “Não queremos PCR, mas queremos liberdade”.

O protesto se repetiu na tarde de domingo. Oficiais com máscaras e coletes de segurança amarelos disseram à multidão de cerca de 300 pessoas para sair, mas não demonstravam interessem em conflitos. Não havia sinal de escudos ou qualquer outro equipamento de choque.

Em um parque ao leste de Pequim, um grupo de aproximadamente 200 pessoas se reuniu para protestar com folhas de papel em branco. “A política de bloqueio é tão rígida”, disse um manifestante, que deu apenas seu sobrenome, Li. “Não dá para comparar com nenhum outro país. Temos que encontrar uma saída.”

Cerca de 2 mil estudantes em alma mater de Xi, Tsinghua University, em Pequim, se reuniram para exigir uma flexibilização dos controles no combate ao vírus, de acordo com publicações nas redes sociais. Os manifestantes saíram depois que o vice-secretário do Partido Comunista da universidade prometeu realizar um debate em toda a escola.

Registros nas redes sociais mostram imagens de manifestantes em Nanjing, ao leste, Guangzhou, ao sul, e em pelo menos seis outras cidades em confronto com a polícia em trajes de proteção, ou derrubando barricadas usadas para isolar bairros inteiros. Não há informações exatas sobre onde esses protestos aconteceram.

O grupo de direitos humanos Anistia Internacional apelou a Pequim para permitir protestos pacíficos. “A tragédia do incêndio de Urumqi inspirou bravura notável em toda a China”, disse a diretora regional do grupo, Hanna Young, em comunicado. “Esses protestos sem precedentes mostram que as pessoas estão no fim de sua tolerância com as restrições excessivas do COVID-19”.

Três anos após o surgimento do novo coronavírus, a China é o único grande país que ainda tenta impedir a transmissão da doença. Estabelecimentos comerciais em áreas consideradas de baixo risco serão reabertos, assim como os serviços de transporte terrestre e aéreos, de acordo com informações da imprensa estatal chinesa. Nada foi dito sobre residentes de regiões consideradas de alto risco.

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* Esse texto contém informações da Associated Press.