O julgamento que durou mais de 13 horas e foi marcado por depoimentos de familiares da vítima encerra mais um caso de femincídio no país. Paulo José foi condenado por homicídio quintuplamente qualificado em regime inicial fechado e pegou 45 anos de prisão.
As qualificadoras que contribuíram para o aumento da pena foram:
Feminicídio; o fato de o crime ter ocorrido na presença de três crianças; o motivo torpe, já que o acusado a matou por não se conformar com o fim do relacionamento; por um meio que dificultou a defesa da vítima, que foi atacada de surpresa quando descia do carro; e o meio cruel utilizado, uma vez que as múltiplas facadas no corpo e no rosto causaram intenso sofrimento à vítima.
O julgamento, iniciado nesta quinta-feira (10), durou mais de 13 horas e terminou na madrugada desta sexta-feira (11). A sentença foi anunciada às 4h pelo juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, titular da 3ª Vara Criminal da Capital.
O crime ocorreu no início da noite do dia 24 de dezembro de 2020, véspera de Natal, na frente das três filhas do casal, quando a magistrada levava as crianças para passarem a data com o pai. Após esfaquear a mulher 16 vezes, Arronenzi foi preso em flagrante por guardas municipais. Segundo a Polícia Militar, o caso ocorreu por volta das 18h, na Avenida Rachel de Queiroz, 380, em frente ao Colégio Januzzi.
Paulo José Arronenzi foi condenado por matar a ex-mulher na frente das filhas do casal em 2020Reprodução
Como Paulo José estava em prisão preventiva há um ano e 11 meses, o juiz determinou o cumprimento de 43 anos de reclusão. A defesa do engenheiro anunciou que vai recorrer da condenação. De acordo com os advogados, o réu " em virtude de perturbação da saúde mental, era parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, anunciou que vai recorrer da condenação."
O magistrado apontou que o réu demonstrou "conduta arquitetada, fria e obstinada, o que de per si prova a maior intensidade de dolo". Na sentença, o juiz também destacou outros pontos sobre a personalidade do réu.
"A personalidade do acusado é adversa e corrompida. Tal se evidencia pelo padrão hostil adotado a partir de certo período com sua ex-esposa e parentes próximos. As testemunhas ouvidas no decorrer da instrução criminal atestam uma postura descontrolada, cercada de rompantes de raiva tal como na ocasião em que chegou a arremessar um copo de vidro na parede, ferindo com estilhaços a perna de uma de suas filhas menores".
Depoimentos impactam julgamento
A primeira testemunha a falar por parte da acusação foi a mãe de Viviane, Sara Vieira do Amaral. Ela contou, em depoimento, que a sua família não era tão acolhida na casa da filha e que soube do crime através da neta mais velha que, na época, tinha apenas 10 anos.
"Paulo sempre estava muito nervoso, estressado. As crianças não ficavam à vontade nem de fazer chamada de vídeo comigo. Minha filha era muito alegre e foi ficando cada vez mais introspectiva", contou ela.
Vinicius Vieira do Amaral, irmão da vítima, também prestou depoimento durante o julgamento. Em sua fala, ele relembrou que a irmã abriu mão da escolta armada no mesmo mês em que foi morta pelo ex-marido.
"Ele queria compensações financeiras. Minha irmã deu R$ 640 mil para ele. Em troca, ele deu a morte pra ela. Todas as vezes que penso nela, lembro da cena de terror do dia do crime. Tenho dificuldade de manusear facas. Ele começou a matá-la muito antes do crime e até hoje ele segue matando toda a minha família", contou Vinícius.
Viviane era juíza e integrou a Magistratura do Estado do Rio de Janeiro por 15 anos. Ela atuava na 24ª Vara Cível da Capital. No julgamento, juízes que conviveram com a magistrada, amigos e parentes dela estavam presentes.
Além dos dois depoimentos, o motorista de aplicativo Márcio Júlio Romeu, que passava pelo local do crime e presenciou a cena, relatou ao juiz o que viu. Por parte da acusação, também foram ouvidas Roberta Borges de Azeredo, melhor amiga da vítima; e Lara Bastos Pinto, testemunha que estava perto do local do crime e filmou parte do ataque.
Já pela defesa de Paulo Arronenzi, testemunharam Rosane Arronenzi; irmã do réu; e Josemar Oliveira de Souza, guarda municipal que chegou ao local logo depois do crime; Viviane Nieto Blanco, colega de trabalho, e o médico psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro.
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