CACs driblam fiscalização e montam fábricas clandestinas de munição

No Brasil, é proibida a venda destes apetrechos por caçadores, colecionadores e atiradores (CACs)


É proibida a venda destes apetrechos por CACs no Brasil. Quem for pego, é preso e perde  o registro teve o certificado de registro cancelado por “perda de idoneidade”.
Foto: Foto: Divulgação IMA
É proibida a venda destes apetrechos por CACs no Brasil. Quem for pego, é preso e perde o registro teve o certificado de registro cancelado por “perda de idoneidade”.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número na venda de munição por caçadores, colecionadores e atiradores (CACs) no Brasil cresceu de 117 mil em 2018 para mais de 673 mil até junho de 2022.

 Essas estatísticas é um reflexo da política armamentista do governo de Jair Bolsonaro que facilitou a montagem de fábricas clandestinas, de acordo com Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz e especialista em controle de armas.

Por decreto, o presidente aumentou o limite de cartuchos que os integrantes da categoria podem comprar por ano. Antes, o limite máximo, para atiradores com muita experiência em competições, era de 40 mil projéteis e quatro quilos de pólvora para recarga de munição.

Hoje, até atiradores inexperientes podem adquirir 180 mil cartuchos e 20 quilos de pólvora na qual é possível recarregar 40 mil projéteis de pistolas, quantidade maior do que as polícias do Rio apreenderam com criminosos de janeiro a abril deste ano.

Nessas fábricas clandestinas, colecionadores e atiradores usam máquinas e prensas para preencher estojos de cartuchos já usados com pólvora e produzir, em larga escala, munição nova, recarregada e apta para uso.

Os CACs são autorizados a comprar pólvora e recarregar projéteis em " pequenas quantias e só para uso próprio" . A proibição da recarga em escala e da venda tem como objetivo evitar que esse tipo de projétil, muito difícil de ser rastreado, caia nas mãos de criminosos.

Em 2020, PMs do 4º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) checaram uma denúncia sobre produção ilegal de munição em Lajeado, Zona Leste de São Paulo cujo local era habitado por um casal de idosos e sua família.

No entanto, o que chamou a atenção dos PMs, além das câmeras de vigilância do lado de fora da residência foi a camisa suja de pólvora do filho do casal , Enderson Hideki Kinjo, registrado no Exército como atirador desportivo.

Na casa, havia uma fábrica clandestina de munição com 28.729 cartuchos, 21 kg de pólvora, 600 kg de chumbo e instrumentos (moldes, máquinas de recarga e balança de precisão ) de fabricação de cartuchos, todos apreendidos pela PM.

Na época, Kinjo foi preso em flagrante e, em agosto passado, condenado a dez anos por comércio ilegal de munição . No entanto, a polícia não conseguiu identificar para quem o atirador vendia os cartuchos.

Aos PMs que o prenderam, Kinjo afirmou que no início vendia as munições para atiradores, mas depois para quem quisesse comprar”. Depois de preso, ele teve o certificado de registro cancelado por “perda de idoneidade”.