Uma poderosa explosão destruiu um veículo perto de Moscou na noite deste sábado e, de acordo com informações preliminares, teria matado Daria Dugina, filha do controverso pensador russo Alexander Dugin, descrito no Ocidente como um dos “principais mentores ideológicos” do Kremlin.
O incidente ocorreu em uma rodovia a cerca de 20 quilômetros a oeste de Moscou, por volta das 21h45, horário local. Segundo testemunhas, a explosão atingiu o veículo no meio da estrada, espalhando destroços por toda parte. O carro então colidiu com uma cerca, totalmente envolvido pelas chamas, de acordo com fotos e vídeos do local.
Os serviços de emergência disseram que pelo menos uma pessoa estava dentro do carro e morreu instantaneamente na explosão, uma mulher cujo corpo foi recuperado, mas ficou irreconhecível. No entanto, vários canais do Telegram na Rússia e fontes da imprensa local alegaram que a mulher dentro do veículo era Daria Dugina, de 30 anos.
Os investigadores ainda não confirmaram a causa da explosão, mas informações preliminares indicam que um dispositivo explosivo caseiro pode ter sido usado. Dugin foi visto no local logo após o incidente, visivelmente chocado, segundo vários vídeos que circulam nas redes sociais.
Dugin tinha planejado ir com a filha no mesmo carro, mas, no últimos instante, entrou em outro veículo, segundo o violinista Pyotr Lundstrem. Os dois voltavam do festival familiar "Tradição".
Daria Dugina é comentarista política e filha de Dugin – um filósofo controverso conhecido por suas visões antiocidentais e “neoeurasianas”. Nos últimos meses, a CBS o apelidou de “o teórico de extrema direita por trás do plano de Putin” , enquanto o Washington Post o chamou de “escritor místico de extrema direita que ajudou a moldar a visão de Putin sobre a Rússia”.
Figura marginal
Em seu livro, “Rússia. O mistério da Eurásia”, influenciado pelo historiador Lev Gumilev, Dugin permeia sua visão com uma mística próximo do turanismo — movimento cultural nacionalista que nasceu na Turquia, pregando uma aliança entre os povos da Ásia Central — e delineia o quadro geopolítico que remete à grandeza da Santa Rússia, conceito que serve como uma cortina para o imperialismo atual de Putin, e sinaliza a “inclinação asiática” da Rússia.
Segundo o pensador, para a Rússia, só haveria duas hipóteses: império ou fracasso. A visão do "guru" nacionalista é de que o destino da Rússia é liderar um império eurasiático que se estende "de Dublin [Irlanda] a Vladivostok [cidade russa junto à fronteira com a China e com a Coreia do Norte]".
Na Rússia, no entanto, ele é considerado uma figura marginal, e alguns de seus pontos de vista são tidos como radicais demais, mesmo por nacionalistas. Embora tenha servido como conselheiro de vários políticos, Dugin nunca teve o apoio oficial do Kremlin. Em 2014, foi demitido de seu emprego na Universidade Estadual de Moscou, depois que os críticos interpretaram seu apelo para “matar, matar, matar” aqueles por trás dos massacres na Ucrânia, como um apelo ao genocídio dos ucranianos.
Dois homens próximos a Mikhail Gorbachev, o último dirigente soviético, cunharam as bases para Dugin. O reformista Evgeny Ambarzumov introduziu o conceito de “exterior próximo”, o entorno que se tornou independente quando a União Soviética foi dissolvida em 1991 e sobre o qual a Rússia deveria manter sua tutela.
E, acima de tudo, o ex-primeiro-ministro Evgeny Primakov, cuja estátua está hoje em frente ao Ministério das Relações Exteriores em Moscou, criador do conceito de “multipolaridade”, que serviria como um antídoto para a unipolaridade, o monopólio americano de poder em escala mundial. Putin o utilizou em seu famoso discurso de 2007, na Conferência de Segurança de Munique, baseando-se na emergência econômica de países não alinhados aos Estados Unidos. Agora, sobre essa plataforma, ele elabora seu projeto de poder.