Crivella e Rafael Alves eram protagonistas de esquema de corrupção

Além de indicar o irmão, Marcelo Alves, para a RioTur, empresário interferia em outras decisões do governo

O prefeito do Rio está envolvido em esquema, segundo a Justiça
Foto: Reprodução
O prefeito do Rio está envolvido em esquema, segundo a Justiça


Detalhes da investigação sobre corrupção na prefeitura do Rio revelam a relação estreita entre Marcelo Crivella e Rafael Alves . De acordo com a Justiça, os dois protagonizavam o esquema, mas o prefeito era subserviente ao empresário. As informações são do RJ2.


Alves é irmão do ex-presidente da Riotur, Marcelo Alves, e teria indicado o irmão para o cargo. O empresário é o dono do celular para qual o prefeito supostamente ligou durante uma operação da polícia, no dia 10 de março, mas a ligação foi atendida por um delegado .

Contudo, elementos da investigação mostram que o poder de Rafael Alves vai muito além do setor de turismo e que ele e Crivella seriam os protagonistas de um esquema de corrupção montado na prefeitura.

Rafael não tem cargo em nenhum órgão ligado à prefeitura do Rio, ele também não é funcionário terceirizado, mas investigações do Ministério Público revelam que ele " manda muito ".

No despacho da desembargadora Rosa Helena Guita, que determinou a operação desta quinta-feira (10), de busca e apreensão, uma frase traduz o poder de Rafael Alves sobre o prefeito Crivella: "A subserviência do prefeito a Rafael Alves é assustadora".

Ligação de Crivella durante operação

Há seis meses, o Ministério Público estadual e a Polícia Civil realizavam a primeira fase da Operação Hades . Na casa de Rafael Alves celulares foram apreendidos. Um deles tocou, nas mãos do delegado Clemente Braune, que atendeu a chamada. Em um documento, o delegado reproduziu as palavras de Crivella.

"Alô, bom dia, Rafael. Está tendo uma busca e apreensão na Riotur ? Você está sabendo?"

E o delegado responde:

"Sim, estou ciente. É uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro."

O delegado disse que, ao perceber que não era Rafael Alves, o prefeito encerrou a chamada imediatamente.

Segundo a decisão judicial, que determinou a operação desta quinta-feira, na análise do conteúdo dos telefones celulares de Rafael, apurou-se que o prefeito figura como um de seus mais frequentes interlocutores .

Num dos aparelhos telefônicos apreendidos havia 1.949 mensagens trocadas entre eles, muitas delas contendo linguagem cifrada, deixando transparecer que seu conteúdo não poderia ser tratado por meios de comunicação convencionais.

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Segundo os investigadores, a ascendência de Rafael sobre o prefeito Crivella chega ao ponto de ele exigir, incisivamente, ser ouvido, antes da tomada de qualquer decisão .

A investigação mostra ainda que o empresário interfere na escolha de empresas para prestar serviços aos mais diversos setores da administração e aponta pessoas para ocupar cargos-chave. Numa troca de mensagens com o prefeito, Rafael disse:”deixei pro senhor uma indicação - presidência Prevrio”.

Retorno financeiro

Rafael tem voz ativa dentro do governo municipal a ponto de exigir a anulação de atos administrativos, como se o prefeito fosse seu subordinado. Segundo a decisão da justiça, o empresário tratou a campanha eleitoral de Crivella como uma banca de negócios visando retorno financeiro

Em uma outra troca de mensagens, Rafael afirmou: "Não quero cargo nem status, quero retorno do que está sendo investido". Diz o documento da justiça que Rafael Alves é notório no seio do grupo criminoso, tanto que é conhecido como "Trump", uma referência ao presidente americano.

No documento, há reproduções também de conversas entre Rafael e o doleiro Sérgio Mizrhaiz, delator do esquema . Em uma conversa, Rafael avisa que precisa passar no Península: "na casa do chefe pra deixar um lance lá".

O lance ao qual Rafael se refere, segundo o MP, é dinheiro em espécie . Península é o condomínio onde mora o prefeito.

De acordo com a investigação, certa vez, Rafael Alves reclamou diretamente com Sergio Mizrah sobre a demora pelo recebimento de uma quantia e, por mensagem, falou: “Aquela situação seria um “vacilo” e que era “parada” para o zero um”, em expressa alusão ao atual prefeito.

Crise entre Rafael e Crivella

O documento do MP também registra crises na relação entre Crivella e Rafael Alves. Rafael usa com Crivella termos como: "covardia", "falta de palavra comigo eu não vou aceitar". E se irrita com a possibilidade de o irmão deixar a presidência da Riotur, o que aconteceu depois da primeira fase da operação.

Entre os momentos tensos entre os dois, ele fala: "É um falso de duas caras que na frente é uma coisa e por trás é outra". E, em letras maiúsculas, que na linguagem da internet significa grito, Rafael escreve: "Eu não aceito isso. Não aceito falta de palavra comigo. Fui leal até aqui."

Para o Ministério Público, o conteúdo das mensagens é perturbador , postura típica de quem tem conhecimento de fatos que, caso tornados públicos, podem causar prejuízos irreparáveis a seu interlocutor, no caso, o prefeito Crivella.

Os promotores são enfáticos em dizer que as provas obtidas a partir das buscas e apreensões confirmam as suspeitas iniciais e revelam a efetiva participação e o protagonismo de Crivella no gigantesco esquema de corrupção, peculato, fraude a licitação e lavagem de dinheiro instalado no município do Rio.

A defesa de Rafael Alves informou que ele refuta as acusações . E disse que tenta, há mais de nove meses, prestar esclarecimentos ao Ministério Público, mas não teve essa oportunidade.

O prefeito Marcelo Crivella voltou a afirmar que já havia colocado à disposição os sigilos bancário, telefônico e fiscal, que estranhou a operação de busca e apreensão, considerando que estamos em período eleitoral, que a ação é injustificada, e que ele não é réu nesta ou em qualquer outra ação.