Covid-19: mais de 100 médicos são transferidos para hospital de campanha do Rio

O governo municipal decidiu transferir 109 médicos de suas unidades para conseguir abrir mais vagas no seu único hospital de campanha

A escalada da Covid-19 tem exposto a dificuldade da prefeitura de contratar profissionais de saúde. Na tentativa de superar o problema, o governo municipal decidiu transferir 109 médicos de suas unidades para conseguir abrir mais vagas no seu único hospital de campanha, no Riocentro . De acordo com a medida publicada ontem no Diário Oficial, esses concursados terão que cumprir metade da carga horária de 24 horas semanais na nova instalação. O Riocentro foi inaugurado na sexta-feira com apenas parte dos 500 leitos previstos. Ontem, havia 138 pacientes internados.

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O hospital de campanha do Riocentro
Foto: Marcos de Paula/Prefeitura do Rio
O hospital de campanha do Riocentro

A abertura de novas vagas é crucial para salvar as vidas de doentes em estado grave. Ontem, 315 pessoas com sintomas da Covid-19 estavam na fila por uma vaga em CTI. Para o Riocentro , a empresa pública Rio Saúde tinha aberto vagas para 500 médicos, mas só 126 tinham se apresentado até semana passada. Além da falta de equipes, a prefeitura enfrenta ainda problemas para receber os respiradores que foram comprados da China . São 300 equipamentos que só devem chegar na próxima semana.

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Os médicos convocados vão sair de grandes hospitais de emergência da prefeitura: Lourenço Jorge, na Barra; Souza Aguiar, no Centro; Salgado Filho, no Méier; e Miguel Couto, na Gávea. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Alexandre Telles, criticou a estratégia da prefeitura. Segundo ele, os hospitais municipais já sofrem com equipes desfalcadas. Para Telles, os médicos que permanecerem nas unidades vão ficar sobrecarregados:

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"Em nenhum hospital da administração direta, sobram médicos. Estamos cobrindo um lugar para descobrir outro. Temos que juntar todos os esforços por causa da pandemia, mas continuamos tendo outros pacientes, como os cardíacos".

Transferência obrigatória

Sem se identificar, um dos médicos transferidos contou que não foi consultado sobre a mudança. Ele disse que faz parte do grupo de risco da doença, assim como outros que foram atingidos pela medida da prefeitura:

"Não foi uma escolha. Os médicos foram convocados de forma aleatória. Não consultaram se havia interesse ou até condições físicas para fazer esse tipo de atendimento", afirmou.

No Lourenço Jorge, que fica a menos de cinco quilômetros do Riocentro, por exemplo, há 27 leitos fechados por falta de técnicos de enfermagem. Desses, nove ficam em unidade de média complexidade, que poderiam ser transformados em leitos de CTI, caso recebessem respiradores.

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Em nota, a prefeitura explicou que os médicos transferidos estavam com a carga de trabalho reduzida devido à suspensão de cirurgias eletivas e à redução dos casos de traumas — o número de acidentes de trânsito caiu durante a pandemia de Covid-19 . Destacou ainda que a medida é provisória e que “a principal missão do médico é salvar vidas”. O texto afirma que a direção dos hospitais não está incluindo na lista profissionais com mais de 60 anos ou com doenças preexistentes.