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Presidente francês diz que saída sem acordo da União Europeia será por culpa do próprio Reino Unido; nesta quinta-feira ele se encontra com o premier britânico, Boris Johnson, em Paris

BERLIM E PARIS — O presidente francês , Emmanuel Macron, fez uma das declarações mais duras de dirigentes europeus sobre a cada vez mais provável saída do Reino Unido da União Europeia sem um acordo de transição com o bloco.

Para ele, os britânicos serão os maiores culpados e prejudicados por um chamado "Brexit duro ", e um consequente alinhamento total aos EUA seria ao custo de "uma vassalagem histórica do Reino Unido ". 

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  "O custo para o Reino Unido de um Brexit sem acordo, porque os britânicos serão as principais vítimas, pode ser amenizado pelos EUA? Não. E, mesmo se fosse uma escolha estratégica, seria ao custo de uma vassalagem histórica do Reino Unido", disse o presidente francês.

"Não acho que seja o que (premier britânico) Boris Johnson quer. Não acho que seja o que o povo britânico quer", completou, referindo-se à expectativa dos defensores do Brexit de um acordo de livre comércio entre Londres e Washington.

Ele ainda criticou os argumentos dos defensores do Brexit, dizendo que a saída do bloco não tornará o país mais forte.

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"Os britânicos possuem uma imagem de grande potência, integrantes do Conselho de Segurança. O ponto não pode ser sair da Europa e dizer "seremos mais fortes" mas, no final, se tornar um parceiro júnior dos EUA.

As palavras de Macron vieram logo depois de um encontro entre o premier britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel , em Berlim. Apesar de um protesto nos portões da sede do governo, aos gritos de “ parem o Brexit ”, o tom da reunião foi visto como positivo por Londres.

A cerca de dez semanas do prazo dado por Johnson para uma saída " de qualquer maneira ", no dia 31 de outubro, ele reconheceu que o ônus de evitar o pior estava com o Reino Unido, recebendo de Merkel um sinal  positivo sobre aquele que parece ser o único ponto ainda em aberto para os dois lados: a situação da fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda , que será, depois do Brexit, a única divisa terrestre entre o Reino Unido e a UE.

Hoje não há controles na fronteira, como determinou o Acordo da Sexta-Feira Santa, que em 1998 pôs fim ao conflito entre os norte-irlandeses favoráveis a permanecer no Reino Unido e os que defendiam a unificação da Irlanda. Um Brexit sem acordo pode significar o retorno de barreiras físicas ao trânsito de pessoas e produtos.

Como a Irlanda permanecerá na União Europeia, os líderes do bloco negociaram com a ex-premier Theresa May uma cláusula em que o Reino Unido permaneceria em uma união aduaneira com a UE em um período de transição até 2021. Boris Johnson é contrário à ideia, dizendo que isso manteria o Reino Unido “ligado à União Europeia”, o que “não é democrático”, dado que os britânicos votaram pela saída do bloco no referendo de 2016. 

30 dias

Na reunião desta quarta-feira, a chanceler alemã disse que daria mais tempo para uma solução viável para a questão irlandesa, um dia depois de o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, dizer que os britânicos não apresentaram qualquer " alternativa realista ".

"Nós dissemos que provavelmente conseguiremos achar uma solução em dois anos. Mas também podemos achar uma nos próximos 30 dias, por que não?"

Johnson se comprometeu a trabalhar em uma saída.

"Você (Merkel) aceitou um prazo de 30 dias, se entendi corretamente, estou mais que satisfeito com isso."

Logo depois da entrevista coletiva dos dois líderes, Macron disse que as demandas do premier britânico “ não eram negociáveis ”, se referindo diretamente à questão da Irlanda. Ele ainda afirmou que os efeitos de uma saída sem acordo seriam "culpa dos próprios britânicos". Johnson e Macron se encontrarão nesta quinta-feira, em Paris. Segundo funcionários do governo, Paris já considera o cenário de um "Brexit duro" como o mais provável . 

Esta hipótese é vista com extrema preocupação não apenas pelos governos europeus, mas também por dirigentes industriais, investidores e chefes de empresas multinacionais. O consenso é de que o impacto na economia regional será considerável, mas ainda difícil de estimar em números.