Atos antidemocráticos: embaixadores apostam em longa crise após 7 de setembro
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Atos antidemocráticos: embaixadores apostam em longa crise após 7 de setembro

As manifestações de 7 de Setembro foram observadas com atenção pelos diplomatas estrangeiros que atuam em Brasília . Embaixadores avaliam que a crise institucional está longe de acabar com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reforçando a narrativa contrária ao Supremo Tribunal Federal (STF). Representantes de diversos países trocaram mensagens neste feriado, reservadamente, para debater suas impressões sobre a situação política do Brasil.

O Globo conversou com alguns deles, entre embaixadores, chefes de representação e diplomatas graduados de nove países relevantes na relação externa brasileira, das Américas, da Europa, do Oriente Médio e da África, que pediram para não serem identificados. A avaliação dominante é de que a situação ainda é bastante preocupante, mesmo sem atos de violência ou ruptura formal institucional nesta terça-feira em Brasília. O tom da fala de Bolsonaro indica que a instabilidade deve seguir, o que pode prejudicar relações bilaterais e investimentos.

"Nenhum governo estrangeiro quer se envolver nesta questão, mas é claro que, para o Brasil e para as relações bilaterais o ideal é que o país saísse com um clima melhor deste dia, e não estamos vendo isso", afirmou um representante de um país europeu. "As incertezas sobre o Brasil vão continuar".

Um embaixador de um importante país americano afirmou que, após as manifestações, ficou mais claro que Bolsonaro segue com seu mesmo discurso de algumas semanas, sem força para dar um próximo passo. E que, assim, o ator que deve ditar o ritmo dos acontecimentos será o Judiciário:

"Bolsonaro já está se repetindo, com pequenas variações, é a sua fala de alguns dias. Ele estancou. Vamos ver como será a reação dos demais poderes, em especial do Judiciário. Esta é uma peculiaridade desta situação brasileira: diante de discursos tão fortes há poucas medidas práticas, na verdade, vira uma guerra de narrativas, mas que precisa de um desfecho", disse.

O embaixador de um outro país americano relevante comericalmente para o Brasil afirmou que chegou a "temer pelo pior", ou seja, uma invasão ao STF, quando manifestantes, na noite de segunda-feira, furaram o bloqueio da Polícia Militar do Distrito Federal e entraram na Esplanada dos Ministérios com caminhões e carros. Para ele, embora os discursos duros do presidente e de seus apoiadores contra o Judiciário sejam muito preocupantes, o simbolismo da invasão do prédio do STF poderia ter consequências drásticas.

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"Ainda está no mundo das palavras e das ameaças. É preocupante, mas a linha vermelha ainda não foi cruzada", afirmou um embaixador de um importante país do continente americano.

Outro diplomata, também sob sigilo, lembrou que as manifestações do 7 de Setembro em Brasília seguiram o script previsto por muitos analistas: um discurso duro, mas sem ruptura de fato. Entretanto, ele afirmou que o episódio, em sua avaliação, piora ainda mais as relações institucionais, indicando que a instabilidade deve prevalecer por longo tempo no Brasil.

Outros representantes já esperavam um desfecho sem ruptura. Um embaixador africano disse que não temia pelo pior, por considerar que parte do que se anunciava por integrantes do governo Bolsonaro se inseria mais em um contexto de propaganda, ou seja, era algo maior do que realmente foi. Outro diplomata, desta vez europeu, concorda com essa avaliação. Os preparativos demonstravam mais interesse do que temor propriamente dito.

O risco de violência nos atos gerou preocupação em diversos governo.s Algumas embaixadas, como a dos Estados Unidos e a de Angola, alertaram seus cidadãos sobre os riscos. Algumas representações europeias instruíram seus nacionais a não aparecerem na Esplanada dos Ministérios nesta terça-feira.

Em um comunicado, a embaixada angolana destacou a existência de indícios de confrontação e prováveis atos violentos" e, por isso, recomendava aos cidadãos do país a evitarem deslocamentos desnecessário. O governo americano fez o mesmo e orientou que todos evitassem ir a áreas de manifestações nas cidades brasileiras no dia 7 de setembro, sob o argumento de que mesmo os movimentos mais pacíficos poderiam ter confrontos.


Na manhã desta terça-feira, Antony Blinken, secretário de Estados dos EUA, publicou uma nota comemorando o aniversário da independência do Brasil. "Os Estados Unidos e o Brasil compartilham um relacionamento estratégico de longa data com forte cooperação em nossas prioridades compartilhadas de democracia regional, segurança e prosperidade, e nossos povos são unidos por laços familiares, acadêmicos e comerciais", disse o texto. " Estou confiante de que, trabalhando juntos, veremos um futuro melhor e uma parceria ainda mais forte entre nossas duas nações".

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