ACM Neto, presidente do DEM
Agência Brasil
ACM Neto, presidente do DEM

Ao analisar a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil, o presidente do partido DEM, ACM Neto, avalia que "é óbvia a contradição" entre o discurso de Jair Bolsonaro quando era candidato em 2018 e a postura que tem adotado como presidente da República.

"Houve no passado todo um discurso condenando partidos que, neste momento, se tornam essenciais para a sustentação do governo. Ele se rendeu ao pragmatismo político", afirma Neto ao GLOBO .

Para o dirigente do DEM, Bolsonaro decidiu reforçar a sua aliança com o Centrão para "criar bases para o projeto de reeleição em 2022". Cortejado por pré-candidatos a presidente, Neto diz que a prioridade da legenda neste momento é construir uma candidatura própria. Segundo ele, há dois nomes que despontam como opções no DEM: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Como o senhor avalia a caminhada de Bolsonaro cada vez mais rumo ao Centrão, grupo político que ele criticava duramente antes de se eleger?

É óbvio que há uma contradição do discurso do candidato de 2018 e a prática do presidente hoje. E o que justifica isso é o pragmatismo político que o presidente vem adotando nas suas decisões. Não há como não se evidenciar essa contradição entre discurso e prática. Eu, ACM Neto, nunca tratei nenhum partido com preconceito. Por que fica evidente a contradição do presidente? Porque houve no passado todo um discurso condenando partidos que, neste momento, se tornam essenciais para a sustentação do governo. Ele se rendeu ao pragmatismo político.

E qual o objetivo desse pragmatismo político de Bolsonaro?

(Risos) Desde manter uma maioria sólida no Congresso até criar bases para o projeto de reeleição em 2022.

O DEM descarta apoiar Bolsonaro em 2022?

Não tenho que descartar. Qualquer resposta minha tem que traduzir a maioria do partido. Começamos a discutir 2022, analisar pesquisas, avaliar a situação de cada estado. O DEM tem como prioridade tentar construir candidatura própria a presidente. Temos dois nomes que reúnem as melhores condições: Mandetta e Rodrigo Pacheco. Estamos dialogando com um conjunto de partidos sobre a possibilidade de construir um projeto comum. Será natural que até o fim do ano ainda tenhamos muitos nomes lembrados no tabuleiro. Vamos avaliar se é possível ou não construir articulação política mais ampla. A decisão desses partidos (da chamada terceira via) só deverá ser tomada em 2022.

O senhor acredita, então, na quebra da polarização entre Lula e Bolsonaro?

Para mim, o jogo não está jogado. As pesquisas de agora retratam mais o passado que o futuro. É natural que, faltando muito tempo para a eleição, as duas figuras com maior recall (mais conhecidas) pontuem na liderança das pesquisas. Chegará um momento em que o eleitor vai começar a se ligar no processo eleitoral. Quando entrar na agenda, vai parar e observar as outras opções colocadas.

O senhor pontuou diferenças em relação a Lula e Bolsonaro. Na sua opinião, qual foi o principal erro de Lula?

Teríamos que conversar uma tarde inteira sobre isso. Não enxergo apenas defeitos, mas, honestamente, acho que Lula, com virtudes e defeitos, faz parte de um Brasil que passou.

E qual foi o principal erro de Bolsonaro?

O maior erro do governo tem sido a condução da pandemia. Acho que o governo errou muito mais do que acertou. Desde uma postura de negação logo no início da Covid-19, passando por uma falta de articulação com estados e municípios para que houvesse enfrentamento conjunto desse terrível inimigo e chegando à falta de planejamento para vacinação.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que 'o povo vai reagir' se não for instaurado o voto impresso na eleição do ano que vem. Qual a sua opinião sobre essa ameaça?

Você viu?

Entendo que o sistema brasileiro com a urna eletrônica é um dos mais avançados do mundo. Não existe evidência concreta de fraude nas eleições. Nenhuma. Hoje, essa discussão transcende o debate partidário ou a disputa política. O que está em jogo é a defesa da democracia em si. A insegurança que poderíamos viver a partir de uma dúvida sobre o sistema eleitoral é algo que não contribui em nada com o país neste momento. O sistema atual já é auditável. Os candidatos e partidos precisam se organizar para acompanhar melhor cada passo desse processo.

O senhor teme que, em caso de derrota, Bolsonaro possa alegar que houve fraude?

Espero que não. Espero que o discurso dele seja resultado de uma convicção como muitos brasileiros têm, mas que, a meu ver, é equivocada. Não acredito que o presidente queira dar um golpe. A democracia brasileira passou por testes muito duros nos últimos anos como o impeachment da Dilma (Rousseff), turbulências no governo Temer, processo eleitoral atípico em 2018, Lava-Jato...E as instituições estão fortes. Graças a Deus, temos uma imprensa livre e que cumpre seu papel. Temos uma sociedade muito consciente. Não vejo nenhum risco à democracia ou de quebra institucional.

Qual o seu projeto político pessoal para o ano que vem?

Só tenho em mente uma alternativa: me preparar para disputar o governo da Bahia. Meu desejo é ser governador. Na Bahia tenho um conjunto de partidos que me acompanham desde 2012, quando me elegi prefeito. E ampliei isso em 2016 e em 2020 com a eleição do atual prefeito, Bruno (Reis). Na Bahia, temos quadro de polarização com o PT e parceria com PSDB, Republicanos, PSL , PL e PDT.


Há chance de o DEM se fundir com PP e PSL para a criação de um 'superpartido'?

Essa não é uma discussão no DEM. Nosso foco no momento é ter um bom desempenho na eleição do próximo ano ampliando a bancada na Câmara e no Senado, o número de governadores e, a depender, com consolidação de candidatura à presidência. O que surgiu em relação ao 'superpartido' é fruto de especulação.

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