Presidente da Argentina, Mauricio Macri, se reuniu com presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (16)
José Cruz/Agência Brasil
Presidente da Argentina, Mauricio Macri, se reuniu com presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (16)

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) recebeu o presidente da Argentina, Maurício Macri, e sua delegação formada por cinco ministros de estado argentinos nesta quarta-feira (16), em Brasília (DF). Esta foi a primeira visita oficial de um chefe de estado ao Brasil desde que o novo governo tomou posse em 1º de janeiro, já que a reunião de Bolsonaro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aconteceu ainda no ano passado, durante o governo de transição.

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Em pronunciamentos oficiais realizados lado a lado no Palácio do Planalto após a reunião, Bolsonaro e Macri fizeram discursos convergentes e mostraram-se alinhados. Enquanto o presidente brasileiro destacou a vontade de ter um Mercosul "mais enxuto", o presidente argentino destacou a preocupação com o regime do "ditador" Nicolás Maduro a frente da Venezuela, país suspenso do bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a declarar para uma jornalista argentina que o Mercosul "não será prioridade" no governo Bolsonaro e prometer que o País faria comércio com todo o mundo após ter ficado "prisionaeiro de alianças ideológicas" logo após a vitória nas eleições 2018, a reunião era aguardada com tensão e ansiedade pelos integrantes do governo argentino.

Para tentar reverter o clima, antes mesmo do encontro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez questão de colocar panos quentes na polêmica ao declarar que a Argentina é um dos principais parceiros políticos e econômicos do Brasil e as relações bilaterais são estratégicas e têm "fundamental importância" para o País.

Já Bolsonaro, momentos antes da reunião com Macri, também publicou uma mensagem através da sua conta oficial no Twitter na qual destacava a oportunidade de "reforçar os laços de amizade com essa nação irmã!".

Bolsonaro destaca necessidade de "enxugar" o Mercosul

Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo adotaram discurso semelhante em relação ao Mercosul e à relação bilateral com a Argentina, mas diferente do adotado por Paulo Guedes
Rafael Carvalho/Governo de Transição
Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo adotaram discurso semelhante em relação ao Mercosul e à relação bilateral com a Argentina, mas diferente do adotado por Paulo Guedes

Após a reunião, Bolsonaro reforçou o tom adotado pelo chefe do Itamaraty e por ele mesmo ao afirmar que "o propósito é construir um Mercosul enxuto, que continue a fazer sentido e ter relevância". O presidente brasileiro disse que é necessário aperfeiçoar o bloco e que ele e Maurício Macri concordaram "quanto a importância de, com Paraguai e Uruguai, a aperfeiçoar o bloco e propor nova agenda de trabalho, sempre com sentido de urgência", disse.

Em outro momento do pronunciamento, Bolsonaro também disse que "no plano interno, o Mercosul precisa valorizar sua tradição original: abertura comercial, redução de barreiras e eliminação de burocracias".

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Já sobre a relação com a Argentina em si, o presidente brasileiro disse que o Brasil "preza muito pela relação de amizade e cooperação" que mantem com o governo e com o povo argentino. "Essa é uma relação que queremos e trabalharemos para fortalecer sempre mais", disse em recado bastante diferente do enviado por Paulo Guedes meses antes.

"Falamos com franqueza como deve ser entre amigos e parceiros, sem qualquer viés ideológico. Não há tabus na relação bilateral, o que nós move é a busca por resultados concretos", afirmou Bolsonaro antes de abordar também a crise na Venezuela , como era prometido.

Bolsonaro e Macri condenam "ditador venezuelano" Nicolás Maduro

Nicolás Maduro tomou posse para novo mandato de seis anos como presidente da Venezuela, mas não é reconhecido como chefe de estado por Bolsonaro e Macri que classificaram ele como ditador
Twitter/ @NicolasMaduro
Nicolás Maduro tomou posse para novo mandato de seis anos como presidente da Venezuela, mas não é reconhecido como chefe de estado por Bolsonaro e Macri que classificaram ele como ditador

Na esteira da posse presidencial de Nicolás Maduro realizada na semana passada para um novo mandato de seis anos à frente do país vizinho, Bolsonaro também declarou que "nossa cooperação [entre Brasil e Argentina] na questão da Venezuela é o exemplo mais claro do momento. As conversas de hoje com o presidente Macri só fazem reforçar minha convicção de que o relacionamento entre Brasil e Argentina seguirá avançando no rumo certo: o rumo da democracia, da liberdade e segurança e do desenvolvimento".

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Brasil e Argentina são integrantes do Grupo de Lima que, assim como vários países da comunidade internacional, declarou não reconhecer as eleições presidenciais venezuelanas realizadas em maio do ano passado e, portanto, não reconhecer Maduro como presidente do país.

Já o presidente argentino, Maurício Macri, usou um tom ainda mais alto para abordar a crise venezuelana. Segundo ele, os governos brasileiro e argentino não aceitam as eleições do país vizinho que ele classificou como "escárnio com a democracia". Na sequência Macri disse também que a comunidade internacional já percebeu que o líder venezuelano é um "ditador que quer se perpetuar no poder com eleições fictícias".

O argentino afirmou ainda que os dois principais países da América do Sul reconhecem apenas a Assembleia Nacional da Venezuela - parlamento comandado pela oposição ao regime bolivariano - como única instituição legítima do país vizinho, "eleita democraticamente pelo povo venezuelano".

"Compartilhamos a preocupação pelos venezuelanos. Reafirmamos nossa condenação à ditadura de Nicolás Maduro. Não aceitamos esse escárnio com a democracia, e menos ainda a tentativa de vitimização de quem na verdade é o algoz", discursou Macri em pronunciamento conjunto com Bolsonaro no Palácio do Planalto.

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Liderados por Bolsonaro e Macri , os dois países atuam em consonância com a Organização dos Estados Americanos (OEA) pela implementação de medidas de transição democrática no país vizinho. Recentemente ambos também rechaçaram a prisão do presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela, Juan Guaidó, um dos principais líderes oposicionistas que se declarou presidente interino da Venezuela enquanto classificava Maduro como um "usurpador" da presidência, aumentando ainda mais a crise institucional da Venezuela.

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