Para ex-líder do PSDB na Câmara, Bruno Covas se diferencia de Doria por estilo
Heloisa Ballarini/Secom - 1.11.17
Para ex-líder do PSDB na Câmara, Bruno Covas se diferencia de Doria por estilo "mais cauteloso"

“São Paulo não perde um gestor. Ganha dois.” Foi com esse discurso que João Doria, escolhido por mais de 3 milhões de eleitores para ser o prefeito da capital paulista, confirmou que deixaria o cargo após 15 meses para disputar o governo do estado . Quem assume o comando da maior metrópole da América do Sul, já neste sábado (7), é o até então vice, Bruno Covas, o prefeito mais jovem que a cidade já teve desde a redemocratização.

Na última vez em que a capital paulista esteve sob a gestão de um representante da família Covas, a Prefeitura de São Paulo ainda estava sediada no Palácio das Indústrias, onde hoje funciona o Catavento Cultural. Mas gerenciar os problemas da cidade não é exatamente uma novidade para o neto do ex-prefeito e ex-governador Mário Covas, apesar da pouca idade de Bruno (38 anos, a serem completados justamente em seu primeiro dia como prefeito).

Durante a gestão Doria, Bruno Covas assumiu a prefeitura interinamente em ao menos 30 ocasiões devido à ausência do titular do cargo por conta de viagens para fora da cidade.

Nascido em Santos e torcedor do clube mais famoso de sua cidade (assim como Doria), Bruno é advogado formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP) e economista formado pela PUC.

Seu histórico escolar registra ainda passagem pelo Colégio Bandeirantes, tradicional escola da zona sul de São Paulo que carrega o mesmo nome do palácio onde Bruno morou com o avô durante seu governo, na década de 1990.

“O Bruno era muito encantado com as influências do avô”, lembra o hoje coordenador de Ciências da Natureza do Colégio Bandeirantes, José Ricardo Lemes de Almeida, que foi professor do tucano. “Ele sempre foi muito antenado e preocupado com os colegas. Tinha uma característica bastante agregadora e não era bagunceiro.”

Outra característica do novo prefeito, segundo João Doria ressaltou ao iG , é o seu “bom humor”. “Ele será um excelente prefeito. É jovem, competente, dedicado e tem vínculos com a cidade e com a vida de São Paulo. Bruno tem também outra característica que eu aprecio muito: ele tem bom humor. Ele consegue manter a sobriedade com bom humor a qualquer momento do dia ou da noite. Isso facilita muito o relacionamento e é por isso que ele é muito querido”, disse o agora candidato a governador.

O referido "bom humor" do novo prefeito, no entanto, foi abalado em novembro do ano passado. Na ocasião, Bruno foi alvo de ação civil movida pelo Ministério Público estadual, que pediu a perda do cargo público e a suspensão dos direitos políticos do tucano por conta de  irregularidades na contratação da empresa Dream Factory para a organização do carnaval de rua paulistano.

A promotoria alegou na ação que, conforme reportagem da rádio CBN , Bruno Covas passou orientações à Dream Factory sobre quais itens da planilha apresentada pela empresa deveriam ser alterados para que ela saísse vencedora do chamamento público. A prefeitura negou a existência de irregularidades na contratação.

Na Câmara, Bruno Covas defendeu impeachment e PEC do Teto de Gastos

Enquanto vice-prefeito, Bruno Covas entrou na onda de João Doria ao usar uniformes de servidores em ações da Prefeitura
Reprodução/Instagram
Enquanto vice-prefeito, Bruno Covas entrou na onda de João Doria ao usar uniformes de servidores em ações da Prefeitura

Em sua carreira política, Bruno foi deputado estadual e secretário do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin –  outro tucano que deixou seu cargo nessa sexta-feira (6) para tentar voos mais altos: a Presidência da República.

Bruno também foi deputado federal, eleito em 2014 com mais de 350 mil votos, sendo o quarto mais bem votado do estado. Na Câmara, o tucano votou a favor do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e também apoiou a PEC que impôs um teto de gastos públicos para os próximos 20 anos, proposta do governo Michel Temer (MDB).

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“A carreira política do Bruno vai bem. Ele tem todas as prerrogativas e condições para assumir a cidade", analisa o deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que foi o líder da bancada tucana no período em que Bruno esteve por lá. “O Bruno tem um estilo próprio, mais cauteloso que o Doria. Ele tem uma atenção fantástica”, continua.

'Baladeiro' e amparado pelo exemplo de Macron na França

Morador da Barra Funda, na zona oeste paulistana, o novo prefeito é frequentador do parque do Ibirapuera e passou a ser adepto de dieta e de exercícios físicos regulares – combinação que o fez perder mais de 15 quilos. “Foi difícil, mas consegui”, comemorou o tucano em uma de suas postagens no Instagram (rede social que, por vezes, é palco de alguns bate-bocas do novo prefeito com opositores).

Bruno Covas por vezes é taxado como “baladeiro”, mas ele próprio não faz grande questão de mudar essa pecha: seu aniversário de 38 anos será comemorado neste sábado no Villa Country, a casa sertaneja mais badalada da cidade.

Questionado se a pouca idade e a inexperiência de Bruno em cargos no Executivo poderiam pesar contra ele à frente da prefeitura, Tripoli tomou como exemplo positivo o presidente da França, Emmanuel Macron (que tem 40 anos). “O sobrenome do Bruno e a sua idade só agregam. Se não fosse assim, não veríamos hoje o Macron na França. O Bruno tem história”, disse o deputado.

Quanto à influência do sobrenome Covas na carreira e no futuro de Bruno, quem comenta é o vereador e tio do novo prefeito, Mário Covas Neto, filho do ex-governador.

Recém-desgarrado do PSDB para se filiar ao Podemos, o parlamentar disse que a memória de seu pai – que morreu em 2001 em decorrência de um câncer – aumenta a responsabilidade sobre ele próprio e sobre o seu sobrinho.

“A questão de ter essa ligação de sangue não te faz mais ou menos próximo de uma liderança política como o meu pai. Podemos até dizer que o Alckmin é o herdeiro político do Mário Covas. Mas é óbvio que somos muito identificados e isso nos traz maior responsabilidade. Meu pai deixou uma marca muito positiva mesmo num país onde políticos são vistos com muita resistência. Para mim e para o Bruno, a responsabilidade é de ser fiel a essa memória e procurar não cometer equívocos para não manchá-la", comentou o vereador.

Bruno Covas enquanto deputado federal: tucano perdeu mais de 15 quilos e mudou visual após rotina de exercícios
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Bruno Covas enquanto deputado federal: tucano perdeu mais de 15 quilos e mudou visual após rotina de exercícios

Apesar de se dizer "distanciado politicamente" do sobrinho, Mário Covas Neto se mostra otimista em relação à nova gestão na capital paulista uma vez que João Doria, em seu entendimento, tem um estilo de "dono da empresa" que não é bom.

"O Bruno é jovem, mas não é novidade. Não acho que ele seja inexperiente. Ele vem de uma família de políticos e, até por isso, a atuação dele é muito mais de negociação, de fazer as ações com conversas e articulação. O Doria atua em uma linha muito de quem é o 'dono da empresa'. Na relação pública, a imposição não é o melhor caminho. Vide o caso da reforma da Previdência Municipal", comentou o vereador, mencionando um dos principais desafios que Bruno Covas herda de Doria.

O projeto que pretende aumentar a alíquota de contribuição previdenciária para servidores municipais gerou protestos de professores em frente à Câmara no mês passado, situação que levou o presidente da Casa, vereador Milton Leite (DEM), a adiar sua votação em 120 dias.

“Eu imagino e espero que o Bruno tenha um trato bem diferente do que o Doria teve. É preciso mexer na Previdência, isso é claro. Mas, do jeito que o governo propôs, não satisfaz aos funcionários e isso só mudará com um político à frente da negociação. Com alguém acostumado a resolver as coisas por meio da imposição, não funciona mesmo", analisou Mário Covas Neto.

Bruno Covas terá cerca de 1.000 dias de gestão para promover a reforma da Previdência Municipal e concretizar outras promessas que João Doria deixou pelo caminho, como a de zerar a fila das creches na cidade e a de realizar uma série de concessões de equipamentos públicos à iniciativa privada. Serão 33 meses para o novo prefeito reescrever um dos lemas de seu antecessor e se provar tanto político quanto gestor. 

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