Agência corrige asserção de Segovia sobre arquivamento de inquérito contra Temer

Reuters destacou que diretor-geral da PF "indicou", e não "afirmou", que deve recomendar arquivamento de investigação sobre propina ao presidente

Diretor-geral da Polícia Federal, delegado Fernando Segovia, cumprimenta o presidente Michel Temer
Foto: Marcos Corrêa/PR - 20.11.17
Diretor-geral da Polícia Federal, delegado Fernando Segovia, cumprimenta o presidente Michel Temer

O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, "indicou" que deve recomendar o arquivamento de investigação contra o presidente Michel Temer, e não "afirmou" que vá fazer isso. A informação foi corrigida na noite desse sábado (10) pela agência de notícias Reuters , responsável pela entrevista publicada inicialmente na sexta-feira (9) .

Nomeado por Temer para a chefia da PF no fim do ano passado, Fernando Segovia disse à agência que as investigações não encontraram indícios de crimes supostamente cometidos pelo presidente ao editar o chamado Decreto dos Portos, que regulamenta os contratos do setor portuário.

Temer é suspeito de cometer crimes de corrupção e tráfico de influência mediante o recebimento de propina paga pela empresa Rodrimar, que opera o porto de Santos, ao ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures . O inquérito que investiga o caso no Supremo Tribunal Federal (STF) é o único processo contra o emedebista que está em andamento.

Segovia disse à Reuters que a empresa não foi beneficiada pelo decreto assinado por Temer em maio do ano passado. 

"Então, assim, os indícios são muito frágeis, na realidade, de que haja ou que houve algum tipo de influência realmente, porque em tese o decreto não foi feito para beneficiar aquela empresa”, disse. "Se houve corrupção ou ato de corrupção não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção”, completou o chefe da Polícia Federal.

O delegado afirmou que ainda há diligências a serem cumpridas no âmbito da investigação e disse acreditar que em até três meses a apuração será concluída. "Estamos fazendo nosso trabalho, que é a investigação criminal. Então tudo que for indício que possa reportar uma possibilidade que ache uma prova que sustente esse tipo de acusação a gente vai ter que checar. É muito mais uma checagem de tudo que a gente tem para que no final não dê um veredicto ‘olha checamos tudo e não tem nada’. ‘Ah, mas vocês checaram tudo mesmo?'. Sim, foi tudo verificado", afirmou Segovia.

Reações à entrevista do diretor-geral da PF

O relator do inquérito sobre o Decreto dos Portos no STF, ministro Luís Roberto Barroso,  intimou Segovia a dar explicações sobre suas declarações a respeito da investigação. O diretor-geral da Polícia Federal telefonou para Barroso ainda ontem para dizer que foi mal interpretado e para garantir que prestará esclarecimentos na quarta-feira (14) .

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF)  condenou as declarações de Segovia e alegou que esse comportamento pode "fragilizar os resultados" da investigação.

Caso Fernando Segovia confirme a tendência de sugerir o arquivamento da investigação, caberá à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, decidir se aceita a recomendação ou se pede novas diligências. A chefe do Ministério Público Federal (MPF) pode ainda optar por oferecer denúncia ao STF, a despeito da recomendação da Polícia Federal.