Apesar de ter sido condenado em primeira instância pela Lava Jato, Lula ainda demonstra força nas urnas
Ricardo Stuckert - 13.9.17
Apesar de ter sido condenado em primeira instância pela Lava Jato, Lula ainda demonstra força nas urnas

Pesquisa CNT/MDA divulgada nesta terça-feira (19) revela que, mesmo após ser condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro em processo decorrente da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as intenções de voto para a corrida presidencial do ano que vem em todos os cenários nos quais participa.

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De acordo com a pesquisa , realizada entre os dias 13 e 16 de setembro, nas intenções de voto espontâneas – situação em que o entrevistador não apresenta nomes ao participante –, Lula é o preferido de 20,2% dos entrevistados. Atrás do petista estão o deputado Jair Bolsonaro (PEN-RJ), com 10,9%; o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), com 2,4%; a ex-senadora Marina Silva (Rede), com 1,5%; e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com 1,2% - mesmo percentual do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Com 1% ou menos estão a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Na sondagem estimulada – em que o entrevistador apresenta os nomes em disputa –, Lula também obteve vantagem em relação aos seus concorrentes. No primeiro cenário para o primeiro turno, em que o candidato tucano é Aécio Neves, o ex-presidente alcançou 32,4% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro (19,8%), Marina (12,1%), Ciro (5,3%) e Aécio (3,2%). Brancos e nulos somam 21,9% e outros 5,3% estão indecisos.

O segundo cenário para o primeiro turno tem o tucano Geraldo Alckmin no lugar de Aécio. Nessa situação, Lula é o preferido de 32% dos entrevistados. Atrás dele estão Bolsonaro (19,4%), Marina (11,4%), Alckmin (8,7%) e Ciro (4,6%). Para 19%, a opção seria anular ou votar em branco, enquanto 4,9% estão indecisos.

Já o terceiro cenário para o primeiro turno simula a participação de João Doria no pleito. O prefeito de São Paulo é o mais bem colocado entre os pré-candidatos tucanos, mas, assim como Alckmin, também ficaria em quarto lugar se a eleição fosse hoje. Nesse cenário, Lula tem 32,7% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro (18,4%), Marina (12%), Doria (9,4%) e Ciro (5,2%). Votos brancos e nulos somam 17,6% e 4,7% dos entrevistados declararam estar indecisos.

Segundo turno

Assim como no primeiro turno, Lula venceria todos os seus adversários no segundo turno. Contra Aécio, o petista teria 41,8% das intenções de voto, enquanto o tucano teria 14,8%. Contra Alckmin, a vitória do ex-presidente seria por 40,6% a 23,2%. Já em eventual disputa contra Doria, Lula tem 41,6% das intenções de voto, enquanto o tucano é preferido por 25,2% dos eleitores – novamente o nome mais competitivo do PSDB no pleito.

O deputado Jair Bolsonaro, por sua vez, seria derrotado no segundo se disputasse contra Lula. No primeiro cenário, o ex-presidente teria 40,5% dos votos, contra 28,5% de Bolsonaro. Na disputa com Marina, há um empate técnico, considerando que a margem de erro é de 2,2 pontos: a ex-petista receberia 29,2% dos sufrágios, enquanto o parlamentar ficaria com 27,9%. Nos demais cenários, contra Alckmin, Aécio ou Doria, Bolsonaro seria o vencedor.

De acordo com o levantamento CNT/MDA, nenhum tucano seria capaz de ganhar a eleição presidencial do ano que vem no segundo turno.

Ausência de Lula

A sondagem feita pela CNT/MDA não fez simulações de como seria a eleição sem a participação do ex-presidente Lula, que pode ser impedido pela Justiça de concorrer ao pleito caso seja condenado em segunda instância no processo envolvendo um apartamento tríplex no Guarujá (SP). Não há prazo para que os desembargadores do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) emitam a decisão sobre o caso.

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Em julho, em entrevista ao jornalista Antero Greco no canal Ultrajano, no YouTube, Lula citou o nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como um dos possíveis candidatos do PT caso a condenação seja confirmada em segunda instância. “Eu já me reuni com o Haddad e falei: ‘Companheiro Haddad, é o seguinte: você tem que botar o pé na estrada e falar da Educação, falar do que você fez na Educação.’ Nós quintuplicamos o orçamento da Educação. Nós colocamos filho de pedreiro para ser engenheiro, filho de empregada doméstica para ser médico”, afirmou Lula. Haddad foi ministro da Educação entre 2005 e 2012 e perdeu no primeiro turno a eleição para prefeito de São Paulo em 2016 para João Doria.

‘Recall’

O cientista social Rodrigo Augusto Prando, professor de Sociologia da Universidade Mackenzie, avalia que, no caso de Lula permanecer na disputa, irá perder força no decorrer da campanha. “Se ele for candidato, o que eu duvido, terá de responder no mesmo tom que ele fala. Os adversários vão bater pesado por causa do envolvimento com a Lava Jato”, comenta.

Na opinião de Prando, o fato de Lula ocupar a primeira colocação em todos os cenários reflete o chamado ‘recall’, que é quando o candidato é lembrado pelos eleitores por já ter participado de diversos pleitos anteriores. “O Lula é concorrente desde 1989. Portanto, no ano que vem, se ele se candidatar, o que eu acho pouco provável, serão praticamente 29 anos concorrendo à Presidência da República. Ele é sem sombra de dúvida o candidato com maior ‘recall’, ou seja, o maior conhecimento de quem ele é. Isso sempre vai coloca-lo nessa condição”, acrescenta.

Desde 1989, Lula disputou cinco eleições, sendo que perdeu três e ganhou duas. Prando destaca que, em 2010 e 2014, ele não foi candidato, mas esteve no palanque de Dilma Rousseff, que foi eleita e reeleita nos pleitos citados, respectivamente. “Portanto, mesmo não tendo sido candidato, esta será a oitava eleição seguida em que Lula estará no palanque”, ressalta.

Em relação a Bolsonaro, o especialista destaca que o parlamentar tem se destacado no “espectro do anti-Lula”. Para o professor, assim como Lula, Bolsonaro também deverá ser alvo de ataques por parte dos concorrentes assim que a campanha começar, de fato. “Foi ele que verbalizou da melhor forma possível a insatisfação com a esquerda.”

O professor salienta ainda que uma candidatura de centro – seja mais à direita ou com tendência à esquerda – ainda não se consolidou. Ele destaca o potencial de João Doria, mesmo estando atrás dos líderes neste momento. “A situação dele repete o cenário de 2016, quando ele tinha pouca intenção de voto e acabou ganhando no primeiro turno.”

Rejeição

Aécio Neves é o candidato com maior índice de rejeição. Do total de entrevistados, 69,5% disseram que não votariam no tucano de jeito nenhum. Em seguida estão Ciro Gomes (54,8%), Geraldo Alckmin (52,3%), Marina Silva (51,5%), Lula (50,5%), Jair Bolsonaro (45,4%) e João Doria (42,9%).

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A pesquisa CNT/MDA foi realizada entre os dias 13 e 16 de setembro deste ano. Foram ouvidas 2.002 pessoas, em 137 municípios de 25 Unidades Federativas, das cinco regiões. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais com 95% de nível de confiança.

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